Jovem assassinado no Algarve tinha fios eléctricos à volta do pescoço

PJ acredita que o companheiro da mãe foi o autor do homicídio e admite que a progenitora pode ter omitido factos que poderiam tornar o companheiro suspeito.

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A PJ acredita que Rodrigo foi morto pelo companheiro da mãe Filipe Farinha
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O corpo do rapaz de 15 anos que estava desaparecido desde a semana passada foi encontrado esta quarta-feira com fios eléctricos à volta do pescoço e as mãos e os pés atados, apurou o PÚBLICO. A polícia acredita que foi estrangulado. O jovem Rodrigo foi encontrado esta manhã num terreno perto da casa onde vivia com a mãe, Célia Barreto, o seu companheiro, e a bebé filha de ambos, em Portimão.

A Polícia Judiciária (PJ) acredita que o jovem terá sido morto pelo companheiro da mãe entre a casa onde vivia e o local onde o seu corpo foi encontrado, admitindo que o cadáver tenha permanecido esta semana e meia naquele terreno, sem que as buscas entretanto realizadas o tenham detectado. 

O corpo não estava enterrado, mas apenas camuflado com vegetação junto a uma árvore.

O suspeito é brasileiro e regressou ao Brasil no dia 22 de Fevereiro, o mesmo dia em que a mãe do rapaz deu o alerta do desaparecimento do menor. Ouvida várias vezes pela polícia, na qualidade de testemunha, a mãe do rapaz negou qualquer tipo de intervenção no crime. A mulher garantiu que o único episódio anormal de que se recorda naquela segunda-feira é de ter ouvido um barulho fora do habitual durante a parte da manhã, quando o filho deveria estar a sair para as aulas e o companheiro a preparar a viagem de regresso ao Brasil. Mas estava deitada e não se levantou. 

Mãe em liberdade
A médica legista que vai realizar a autópsia esteve esta quarta-feira no local onde o corpo foi encontrado a fazer o exame preliminar, confirmou ao PÚBLICO fonte oficial do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, que recusa adiantar elementos sobre o caso. "A autópsia vai realizar-se amanhã [quinta-feira] às 8h da manhã no gabinete médico-legal Hospital do Barlavento Algarvio, em Portimão", adianta o assessor de comunicação, Mário Martins.

Apesar de a análise ainda não ter sido realizada, a Polícia Judiciária já descartou as hipóteses de acidente ou suicídio. O papel da mãe do rapaz, que nos últimos dias se multiplicou em apelos, ainda não é totalmente claro. A PJ admite que a progenitora pode ter omitido factos que poderiam tornar o companheiro suspeito, mas, para já, nada parece indiciar que tenha tido alguma participação no crime.

Os investigadores acreditam ter desvendado o móbil do homicídio, que estará relacionado com um conflito entre o companheiro da mãe e o menor, cujos contornos ainda não estão totalmente esclarecidos. Nos últimos dias, enquanto procurava o rapaz, a PJ chegou a falar pelo telefone com o suspeito, que tentou desmontar a imagem de Rodrigo como um rapaz bem comportada, que nunca faltava às aulas.

O jovem faltou à escola na sexta-feira, dia 19 de Fevereiro, mas tudo indica que, de facto, só tenha desparecido na segunda-feira em que a mãe deu o alerta.

Rodrigo frequentava um curso profissional de cozinha na escola de Estômbar, em Lagoa, um município entre Silves e Portimão. Nesta quarta-feira, a mãe, Célia Barreto, desempregada, deixou a filha de seis meses ao colo da madrinha, para ir mais uma vez prestar esclarecimentos à PJ. Voltou a casa ao início da tarde para acompanhar parte das perícias realizadas naquela habitação, mas depois regressou à PJ de Portimão, de onde saiu ao fim da tarde em liberdade.

“Algo de misterioso”
“Há neste caso algo de misterioso”, alvitrava Vítor Caldeira, comercial, esta quarta-feira à tarde. Era um dos muitos populares que no sítio das Vendas (Portimão) — onde o casal vivia — vestia a pele de detective de ocasião. “Quando via as imagens da mãe do Rodrigo na televisão, estranhei a frieza”, observava Susana Neves, colega de turma do jovem. A mãe, Sónia Pequeno, repreendia: “Não digas isso, as pessoas não são todas iguais, cada qual reage à sua maneira.”

O casal vivia nesta localidade, numa casa alugada, há dez meses. O pai de Rodrigo, de quem a mãe se separou, vive em Estômbar. A perda do posto de trabalho na construção civil, relatam os vizinhos, agravou-lhe a dependência do álcool.

O rapaz percorria todos os dias cerca de seis quilómetros de bicicleta até apanhar o autocarro que o levava à escola. Na sexta-feira, dia 19, faltou às aulas. “Um colega recebeu uma mensagem do telefone dele a dizer que lhe doía a garganta”, conta Susana Neves, acrescentando que o amigo era um aluno atento e curioso. “Super interessado. Gostava muito de cozinhar”, relata.

A mãe deu o alerta público do desaparecimento do filho, no dia 22, pelas 18h, dizendo que tinha ligado às 16h30 (hora a que o filho deveria ter saído das aulas) e o telefone estava desligado. A partir daí a notícia correu pelas redes sociais, foram feitas buscas no perímetro envolvente à habitação, chegou a ser utilizado um helicóptero.

Nas televisões, entretanto, Célia Barreto fazia apelos para que o filho regressasse a casa. “Ele [o companheiro] queria levá-la para o Brasil, juntamente com a filha de ambos, mas ela não queria cá deixar o filho sozinho”, relata José Augusto, um vizinho reformado. Fala ainda de cenas de violência doméstica. “De vez em quando havia brigas entre eles, mesmo aqui na rua”, acrescenta. O rapaz, conta, “opunha-se ao padrasto”. A colega Susana Neves confirma: “O Rodrigo, às vezes, queixava-se do padrasto, mas ultimamente deixou de falar no assunto.”

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