Gulbenkian extingue a marca CAM

O Museu Calouste Gulbenkian e o Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAM) vão ter uma única designação: Museu Calouste Gulbenkian.

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Nos 30 anos do Centro de Arte Moderna – CAM, na Gulbenkian, em 2013 Rui Gaudêncio

Quando em Junho se estiverem a comemorar os 60 anos da Fundação Gulbenkian, do Museu Gulbenkian e do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAM), estes dois pólos museológicos da fundação vão ter uma nova designação comum, a de Museu Calouste Gulbenkian, e o que os diferenciará serão as colecções: o pólo da Colecção do Fundador e o pólo da Colecção Moderna.

“A decisão do nome é simples, mas é uma grande decisão e vai levar algum tempo a que as pessoas se habituem a ela. Mas se queremos ser uma única instituição, temos de ter um nome único”, afirmou a directora Penelope Curtis durante um pequeno-almoço com a imprensa, onde foram apresentadas as exposições para este ano.

Tal como explicou Teresa Gouveia, administradora da Fundação Gulbenkia, “a reunião da gestão dos dois pólos museológicos sob uma mesma direcção”, a cargo da britânica Penelope Curtis, já está em curso desde 1 de Janeiro. Muda agora a designação, mas os diferentes pólos do Museu Calouste Gulbenkian “manterão a sua identidade, quer do ponto de vista das colecções museológicas quer do ponto de vista das actividades”, e não perderão “as suas valências”. A actual directora foi responsável pela Tate Britain até Junho de 2015.

Quando se realizou o concurso internacional público para o novo director, em 2014, já estava implícito que este iria gerir os dois pólos. A saída da directora do CAM, Isabel Carlos, um ano mais cedo do que o previsto, só acelerou o processo. “Os museus não são manuais escolares e a arte é uma só, e esta separação, às vezes, tem um carácter muito artificial", explicou Teresa Gouveia. Esta é a razão filosófica para a solução encontrada, mas aquilo em que pensaram foi sobretudo "na sinergia entre as colecções" e na própria articulação da programação.

Como sublinhou Penelope Curtis, deixaram o programa pensado por Isabel Carlos para o CAM "intacto" e ela vai ser em Novembro uma das curadoras de uma das exposições deste ano, Luanda Los Angeles Lisboa, antológica de António Ole, juntamente com Rita Fabiana.

Outra das mudanças anunciadas esta sexta-feira é que as equipas dos dois pólos museológicos serão fundidas, ficando a trabalhar em conjunto. A integração não implicará, contudo, uma diminuição de pessoas, assegurou Teresa Gouveia. "Em princípio, os orçamentos serão os mesmos", acrescentou a administradora, explicando que esta solução foi decidida por unanimidade pelo conselho consultivo, e que "a decisão não foi feita por razões financeiras", nem sabem ainda se vai haver economia.

O museu vai manter uma verba de 500 mil euros disponível para aquisições de arte moderna, enquanto a colecção do fundador continua fechada e não pode ser alterada.

O desejo da Fundação Gulbenkian é equiparar a Colecção Moderna à Colecção do Fundador, sendo que esta tem uma projecção não só nacional mas internacional muito maior. De acordo com os números divulgados esta manhã pela instituição sobre os visitantes registados desde 2011, o Museu Gulbenkian tem tido o dobro, ou mais, de entradas do CAM, nomeadamente em 2015: o primeiro contou 217 mil visitantes e o segundo 107 mil. O Museu Gulbenkian teve 57 mil visitantes nacionais e 160 mil estrangeiros, enquanto o CAM recebeu 63 mil nacionais e 43 mil estrangeiros, num registo de percentagens que se repete aproximadamente ao longo dos últimos cinco anos.

"Do ponto de vista internacional, a colecção do CAM teve sempre um reconhecimento muito menor do que a colecção do fundador", disse Teresa Gouveia. E esta é uma maneira de se equiparar a colecção de Arte Moderna, desse ponto de vista, à colecção que tem o museu. "Curiosamente, a Colecção do Fundador acaba no período em que começa a colecção do CAM, há uma continuidade", acrescentou.

Querem também que a colecção moderna e contemporânea possa ser mais largamente apresentada, por isso estão a pensar numa utilização mais flexível dos espaços, e a ideia é que a Colecção Moderna ocupe um espaço maior no edifício sem o esgotar, pois continuará a haver programação contemporânea. "Neste momento, devido ao espaço e às características da programação, quem vem aqui não tem possibilidade de ter uma visão alargada do que é a arte portuguesa nos séculos XX e XXI", afirmou Teresa Gouveia.

Quando o CAM se iniciou, tinha um carácter de experimentação, mas hoje a sua colecção, a Colecção Moderna, é "significativa", “importante na sua dimensão", e "justifica o seu carácter museológico", que será desenvolvido neste novo formato.

Depois da inauguração a 10 de Março de Echolalia, da belga Ana Torfs, com curadoria de Dirk Snauwaert, irá ser mostrada em Maio uma apresentação de um conjunto de tapetes Kumkapi do século XIX-XX, do Museu Gulbenkian, ao lado de um tapete recentemente criado por Mehkitar Garabedian, um dos artistas representados no Pavilhão da Arménia na última Bienal de Veneza.  E isso é já um primeiro exemplo desse diálogo que se pretende que exista entre a Colecção do Fundador e da Moderna.

Em Junho, a propósito do 60ª Aniversário da Fundação Gulbenkian, abrirá ao público a exposição More or Less (título provisório), que vai explorar as relações entre as duas colecções Gulbenkian, onde serão revelados alguns aspectos pouco conhecidos das colecções, a partir de uma perspectiva temporal em redor do ano de 1956. "Esta exposição vai cruzar as duas colecções e mostrar o modo surpreendente como ambas reflectem o século XX", explicou ainda Penelope Curtis, que será uma das curadoras, a par de João Carvalho Dias e Patrícia Rosas Prior. Será também uma forma de mostrar como a arte reflecte a história de um país e isso poderá ser interessante para os estrangeiros, explicou a directora, acrescentando que é isso que acontece na Tate Britain e que os visitantes gostam.

 

 

 

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