Portugal recebeu quase dois milhões de toneladas de resíduos em 2014
Relatório Estado do Ambiente 2015 revela que Portugal recebe mais toneladas resíduos que os outros países e que portugueses produziram mais lixo em 2014, invertendo tendência de descida
Portugal recebeu quase dois milhões de toneladas de lixo não perigoso e 61 mil toneladas de resíduos perigosos, em 2014, mais do que o enviado para outros países para eliminação ou valorização, refere um relatório esta segunda-feira divulgado. "Em 2014, entraram em Portugal 61 mil toneladas de resíduos pertencentes à 'Lista Laranja' [resíduos perigosos ou para eliminação] e 1925 mil toneladas de resíduos incluídos na 'Lista Verde' [lixo não-perigoso enviado para operações de valorização]", refere o Relatório Estado do Ambiente 2015 (REA).
No mesmo período, saíram do país 57 mil toneladas de resíduos com procedimento de notificação, ou da 'Lista Laranja', e 919 mil toneladas com procedimento de informação, ou da 'Lista Verde'. Assim, feitas as contas, no total, foram transferidos (entradas e saídas) 2963 mil toneladas de resíduos perigosos e não perigosos.
"No balanço comercial, é de referir que Portugal recebe uma maior quantidade de resíduos do que aquela que exporta e os resíduos incluídos na 'Lista Laranja', que incluem os resíduos perigosos, representam uma minoria nos resíduos transferidos (3% dos resíduos que deram entrada e 6% dos que saíram)", realça o relatório.
Das 976 mil toneladas de resíduos que saíram do país, 83,5% foram para Espanha e 9,4% para a China. Ao contrário, das 1986 mil toneladas de resíduos que chegaram a Portugal, a maior parte não perigosos, 34% são provenientes do Reino Unido e 28% de Espanha. Praticamente todo o lixo chegado a Portugal (99,7%) destinou-se a operações de valorização e apenas cinco mil toneladas foram eliminadas.
A Agência Portuguesa do Ambiente explica que, dos resíduos incluídos na 'Lista Laranja' que chegaram ao país para valorização, 58% correspondem a combustíveis derivados de resíduos e 30% a outros combustíveis, principalmente destinados a valorização energética nas cimenteiras, vindos do Reino Unido, incluindo Gibraltar. Dos resíduos não perigosos chegados, 94% destinaram-se a operações de reciclagem para recuperação de metais, incluindo ligas e outras matérias inorgânicas.
Portugueses produziram mais lixo
Os portugueses produziram mais lixo em 2014, totalizando 4,5 milhões de toneladas, ou 1,24 quilogramas diários por habitante, e inverteram a tendência de descida registada desde 2010, revela ainda o mesmo relatório. Em 2014, a produção total de resíduos urbanos em Portugal continental foi de 4,5 milhões de toneladas, "o que corresponde a uma capitação anual de 452 quilogramas (habitante por ano), ou seja, uma produção diária de 1,24 quilogramas por habitante".
O trabalho da APA refere que aqueles números representam "um aumento de cerca de 2,5%, no total, e 3%, em capitação, em relação ao ano anterior, invertendo-se a tendência que se verificava desde 2010". Continua a ser a região de Lisboa e Vale do Tejo a produzir mais lixo (37% do total), seguida do norte (33%), mas são os habitantes do Algarve e Alentejo que apresentam maiores quantidades de resíduos por habitante, atingindo o primeiro 764 quilogramas por ano por habitante, mais 20 quilogramas que em 2013, e o segundo 562 quilogramas, mais 18 quilogramas.
Do total de resíduos urbanos, somente 13,6% resultaram de recolha selectiva, que aumentou ligeiramente na comparação com o ano anterior (era 13%), ou seja, atingiu 62 quilogramas anuais por habitante. É no Algarve que se regista a maior percentagem de recolha selectiva, com 23,3% do total de resíduos recolhidos. A quantidade de lixo depositado directamente em aterro tem descido, e em 2014 caiu 42% na comparação com 2010 e 1,4% na relação com 2013, refere a APA.
Tendência inversa seguiu o encaminhamento para tratamento mecânico e biológico (TMB) que "tem vindo a aumentar consistentemente", duplicando face à situação de 2010, e chegando aos 19% do total. Ao aterro e TMB juntam-se os restantes destinos para o lixo urbano - 19% do total foi para valorização energética, 9% para valorização material, 9% para tratamento mecânico e 2% para valorização orgânica.
Em 2014, foram depositadas em aterro 1,2 milhões de toneladas de resíduos urbanos biodegradáveis, o que representa uma ligeira redução (0,4%) na comparação com 2013.