Animal Collective: Do dadaísmo aos Ramones

É o seu disco mais acessível, mas está longe de ser uma operação de domesticação em direcção ao centro. Parece ser, antes, uma forma de se mostrarem mais comunicantes, sem prescindirem da experimentação.

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Na conversa com Brian Weitz este confessa que a música dos Ramones constituiu uma importante motivação inicial

É talvez o álbum mais solto dos Animal Collective. De alguma forma, é também o seu disco mais físico e simples, parecendo ter sido construído a partir apenas de ritmo, baixo e vozes, com alguns elementos a enriquecerem esta estrutura mínima. Combina os momentos mais coloridos e electrónicos de Merriweather Post Pavilion (2009) com o entusiasmo juvenil de Sung Tongs (2004) e técnicas vocais e sonoras laboradas nas aventuras a solo de Noah Lennox (Panda Bear) ou de Dave Portner (Avey Tare).

Na conversa com Brian Weitz (Geologist) este confessa que a música dos Ramones constituiu uma importante motivação inicial. Percebe-se o que quer dizer. Não é a música em si do grupo punk americano, mas a forma como criavam canções simples, sucintas, rectas e dinâmicas. É isso que existe no novo álbum dos Animal Collective, não através de guitarras, mas de ritmos electrónicos desorientados, vagas de tribalismo contemporâneo, vozes siamesas (de tal forma que é impossível distinguir Noah Lennox de Avey Tare) e um ambiente geral de gala psicadélica.

É obra colorida e refrescante, com canções generosas e espaciais, reflectindo o prazer do processo de criação, com o grupo pela primeira vez a optar por não dar a conhecer previamente em concerto os temas. Até certo ponto é capaz de ser o seu disco mais acessível, mas está longe de ser uma operação de domesticação em direcção ao centro do mercado.

Parece ser, antes, uma forma de se mostrarem mais comunicantes, sem prescindirem da experimentação, mas feita de maneira mais inteligível. Não há opacidade, apenas três músicos a digladiarem-se com samplers, sequenciadores, sintetizadores, elementos percussivos ou harmonias vocais, numa lúdica odisseia ritualista onde a energia nunca é refreada.   

Frenéticos, tão primitivos quanto futuristas, capazes de concretizarem uma colagem dadaísta multicolorida e compactada, eis os Animal Collective de 2016, mais de quinze anos depois de terem começado. 

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