Tatiana Macedo trocou a zona de conforto pela “efervescente” Berlim
Vencedora da primeira edição do prémio está a fazer uma residência artística em Berlim. Obra "1989" pode ser vista até domingo, 31 de Janeiro, no Museu do Chiado, em Lisboa
Tatiana Macedo, vencedora da primeira edição do Prémio Sonae Media Art 2015, está a fazer uma residência artística em Berlim e espera que a capital alemã traga inspirações de urbanidade, porque lhe interessam "as cidades e como elas operam".
"A questão do anonimato sempre esteve presente no meu trabalho", disse a artista à agência Lusa, acrescentando que, ao filmar pessoas desconhecidas em grandes cidades, pretende "devolver-lhes uma certa individualidade". A residência na Künstlerhaus Bethanien (Casa do Artista de Betânia), aclamado centro de artes em Berlim, surge depois de Tatiana Macedo ter recebido um galardão, no valor de 40 mil euros, o maior prémio no panorama da arte contemporânea em Portugal, atribuído pela obra inédita "1989", patente até domingo, no Museu do Chiado, em Lisboa.
"Sinto que é o momento certo para fazer esta residência, para sair da minha zona de conforto e para me focar no meu trabalho. É bom estar a dividir um espaço com outros artistas e estar numa cidade como Berlim, onde o pensamento contemporâneo é efervescente", disse a artista em entrevista à agência Lusa, na capital alemã. Além dos contactos com críticos, galerias e da exposição final, que fazem parte da residência, a artista quer retomar projectos antigos. "Um dos motivos para fazer esta residência é ter espaço e tempo para olhar para as coisas que já filmei ou fotografei de uma forma diferente, com um estímulo diferente e de que forma é que me vou relacionar com essas imagens, estando agora noutro local".
"Há muito caminho a desbravar" em Portugal
Tatiana Macedo já foi convidada para participar num projecto entre Lisboa e Paris, em 2017, a par de iniciativas com ligações a instituições em Berlim. Como tem trabalhado maioritariamente em circuito internacional, a artista ainda não tem uma galeria que a represente, em Portugal, mas quer "trabalhar no contexto português". Tatiana Macedo sente que "há muito caminho a desbravar", no país de origem, na área de filmes feitos por artistas, considerando que linguagem do vídeo, som e instalação ainda carecem de entendimento.
"Os produtores e agentes têm de dar condições para que as peças de imagem e movimento sejam apresentadas nas melhores condições possíveis, o que, às vezes, não é o caso. Têm de dialogar com o artista e perceber o que ele precisa", disse Tatiana Macedo. A obra "1989" está em exibição no Museu do Chiado, em Lisboa, até domingo, 31 de Janeiro, e é definida pela autora como "um filme/ensaio, em campo expandido, com um pensamento que está a ser construído" à medida que a artista vai trabalhando com os materiais.
A obra explora o meio videográfico e fílmico, através de uma tripla projecção, e traduz uma investigação continuada da artista na área do vídeo e do filme e das suas relações com a memória, a história e a cultura contemporâneas. Tatiana Macedo tenciona expor "1989" na capital alemã e pondera trabalhar num desdobramento da obra, pois as imagens que viu na televisão, durante a queda do Muro de Berlim, quando tinha oito anos, desempenharam um papel central no desenvolvimento desta peça: "Como algo [que é] parte da cultura popular, como a televisão, pode definir a nossa forma de estar e pensar".
Tatiana Macedo, nascida em 1981, estudou Belas Artes na Central St. Martins College of Art & Design, em Londres, e fez um mestrado em Antropologia Visual, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.