O meu filho tem futuro nos videojogos?

Que fique bem explícito. Esta não é, repito, não é, uma área fácil. Esta indústria envolve muito esforço, muito além das oito horas diárias de trabalho

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Estamos em Fevereiro e já recebi mais de uma dezena de contactos de pais preocupados porque os filhos querem entrar na indústria dos videojogos e, claro, como progenitores desconhecedores da área, não sabem se isso é uma boa ideia. Normalmente, costumo receber este tipo de dúvidas em Maio e Junho, ou seja, no período de inscrição para o ensino superior ou profissional, mas, nunca me aconteceu no início do ano. Só mostra como esta indústria tem crescido.

Claro que compreendo a dificuldade destes pais. Não existe realmente muita informação em português sobre esta indústria e, da pouca existente, 90% é institucional relativo aos sites das escolas e universidades com cursos de videojogos. Naturalmente, a questão que dá nome a esta crónica é de longe a maior dúvida entre estes encarregados de educação.

Esta indústria é a maior do sector do entretenimento com lucros superiores aos da cinematográfica e musical, chegando aos 90 mil milhões de dólares anuais. Em Portugal, segundo o site Newzoo, o nosso país ocupa a 33.º posição do ranking mundial de "Top 100 Countries by game revenues", sendo que a totalidade do nosso mercado vale cerca de 200 milhões de dólares. Por isso é difícil ignorar que esta é uma das profissões emergentes deste novo milénio, não só em Portugal, mas no mundo.

E "o que se pode fazer nesta área?" Bem, há quase dois troncos principais. Num estão os profissionais que produzem videojogos. No outro, os que trabalham em sectores relacionados com a sua influência. Na primeira categoria estão pessoas como programadores, game designers, animadores, artistas, sonoplastas, guionistas, ou seja, quem é preciso para criar um produto. Na segunda, aparecem os YouTubers, os comerciantes, os jornalistas especializados, os e-sports, os museus, os cosplayers... pessoas que vivem da influência deixada pela produção.

Que fique bem explícito. Esta não é, repito, não é, uma área fácil. Esta indústria envolve muito esforço, muito além das oito horas diárias de trabalho, naquilo que é muitas vezes denominado na indústria por "crunch-time" (12h-16h diárias). Ainda não existem posições para preguiçosos como "técnico superior em videojogos", em que é só preciso estar sentado numa secretária à espera das pausas até ir para casa. Está indústria é altamente competitiva. Seja qual for a área em que se queira entrar, não se esperem facilidades. Bem sei que isto pode parecer algo drástico, mas há uma recompensa no fim do túnel. O prazer de ter milhões de pessoas a apreciarem o nosso trabalho e o reconhecimento monetário, bem acima da média nacional, assim como um desafio criativo, que é sem dúvida, um dos melhores.

Numa altura de suposta crise financeira do nosso país, esta área tem crescido imenso e há uma procura imensa por bons profissionais em solo nacional. Neste momento existe cerca duma centena de empresas, algumas internacionais, outras que poderão chegar brevemente e que naturalmente querem contratar os melhores. Muitas destas até trabalham em regime de outsourcing para os grandes títulos desta geração. Títulos como "Call of Duty", ou "Tomb Raider", ou "Witcher 3", entre muitos outros, têm sempre alguns representantes portugueses que estão no país, sentados à frente dos seus computadores, com uma ligação à Internet a produzir conteúdo para estes títulos. Ou então, acreditam em si próprios e criam os seus próprios jogos (pdf). A internet é mais do que uma rede social, é uma ponte profissional entre todo o mundo.

Portanto deixo aqui a resposta. Sim, há (um bom) futuro para o seu filho em videojogos, desde que ele esteja disposto a trabalhar.

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