Banco do Japão adopta taxas de juro negativas

Abrandamento chinês e queda do petróleo pesaram na decisão. Instituição volta a adiar meta para atingir inflação de 2%.

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Kuroda deixou a porta aberta a novas reduções das taxas de juro Yuya Shino/REuters

Apanhando os mercados de surpresa, o Banco do Japão decidiu passar a aplicar uma taxa de juro negativa em parte dos depósitos feitos pelos bancos, numa medida inédita naquele país e com a qual a instituição espera ajudar a combater a deflação e a estimular a economia, um processo que tem vindo a ser dificultado pela desaceleração dos países emergentes e pela queda do petróleo.

A taxa de -0,1% será aplicada a partir de Fevereiro a uma parcela dos depósitos, o que significa que os bancos terão na prática de pagar para terem o dinheiro no banco central, à semelhança do que acontece hoje na Europa, onde o Banco Central Europeu foi descendo a taxa de juro até aos actuais -0,3%.

Com esta decisão, o Banco do Japão espera contrariar a tendência de deflação que tem pesado na economia nipónica ao longo das últimas duas décadas, desincentivando o investimento e levando os consumidores a adiarem compras na expectativa de que os preços baixem ainda mais. Mas a medida foi justificada sobretudo com o contexto externo, incluindo o abrandamento do crescimento na China e a queda acentuada do preço do crude.

“Há um risco que as recentes quedas nos preços do petróleo, a incerteza sobre as economias emergentes, incluindo a China, e uma instabilidade dos mercados mundiais possa afectar a confiança das empresas e atrasar a erradicação da mentalidade deflacionária das pessoas”, afirmou o governador do banco central, Haruhiko Kuroda, que acrescentou que a economia japonesa continua a recuperar moderadamente.

Kuroda assumiu o cargo em 2013, com a missão de colocar a inflação do país próxima dos 2%, mas desde então já teve de adiar esse objectivo, algo que volta agora a acontecer: o Banco do Japão estabeleceu como novo prazo o semestre entre Março e Outubro de 2017, meio ano mais tarde do que o definido antes.

A decisão de adoptar taxas de juro negativas teve a margem mínima para ser aprovada: cinco votos contra quatro. Os depósitos dos bancos serão divididos em três níveis, aos quais serão aplicadas taxas de 0,1%, 0% e -0,1%, num modelo semelhante ao que acontece em alguns países, como é o caso da Suíça, Suécia e Dinamarca. Kuroda afirmou que as taxas poderiam continuar a avançar por território negativo “se necessário”. O banco aprovou ainda a continuidade do programa de compra de activos que tem vindo a levar a cabo nos últimos três anos.

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