O professor sabichão e os outros
Em política, o amadorismo paga-se. As sondagens são claras.
Marcelo está bem na frente, mas ainda não tem garantida a eleição à primeira volta. É isto que revela a sondagem que hoje publicamos, pois os 51,8% obtidos por este candidato situam-se dentro da margem de erro que é de mais ou menos três por cento. Estes dados indicam também que enquanto Marcelo já ultrapassou largamente a votação obtida pela direita nas legislativas de Outubro (36,86), a esquerda ainda está longe de o conseguir. Nessa altura, os votos somados por PS, Bloco e PCP atingiram um total de 50,75% dos votos, enquanto agora, juntando as candidaturas de Sampaio da Nóvoa (16,9%), Maria de Belém (10,1%), Henrique Neto (2,3%) – todas oriundas da área socialista – mais as duas geradas pelos partidos mais à esquerda Marisa Matias (7,9%) e Edgar Silva (4,6%), todas não vão além de 42,8% das intenções de voto. Isto significa que Marcelo não só está a concentrar o voto do centro-direita, como a entrar pelo eleitorado da esquerda como faca em manteiga.
Pelos vistos, a tão propalada mais-valia da pulverização de candidaturas por parte da esquerda está a revelar-se um flop total, desmobilizando os eleitores desta área política confusos perante propostas que se entretêm a combater-se umas às outras, enquanto Marcelo surge leve e solto no seu caminho de afecto e compreensão para com todos, adocicado com promessas de cooperação ilimitada com o actual Governo. Ou seja, enquanto o professor de Direito afastou cada pedrinha no sapato, resistindo a todas as críticas e a todas as tentativas da direita para, à sua custa, apanhar a boleia capaz de a colocar no ticket que segue, destacado, em direcção a Belém, a esquerda foi passeando os seus rancores em demasiados recantos do país.
Para ter a certeza de ser ouvido urbi et orbi, Marcelo não hesitou em avisar ainda esta semana que a sua candidatura não é a segunda volta das legislativas. O recado foi direitinho para a São Caetano à Lapa e para o Largo do Caldas, mas também visava o universo do Largo do Rato.
Já entre os cinco candidatos da esquerda as hostilidades estiveram sempre presentes. O azedume nos debates aterrou agora no caso da reposição das subvenções vitalícias a políticos. Maria de Belém esteve especialmente mal, mas a situação acabou por atingir a esquerda no seu todo. O impulso do eleitorado em identificar a parte com o todo cresce perigosamente nas ruas – “eles são todos iguais!”.
Depois, há outro aspecto susceptível de confundir muito os eleitores, que é o facto de haver um Governo resultante de uma negociação à esquerda e uma campanha eleitoral onde ela surge mais dividida do que nunca. Não havendo sequer segunda volta, a esquerda sai muito fragilizada. Veremos as consequências que isto terá a curto e médio prazo, designadamente em sede de orçamento e nas negociações difíceis com Bruxelas.
Como curiosidade, registe-se que esta sondagem coloca Vitorino Silva (2,5) à frente de Henrique Neto (2,3%). Querem ver que ainda vem aí outro partido, agora com epicentro em Rans?