Rei espanhol duvida da investidura de Rajoy

Socialistas negoceiam com o Podemos e com as forças nacionalistas. Primeiros partidos ouvidos pelo monarca dizem-se convencidos que o PP não conseguirá formar governo.

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O socialista Pedro Sánchez tenta chegar a acordo com o Podemos DANI POZO/AFP

Um dia depois do arranque das audiências dos partidos espanhóis com o rei, o PSOE estendeu a mão ao Podemos, garantindo que não vai impedir que o partido tenha dois grupos separados no Senado. Ao mesmo tempo, os socialistas continuam a discutir com Pablo Iglesias soluções que permitam às diferentes coligações que concorreram com o seu apoio na Catalunha, Galiza e Valência terem voz própria no Congresso dos Deputados.

“Em coerência com o carácter territorial do Senado, apoiamos que o Podemos tenha grupos diferenciados dentro da legalidade”, disse ao jornal El País o porta-voz socialista na câmara alta, Óscar López. As sessões para a constituição de grupos parlamentares estão marcadas para quarta-feira nas duas câmaras do Parlamento.

Mais complicado será encontrar uma saída para a mesma questão no Congresso, onde os socialistas de Pedro Sánchez insistem que, de acordo com o regulamento, não podem ter grupo próprio forças que não concorreram entre si. O que é certo é que o PSOE não fechou o debate e esta terça-feira, o porta-voz do Congresso, Antonio Hernando, discutiu alternativas com membros do Podemos.

Juntando a esta disponibilidade para o diálogo com Iglesias o acordo dos socialistas para permitir aos partidos independentistas catalães (DiL, sigla com que se apresentou a Convergência, de Artur Mas, e Esquerda Republicana da Catalunha) terem grupo próprio no Senado, o Cidadãos de Albert Rivera parece estar cada vez mais convencido que o vencedor das eleições, Mariano Rajoy, não vai conseguir ser investido primeiro-ministro.

Responsáveis do partido de centro-direita, quarta força mais votada nas legislativas de 20 de Dezembro (com 40 deputados) ouvidos pelo diário El Mundo consideram “muito difícil” que Rajoy forme governo e manifestam a sua surpresa “pela paralisia do líder do PP” face “à actividade de Sánchez”. O líder da direita nem telefonou ainda a Rivera, sublinham.

Para além das discussões com o Podemos, que no seu conjunto soma 69 deputados, e dos acordos com os nacionalistas da Catalunha (17 deputados), o PSOE cedeu ainda um dos seus lugares na Mesa do Senado ao Partido Nacionalista Basco (PNV), que tem seis lugares no Congresso.

Num hipotético acordo PSOE-Podemos-PNV, Sánchez obteria 165 votos. Neste cenário, tanto PP como Cidadãos votariam contra, mas bastaria todos os outros absterem-se para que o líder socialista fosse investido. A partir da primeira votação, quando é necessária a maioria absoluta no Congresso de 350 lugares, é suficiente que o candidato reúna mais votos a favor do que contra.

Oficialmente, o partido de Rivera insiste que não votará nem no líder do PP (123 deputados) nem no do PSOE (90), mas estes são dias de mensagens contraditórias. “Sim, é possível”, respondeu Juan Carlos Girauta, porta-voz do partido no Congresso, questionado pela rádio Onda Cero sobre a possibilidade de Sánchez ser primeiro-ministro com o apoio do Cidadãos e a abstenção do resto das forças políticas. Este é um cenário que a imprensa espanhola tem vindo a admitir, caso falhe o acordo entre o PSOE e o Podemos.

Segunda ronda

Segunda-feira, o rei Felipe VI iniciou as audiências com os partidos ouvindo Pedro Quevedo, porta-voz da Nova Canárias (que se coligou com o PSOE); Ana Oramas, única eleita da Coligação Canárias; e Isidro Martínez Oblanca, do Fórum Astúrias (que se apresentou a votos com o PP).

Segundo Oblanca, o monarca sugeriu que é provável que tenham de encontrar-se “num futuro breve” – palavras que o deputado interpretou não como uma referência a novas eleições mas a “uma segunda ronda de consultas com os partidos”, caso o rei nomeie Rajoy e este não consiga ser designado primeiro-ministro.

“Concluímos que esta não será a última vez que nos veríamos”, disse também Quevedo, numa conversa com os jornalistas, onde afirmou ter deixado claro a Felipe VI que não votará a favor de Rajoy. O rei, descreveu o deputado, “está muito bem informado e consciente da situação política complicada que Espanha tem neste momento”. Já Oramas disse ao monarca que lhe parece “impossível” Rajoy ou Sánchez conseguirem formar um “governo estável”, acreditando que “em breve haverá novo processo eleitoral”.

O rei vai continuar a ouvir os partidos mais pequenos e só na sexta-feira recebe os quatro grandes, PP, PSOE, Podemos e Cidadãos.

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