Tinta-da-china vai publicar obra do autor brasileiro Nelson Rodrigues

Uma decisão judicial pôs fim a 35 anos de disputas legais entre os herdeiros do escritor.

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Nelson Rodrigues dr

A editora portuguesa Tinta-da-china comprou os direitos da obra do escritor brasileiro Nelson Rodrigues e começará por publicar este ano crónicas, contos e um livro de memórias, contou à Lusa a editora Bárbara Bulhosa.

"Estou desde 2008 a tentar publicá-los, mas havia problemas com os herdeiros que só ficaram resolvidos há pouco tempo. A Sónia Rodrigues [uma das filhas do escritor] ficou com o direito de gerir os direitos do pai, entrei em contacto com ela e foi muito fácil fazer negócio", explicou Bárbara Bulhosa.

O jornal brasileiro O Globo noticiava no sábado que uma decisão judicial tinha posto fim a 35 anos de disputas legais entre os herdeiros do escritor - que morreu em 1980 - e que, por isso, a obra de Nelson Rodrigues já podia e está a ser publicada noutros países, como França, Israel e agora Portugal.

Bárbara Bulhosa disse à Lusa que a edição da obra de Nelson Rodrigues é "um grande acontecimento" no mercado editorial português, em que não está praticamente nada editado, com excepção de algumas peças de teatro, publicadas pela Cotovia.

"É um grande autor brasileiro, que tem muito a ver connosco. O leitor vai descobrir o sentido de humor, a crítica social, a originalidade com que pega em situações banais e que as vê noutro ângulo", afirmou.

Este ano, a Tinta-da-china publicará o livro de memórias A menina sem estrela, uma colectânea de contos, escolhidos a partir de A vida é bela é..., e outra de crónicas, ambas com selecção de Pedro Mexia.

Para Bárbara Bulhosa, esta será a melhor forma de introduzir o leitor português na obra de Nelson Rodrigues, dramaturgo, jornalista e escritor.

"As crónicas são originais, as memórias são comoventes e os pequenos contos têm ali de tudo. Mas vamos querer publicar romance e teatro também", disse.

Nelson Rodrigues nasceu no Recife em 1912, mas foi no Rio de Janeiro que começou no jornalismo, aos 13 anos, no jornal dirigido pelo pai, Mário Rodrigues. A vivência na cidade e o trabalho como jornalista serviriam de mote para as peças de teatro e as crónicas que publicou, destacando-se a inovação e a originalidade.

Publicou romance e contos, crónicas sobre futebol e sobre o Brasil, mas é apresentado como um dos maiores dramaturgos do Brasil, por peças como A mulher sem pecado, Vestido de noiva e Toda nudez será castigada.

Sobre a edição em Portugal, o jornal O Globo escreveu: "Os portugueses terão a chance de conhecer personagens inesquecíveis, como o Sobrenatural de Almeida, que povoou muitas crónicas do autor, justificando golos inexplicáveis do seu time [clube], o Fluminense. Ou a Dama do Lotação, que tanto roçou o imaginário colectivo brasileiro. Conhecerão os pecados e amores de Engraçadinha, e certamente dirão com a graça do seu sotaque ditos como 'toda unanimidade é burra' ou 'todo canalha é magro', tiradas clássicas do autor".