Centros de Saúde do Alto Tâmega vão contar com novos médicos de clínica geral
Tutela pondera abrir concursos a curto prazo e acolhe a pretensão dos autarcas de colocar nestas unidades pediatras e psiquiatras a prestar cuidados de proximidade. “Esvaziamento” do Hospital de Chaves leva delegação de autarcas ao Ministério da Saúde.
Os profissionais de saúde na área da pediatria e da psiquiatria de Vila Real poderão passar a prestar cuidados de saúde em alguns concelhos do Alto Tâmega. A garantia foi deixada numa reunião recente que juntou os secretários de Estado da Saúde e um grupo de autarcas, na qual a tutela se terá comprometido a lançar concurso para a contratação de clínicos de medicina geral e familiar para os Centros de Saúde de Boticas, Ribeira de Pena, Montalegre e Valpaços.
“Não foi uma reunião reivindicativa. Foi uma reunião que pretendeu dar conta de uma preocupação que tem a ver com o esvaziamento da Unidade Hospitalar de Chaves, que tem condições óptimas, mas na qual o anterior Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro fechou um conjunto de valências por opções políticas, sem que nada o justificasse”, disse ao PÚBLICO Fernando Queiroga, presidente da Câmara de Boticas, a propósito da reunião pedida pela Comunidade Intermunicipal do Alto Tâmega (CIM-AT), da qual fazem parte as autarquias de Boticas, Chaves, Valpaços, Vila Pouca de Aguiar, Montalegre e Ribeira de Pena.
Segundo o autarca, há profissionais a prestar serviço na Unidade de Chaves na área da Nefrologia, por exemplo, mas que, para marcação de consultas, têm de se dirigir à unidade de Vila Real, o que implica a deslocação do médico e dos utentes para a realização dos actos médicos.
Dos seis concelhos, Ribeira de Pena e Boticas são os que apresentam um quadro mais preocupante no que toca à falta de médicos de Clínica Geral e Familiar. Os 1300 utentes do Centro de Saúde de Boticas estão há dois anos sem médico atribuído. Recentemente, foi colocado um médico nesta unidade pelo Agrupamento de Saúde do Alto Tâmega mas, ao fim de três meses, foi-se embora.
No caderno de encargos levado ao ministério, os autarcas consideram que a abertura de um concurso para seis médicos na região resolveria — a par com outras medidas — as insuficiências do sistema de saúde junto da população da região.
Quanto à proposta de levar até às unidades de saúde locais pediatras e psiquiatras, Fernando Queiroga destaca a importância destes cuidados que, na sua opinião, não requerem o uso de grandes equipamentos e que se revestem de importância para as populações locais, podendo servir até, segundo este, de incentivo para a natalidade. No protocolo que os autarcas da CIM-AT levaram, estes comprometem-se a assegurar o pagamento do transporte dos clínicos para os centros de saúde. “Se houver custos, as autarquias também cá estão para os suportar”, afirma o autarca.
Algumas destas questões relacionadas com o Hospital de Chaves foram afloradas a uma delegação de deputados do P, numa recente visita realizada àquela unidade hospitalar, no âmbito das jornadas parlamentares do partido. Luísa Salgueiro, coordenadora do grupo parlamentar do PS na comissão de saúde, corrobora o “desaproveitamento” daquele hospital e exemplifica-o com a inactividade de pelo menos duas alas que foram reservadas para quartos privados e que nunca chegaram a funcionar. Ao PÚBLICO, a deputada questiona esta decisão tomada pela anterior administração do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD), liderada na altura por Carlos Cadavez, e sugeriu ao recém-nomeado conselho de administração o aproveitamento daquele espaço para eventualmente instalar aí um serviço de cuidados continuados.
Carlos Cadavez refuta as críticas à sua gestão, concretamente em relação ao Hospital de Chaves, e diz que, em relação ao seu mandato, não retirou valências àquela unidade hospitalar. Em declarações ao PÚBLICO, o ex-administrador diz que tentou transformar essas alas numa unidade de cuidados paliativos, mas que este projecto não avançou porque a Comissão de Avaliação dos Cuidados Paliativos da Administração Regional de Saúde do Norte não permitiu a transformação porque esta implicava custos na ordem dos 150.000 euros. “O grande problema do Centro Hospitalar está na cabeça dos profissionais de saúde, autarcas e políticos, porque ninguém pensa no Centro Hospitalar como uma única unidade. A coisa mais simples é dizer que nós não gostamos ou que estamos incompatibilizados com o Hospital de Chaves, o Hospital de Lamego, mas o nosso problema era a falta de dinheiro”.
Na reunião com os dois secretários de Estado da Saúde, os autarcas defenderam a reactivação do serviço de Ortopedia, que já foi uma das especialidades de referência do hospital flaviense, considerando que, desta forma, se conseguem fixar médicos numa região onde é notória a falta de especialistas.