Guantánamo, último acto de Obama?
Para o prometido e adiado fecho da prisão em Cuba, Obama poderá recorrer a uma ordem executiva.
No dia seguinte à tomada de posse de Obama como Presidente, em Janeiro de 2009, escrevia-se no PÚBLICO: “Podem esperar-se várias ordens executivas, como a que ditará o fim de Guantánamo.” Ora Obama assinou então uma ordem executiva, é certo, mas a proibir o Exército, as agências de segurança e os serviços secretos de recorrerem a “técnicas agressivas de interrogatório” e outras práticas que pudessem ser equiparadas a tortura.
O fecho de Guantánamo, que tinha sido uma das suas promessas eleitorais em 2008, foi sendo adiado devido a repetidos bloqueios no Congresso. A tal ponto que, entre os “falhanços” dos dois mandatos de Obama, Guantánamo avulta com ruidosa presença. Um exemplo recente: a 22 de Julho de 2015, a Casa Branca anunciou que estava a ser finalizado o plano de encerramento da prisão, fecho esse que foi apresentado como “um interesse de segurança nacional”. Porém, nada sucedeu.
A prisão mantém-se em funcionamento, agora apenas com 91 detidos (chegou a ter quase 800). Ora, a um mês de visitar oficialmente Cuba (onde fica a prisão de Guantánamo, numa baía sob tutela perpétua dos EUA), Obama avança com nova proposta para fechar em definitivo a prisão, que custa anualmente ao erário público 445 milhões de dólares. Mas não é económica a razão do fecho, é política. E já virá tarde, como abundantemente se diz. Obama bate-se pelo fecho porque acha que os EUA têm de mostrar que são capazes de fechar este capítulo da sua história, ligado aos infames atentados do 11 de Setembro — os presos passarão para outras prisões ou serão deportados, acabando-se com a situação de excepção actual, a pretexto da luta antiterrorismo. Pelo contrário, os que resistem ao fecho de Guantánamo querem perpetuar um símbolo, ignorando que, com o tempo, ele passou a ser usado contra os EUA e não a seu favor. Resta saber se Obama conquista, desta vez, o Congresso, ou se recorrerá à tal ordem executiva.