Portas vermelhas identificam refugiados no Nordeste de Inglaterra

Governo britânico lançou inquérito, depois de uma investigação do jornal The Times ter iniciado o debate. Habitantes que esperam pelo resultado do seu pedido de asilo queixam-se de fogo posto e insultos.

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As portas vermelhas na cidade de Middlesbrough, no Norte de Inglaterra Phil Noble/REUTERS

Na cidade industrial de Middlesbrough, no Nordeste de Inglaterra, os requerentes de asilo são alvo frequente de insultos e as paredes das suas casas foram pintadas frases xenófobas, ou bombardeadas com com ovos. Muitos acreditam que isso acontece porque as portas vermelhas das casas onde vivem os distinguem da vizinhança.

“Estou muito preocupado e já pedi uma auditoria urgente ao Ministério da Administração Interna em todo o Nordeste”, afirmou James Brokenshire, ministro britânico da Imigração. “As empresas com que trabalhamos têm de ter padrões elevados. Se encontrarmos provas de discriminação contra requerentes de asilo, resolveremos a questão de imediato. Estes comportamentos não não serão tolerados”, disse Brokenshire.

O ministro reagiu assim a uma investigação do diário The Times, que ouviu refugiados a viver em dois bairros pobres de Middlesbrough. Os habitantes de uma das casas sentiam-se tão estigmatizados que pintaram a sua porta de branco, mas um funcionário da empresa proprietária das casas voltou a pintá-la de vermelho, explicando que a nova cor era “contra a política da empresa”.

As casas são da Jomast, uma empresa subcontratada para instalar requerentes de asilo no Nordeste pela G4S, uma multinacional especializada em serviços de segurança que trabalha muito com o Governo britânico. Ambas desmentem que estas pessoas estejam a ser discriminadas por “uma política de portas vermelhas” e dizem que esta é a cor usada em geral nas casas da Jomast. A imprensa britânica sugere que o vermelho nas portas serve para os funcionários da Jomast saberem que ali vivem requerentes de asilo.

O contrato assinado com o Executivo diz que estas empresas têm o dever de “reconhecer que a segurança dos requerentes de asilo não pode ser posta em causa”. 

O Times contou 155 portas vermelhas nas 168 casas que identificou como propriedade da Jomast em dois dos bairros mais pobres de Middlesbrough. Das 66 que os jornalistas visitaram, 62 estão ocupadas por pessoas de 22 nacionalidades à espera de receberem o estatuto de refugiados; duas por “ex-requerentes de asilo” e duas por cidadãos britânicos.

Os moradores descreveram como têm sido alvo de insultos. Numa das portas foi esculpido o símbolo do partido de extrema-direita britânico Frente Nacional, racista e anti-imigração. Uma mulher contou que um grupo de jovens lhe gritou: “Mulher suja, sai do nosso país”, o mesmo tipo de frases pintadas nalgumas casas. Para além de ovos, também houve casos de pedras e fezes de cão lançados contra as casas.

A vida em risco

Abdal al-Bashir, requerente de asilo do Sudão que vive em Middlesbrough, disse à televisão ITV que a sua casa é alvo de “tentativas de incêndio" e que sente a sua vida “em risco diariamente”. Bashir, entrevistado junto a uma parede de tijolos com marcas de fogo, afirma que já vez queixa “à polícia 15 ou 20 vezes, ao conselho municipal também, e nada aconteceu”.

“Toda a gente sabe que os requerentes de asilo desta área têm portas vermelhas. Eles gritam, batem na porta e atiram pedras contra as janelas”, disse ao jornal Independent Lahiru Perera, oriundo do Sri Lanka. Com 32 anos, Lahiru vive em Middlesbrough com a mulher, Asha, o filho de quatro anos, Diheia, e Amelia, de apenas três semanas. “Acontece todas as noites. Temos duas crianças, a minha mulher dorme no rés-do-chão e tem medo de ir para o andar de cima. Eles deviam mudar a cor destas portas”.

Suzanne Fletcher, que faz parte de um conselho local eleita pelos Liberais Democratas, diz que o problema já foi identificado há quatro anos, discutido na comissão dos Assuntos Internos do Parlamento e levado ao Gabinete Nacional das Auditorias. “Em Setembro de 2012, pedirmos à G4S se podia fazer alguma coisa sobre as portas vermelhas e responderam que não tencionavam fazer nada”, afirmou ao programa Today da Rádio 4 da BBC. “A polícia faz o que pode mas muitos requerentes de asilo não chegam a fazer queixa por estarem tão vulneráveis. Têm medo de pôr em risco o seu processo”, explicou a política.

As casas mais baratas

Nick Forbes, presidente do conselho municipal de Newcastle, outra cidade do Nordeste, próxima de Middlesbrough, disse ao Guardian que já foi ordenada uma inspecção urgente às casas da Jomast para verificar se aquelas em que vivem requerentes de asilo têm as portas pintadas de vermelho.

Segundo Forbes, desde que a empresa foi contratada para alojar quem espera pelo seu pedido de asilo o conselho tem recebido muitas queixas. “Um dos problemas é a forma caótica como a Jomast os acomoda sem considerações pelo seu bem-estar ou pelos efeitos na comunidade”, acusa o autarca. “A empresa tem o hábito de comprar os alojamentos mais baratos, que tendem a situar-se nas zonas mais pobres”, diz.

Apesar de recusar qualquer polícia de discriminação, a empresa admite que “houve um uso exagerado de uma só cor” e comprometeu-se “a resolver o assunto dentro de três a seis meses, voltando a pintar as portas da zona para que não haja uma cor predominante”.

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