Mais de metade da "selva" de Calais ameaçada de expulsão pela força

Autoridades francesas dizem temer pela segurança dos refugiados que criaram acampamento caótico enquanto esperam pela oportunidade de passar a fronteira e alcançar o Reino Unido.

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Funcionários da prefeitura quando distribuíram os avisos de evacuação da "selva" PHILIPPE HUGUEN/AFP
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Os contentores de dois andares para onde podem ser transferidos alguns dos refugiados PHILIPPE HUGUEN/AFP
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Hora da oração na "selva" de Calais PHILIPPE HUGUEN/AFP
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Confronto num protesto de ex-páraquedistas e legionários, em solidariedade com antigo general que foi detido numa manifestação do movimento Pegida em Calais PHILIPPE HUGUEN/AFP

As autoridades francesas ameaçam evacuar pela força os migrantes que acampam numa parte da “selva” de Calais, enquanto esperam por uma oportunidade de atravessar a fronteira Schengen para o Reino Unido, se estes não saírem dali pelos seus próprios meios até terça-feira.

Segundo a prefeitura, na zona Sul deste verdadeiro bairro de lata, vivem entre 800 e 1000 mil migrantes – mas as organizações não-governamentais que lhes prestam apoio falam antes em cerca de 2000 pessoas, cerca de metade dos habitantes da “selva”.

O prazo para a desocupação do terreno são as 20h (19h em Lisboa) de terça-feira. “Para além desse limite, será evacuada a zona, se necessário recorrendo à força”, diz um comunicado da prefeitura (governo civil).

Ali foram erguidas várias estruturas provisórias que a fazem assemelhar-se a uma pequena cidade – lojas, cafés, restaurantes e mesquitas – que serão deitadas abaixo, para construir uma nova via rápida de acesso ao porto de Calais. Mas tem havido protestos dos migrantes, por saberem que em breve serão desalojados, e confrontos com a polícia.

As organizações humanitárias que prestam apoio aos migrantes, no entanto, estão contra a sua expulsão. Organismos como  Emmaüs France, Auxílio Católico, Auxílio Islâmico, a Federação Nacional das Associações de Acolhimento e Reinserção Social, os Médicos e o Comité Católico contra a Fome e pelo Desenvolvimento - Terra Solidária escreveram uma carta ao ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, na semana passada, expressando a sua "profunda oposição a este projecto, que não é acompanhado de verdadeiras soluções alternativas".

Para estas organizações, diz o Le Monde, o problema não é "oporem-se ao desmantelamento da 'selva'". Querem é "recordar ao Estado as suas incoerências no passado" e sublinhar "a falta de soluções de acolhimento dignas", a seus olhos, de assim serem designadas. 

Os migrantes podem ir para centro de acolhimento provisório que abriu em Janeiro na parte Norte do campo, com capacidade para 1500 pessoas, com contentores preparados para que se possa viver lá dentro, ou noutros centros que funcionam em diferentes regiões francesas.

O agravamento da tensão e dos confrontos entre refugiados, a polícia e a população nas últimas três semanas estão na origem desse ultimato, justifica o comunicado da prefeitura. Estes confrontos estão a ser instrumentalizados por movimentos extremistas”, dizem as autoridades.

“Indivíduos que fazem parte de grupúsculos radicalizados cometem actos violentos contra os migrantes”, e há “apelos ao ódio e à violência a circular em blogues de colectivos de extrema-direita e de extrema-direita”, afirma o comunicado, para justificar a obrigatoriedade da evacuação da parte Sul da “selva”. 

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