Universais em particular

Dois ensaios sobre a geografia da memória que transcendem o simples documentário: Nostalgia da Luz e O Botão de Nácar

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O Botão de Nacar e Nostalgia da Luz: uma nação que se construiu de costas para a sua própria geografia
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O Botão de Nacar e Nostalgia da Luz: uma nação que se construiu de costas para a sua própria geografia

Faz todo o sentido que estes dois filmes do mestre chileno Patricio Guzmán - ensaios que utilizam a forma do documentário mas a transcendem - estreiem juntos, apesar dos cinco anos de intervalo entre ambos. Estamos perante obras gémeas, complementares, que olham de dois pontos de vista diferentes para uma mesma nação que se construiu praticamente de costas para a sua própria geografia, sempre a partir de um universo maior, e nesse movimento de partir do “infinitamente grande” para o “infinitamente pequeno” revelam como a própria história do país é literalmente dividida pela ruptura do golpe de estado que depôs Allende e instaurou o regime de Pinochet.

Em Nostalgia da Luz é o deserto de Atacama e as suas características únicas para a astronomia e para a investigação do espaço sideral que serve de ponto de partida; O Botão de Nácar parte da história das tribos indígenas costeiras que viviam da enorme costa marítima chilena e que foram paulatinamente extinguidas por uma colonização ocidental que não foi capaz de compreender a chave do futuro que estava a deitar fora. São duas facetas de um mesmo diálogo sobre a memória histórica, entendida como uma forma de arqueologia infinitamente curiosa, mas a vantagem vai em nosso entender para Nostalgia da Luz, mais elegante formalmente e narrativamente mais conseguido que O Botão de Nácar.

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