Da Carolina do Sul saiu um grande vencedor, Trump, e um grande derrotado: a dinastia Bush
Primárias da Carolina do Sul mudam a campanha republicana, onde agora a dúvida é quem conseguirá desafiar o favoritismo de Trump. Jeb Bush sai da corrida, após mais um resultado humilhante.
A vitória do magnata do sector imobiliário, Donald Trump, nas eleições primárias da Carolina do Sul foi de tal forma avassaladora que já estava confirmada com apenas 1% dos votos contados. Os restantes pretendentes à nomeação republicana para a Casa Branca ainda tiveram de esperar largas horas para conhecer os seus resultados e respectivo lugar na tabela classificativa: os senadores Marco Rubio (Florida) e Ted Cruz (Texas) acabaram empatados, o que não os impediu de considerar o desfecho “extraordinário”.
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A vitória do magnata do sector imobiliário, Donald Trump, nas eleições primárias da Carolina do Sul foi de tal forma avassaladora que já estava confirmada com apenas 1% dos votos contados. Os restantes pretendentes à nomeação republicana para a Casa Branca ainda tiveram de esperar largas horas para conhecer os seus resultados e respectivo lugar na tabela classificativa: os senadores Marco Rubio (Florida) e Ted Cruz (Texas) acabaram empatados, o que não os impediu de considerar o desfecho “extraordinário”.
Igualmente extraordinária foi a derrota do antigo governador da Florida, Jeb Bush, que ao contrário dos seus adversários não esperou muito tempo para vir anunciar ao país a suspensão da sua candidatura. “Os eleitores do Iowa, do New Hampshire e da Carolina do Sul pronunciaram-se e respeito muito a sua decisão”, disse, expondo a magnitude do seu desaire político – em nenhum destes estados conseguiu melhor do que o quarto lugar.
A sua tentativa de prolongar a dinastia política da família saiu totalmente gorada e tornou-se um caso de estudo. Quando entrou na luta pela nomeação presidencial, antes de quase todos os concorrentes que ainda seguem corrida, ascendeu imediatamente ao topo das sondagens e foi dado como praticamente invencível pelos analistas políticos, impressionados com o seu “cofre de guerra” inicial de mais de 100 milhões de dólares.
Mas a candidatura de Bush pôs à prova a velha máxima que diz que o dinheiro não pode comprar tudo: apesar da sua incomensurável vantagem em termos de financiamento da campanha, e das suas privilegiadas conexões àqueles que distribuem dinheiro e favores políticos, a campanha de Jeb não conseguiu disfarçar a sua falta de carisma, não foi capaz de adequar a sua mensagem aos ouvidos da base conservadora reconfigurada pelo Tea Party, nem livrar-se da imagem de elitismo que é fatal para qualquer candidato.
Será interessante perceber como se vai distribuir o pecúlio arrecadado por Bush, em nome próprio e em diversos comités de acção política, e para que lado vão pender os seus apoiantes. O mais natural era que se inclinassem para a candidatura do outro homem da Florida na contenda, mas a facção Bush não engoliu a candidatura de Marco Rubio – é possível que troquem a sua fidelidade para John Kasich, o único governador que permanece em jogo.
Resta saber se o fracasso do herdeiro de dois Presidentes dos EUA é exclusivamente pessoal, ou até que ponto Jeb foi derrotado por causa do apelido e da carga negativa que ele carrega: para os eleitores norte-americanos Bush é sinónimo de escândalos de corrupção, crise económica e das trágicas guerras do Afeganistão e Iraque. Nem os republicanos conseguiram ainda expiar esse legado, no fim de contas, a entrada de George W. (e da mãe Barbara) na campanha da Carolina do Sul foi mais um requiem do que uma Ave Maria.
Do outro lado do espectro político, a ex-secretária de Estado, Hillary Clinton, não parece ser prejudicada pela proverbial militância dos norte-americanos contra as tradições dinásticas. Nos caucus democratas do Nevada, Clinton arrancou uma vitória convincente mas suada ao seu único adversário, o senador do Vermont Bernie Sanders: 53% contra 47%. “Alguns duvidaram de nós, mas nós nunca duvidamos de vocês”, declarou Hillary, que tal como o seu marido Bill foi largamente favorecida pela população afro-americana (por uma margem de 3-1) e também pelas mulheres (mais 16%).
Sanders já não é novidade
O autoproclamado socialista voltou a vencer entre os mais jovens, e conquistou mais votos entre os hispânicos do que esperado. Mas como o próprio reconheceu, o efeito novidade da sua campanha poderá estar a perder-se, e com ele o entusiasmo dos eleitores de que depende. “Sempre disse que o nosso sucesso depende do envolvimento dos mais jovens. Infelizmente não fizemos um bom trabalho em convencê-los a participar [nos caucus] no Nevada”, lamentou. Com a corrida a prosseguir para terreno mais diverso do ponto de vista social e racial, a sua campanha poderá experimentar maiores dificuldades de mobilização, contra a bem oleada máquina de Clinton.
Quanto a Donald Trump, o seu resultado na Carolina do Sul, um estado fortemente religioso, conservador e com uma grande população militar, torna-se ainda mais impressionante tendo em conta o seu desempenho no último debate televisivo, em que foi repetidamente vaiado, e até uma inédita polémica com o Papa Francisco. Mas nem as considerações do líder dos católicos acerca das ideias pouco cristãs de Trump incomodaram os seus apoiantes; aliás, foi precisamente a sua mensagem anti-imigração, censurada pelo Papa, que mais agradou aos eleitores.
Prova disso foi o deleite do milionário na hora da vitória (com 34%, deverá arrecadar todos os 50 delegados do estado), e a reacção dos seus apoiantes. “Vou construir um muro e quem é que o vai pagar?”; perguntou Trump. “O México”, gritaram em uníssono. “Esta semana estive reunido com alguns dirigentes mexicanos que me disseram que não estavam interessados nisso. Sabem que mais? O muro ficou logo três metros mais alto!”, garantiu, para o delírio da multidão.
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À espera de 1 de Março
Na próxima semana, Trump testará a sua liderança na corrida nos caucus do Nevada, onde as sondagens confirmam o seu favoritismo. Mais do que a contagem de delegados à Convenção Nacional Republicana, o que importa nesta fase da corrida é a dinâmica – os americanos chamam-lhe o momentum – exibida por cada candidatura, nos media, na capacidade de angariação de fundos, e claro, nos votos. Nesse sentido, as atenções das diferentes campanhas já estão todas concentradas no grande sorteio de 1 de Março, a “Super Terça-Feira” em que 12 estados vão a votos, muitos deles no Sul.
A manter-se a actual tendência, Donald Trump emergirá dessa noite com a vantagem necessária para que – finalmente – a América se convença de que a possibilidade de ser ele o candidato republicano à Casa Branca é real. Além disso, a super jornada eleitoral deverá desfazer definitivamente o empate entre Ted Cruz e Marco Rubio e apontar qual dos dois prossegue o braço-de-ferro com Trump (os restantes concorrentes já só estão a competir por um cargo numa eventual Administração republicana).
Teoricamente, Rubio tem a vantagem da aparência da moderação (mesmo quando a análise do seu manifesto eleitoral mostra que as suas ideias estão bem mais à direita do que as de Trump) e o beneplácito do establishment, que seguramente vai cerrar fileiras para evitar ter de ficar com outro candidato populista e imprevisível. Mas se há alguma lição a retirar da corrida até agora é que toda a lógica que foi aplicada para fazer previsões em eleições anteriores está desactualizada e não tem cabimento no panorama político actual, que é de rebelião – é nisso que a campanha de Cruz está a apostar, e também na sua sólida reputação de intransigência contra o “sistema”.
Apesar da retórica triunfante, os dois concorrentes a rival de Trump pela nomeação não superaram as expectativas na Carolina do Sul. A estratégia 3-2-1 de Marco Rubio caiu por terra: a sua campanha apostara numa evolução de terceiro no Iowa para segundo no New Hampshire e primeiro na Carolina do Sul para o projectar como o novo menino bonito do partido. E o domínio absoluto de Cruz entre o eleitorado evangélico também foi posto em causa, uma vez que o texano não conseguiu vencer nenhum condado, incluindo aqueles onde a maioria dos eleitores se descrevem como “muito conservadores”.
No campo democrata, a campanha segue agora para a Carolina do Sul, onde Hillary Clinton deverá voltar a beneficiar do apoio dos eleitores negros para coleccionar mais uma vitória (está a frente nas sondagens). Pode ser o suficiente para embalar a sua candidatura para uma boa performance na Super Terça-Feira, e acabar com as dúvidas sobre o seu favoritismo.