Bracarenses tentam travar hotel e lojas para antigo cinema S. Geraldo

Diocese de Braga, proprietária do espaço, quer transformá-lo num hotel e área comercial. Associações, arquitectos e partidos querem manter função cultural do equipamento

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A plataforma S. Geraldo Cultural vai promover debates públicos em torno da utilização do edifício MARCO DUARTE

Diferentes grupos de bracarenses querem que o antigo cinema S. Geraldo, fechado há cerca de 20 anos, mantenha uma função cultural. Rejeitam o projecto recentemente apresentado que prevê a sua transformação num hotel e numa área comercial. 

Este fim-de-semana foi criada a plataforma “S. Geraldo Cultural”, constituída por agentes culturais, que vai promover debates públicos sobre o futuro do equipamento. Arquitectos, associações de defesa do património e partidos políticos também estão a tomar posição sobre o assunto, tentando convencer a Diocese de Braga, proprietária do espaço, a travar a obra, com início previsto para Abril.

“A cidade precisa de um equipamento cultural como estes”, resume Luís Tarroso Gomes, presidente da associação Velha-a-Branca, que tem sido uma das vozes mais activas em defesa da manutenção do S. Geraldo com funções culturais. Tarroso Gomes lembra que todos os documentos de planeamento do município apontavam no mesmo sentido bem como a proposta vencedora do concurso de ideias para a Avenida da Liberdade lançado pela autarquia, que foi conhecida no início do ano. O dirigente associativo considera que o antigo cinema “é o tipo de espaço ideal para complementar a programação do Theatro Circo”, situado a escassos metros de distância.

Na sexta-feira, 25 agentes culturais, ligados a associações e projectos artísticos na cidade, reuniram para debater o futuro do S. Geraldo. “Surgiu a vontade de impedir que o espaço cultural seja demolido”, conta Luís Tarroso Gomes, um dos promotores do encontro. Na sequência desta reunião, foi criada a plataforma S. Geraldo Cultural, que vai promover debates públicos em torno da utilização do antigo cinema e pretende reunir com a Diocese de Braga, tentando sensibilizar os responsáveis da estrutura regional da Igreja Católica para a questão.

Nas últimas semanas têm sido várias as vozes que reclamam a necessidade de reabilitar o S. Geraldo, mantendo a sua ligação à cultura. Na semana passada, um grupo de cerca de 40 arquitectos, endereçou uma carta aberta ao Arcebispo de Braga, Jorge Ortiga, e ao presidente da Câmara, Ricardo Rio, sublinhando a “importância vital” do S. Geraldo como “espaço aberto à comunidade”. “Admitimos que o espaço necessita ser repensado e igualmente constatámos o potencial que possui como função educativa, cultural e social para a sociedade”, lê-se.

Também as associações de defesa do património ASPA e JovemCoop e ASPA tomaram posições públicas no mesmo sentido, sublinhando a importância histórica do equipamento. O cinema São Geraldo foi inaugurado em 1950 e foi a primeira sala de cinema de Braga, mas a sua história cultural remonta a 1924, quando no mesmo espaço funcionou o Salão Recreativo Bracarense, um cultural diversificado, que tinha orquestra residente, foi sede de diversas associações e recebia espectáculos de teatro e cinema.

O antigo cinema está encerrado há cerca de 20 anos. O projecto apresentado no início de Fevereiro prevê apenas a manutenção da fachada do edifício. No seu interior deverá surgir um hotel de 4 estrelas, com 35 quatros e 14 apartamentos T1, assim como uma área comercial, com uma praça de restauração coberta com espaço para mais de 20 restaurantes e lojas de artesanato e moda.
O PÚBLICO contactou a Diocese de Braga, tentando saber se, face à contestação, o projecto para o S. Geraldo pode ser repensado, mas não obteve uma resposta.  

Além dos movimentos cívicos, a contestação ao projecto para o S. Geraldo também está a mobilizar os partidos políticos. O Cidadania em Movimento, uma candidatura independente que concorreu às últimas eleições autárquicas em Braga e está representado na Assembleia Municipal, e a CDU criticaram a opção da Diocese, defendendo uma intervenção da Câmara para preservar o S. Geraldo e permitir mantê-lo com funções culturais.
O presidente da câmara defende, porém que a capacidade de intervenção do município estava limitada. “O volume de recursos necessários para adquirir, renovar e manter em funcionamento o S. Geraldo não se justificaria”, defende Ricardo Rio, apontando para valores na ordem dos cinco milhões de euros para uma eventual aquisição do antigo cinema. A câmara está neste momento em negociações com a Diocese para comprar o edifício contíguo ao S. Geraldo, conhecido como Pé Alado e o negócio deverá fazer-se por valores entre 1 e 1,5 milhões de euros.

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