Furacão Alex passou a tempestade tropical depois de ter atravessado os Açores

Queda de árvores e inundações sem danos de estrutura em habitações foram as ocorrências mais registadas durante a manhã, nalgumas ilhas dos grupos Central e Oriental. Protecção Civil regional vai manter alerta até às 18h locais, apesar de a situação ter sido menos grave do que o esperado.

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Imagem de satélite às 6h, revelada pelo IPMA DR

O furacão Alex passou a tempestade tropical após ter atravessado o arquipélago dos Açores, segundo informação avançada à Lusa por fonte do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Perante uma acalmia da situação, o presidente do Serviço Regional de Protecção Civil e Bombeiros dos Açores, capitão José Dias, admitiu ter havido "uma redução de danos" relativamente àquilo que era esperado. O alerta mantém-se até às 18h, três horas depois do "decréscimo significativo da intensidade" previsto para as 15h.

Os conselhos seguidos pelas populações e as medidas decididas pelo Governo Regional dos Açores contribuíram em muito para que a situação passasse "sem causar danos significativos", considerou o capitão José Dias. O responsável congratulou-se pelo "papel fulcral" das populações – que "seguiram as recomendações feitas" – e das autoridades através de "todas as medidas efectuadas pelo Governo Regional dos Açores".

Os serviços públicos, administrativos e regionais e os tribunais estão encerrados. Também as escolas estão fechadas, como determinou a Secretaria Regional da Educação e Cultura.

Estas medidas, referiu o capitão Dias, contribuíram "com certeza para garantir uma maior segurança às próprias populações". O resultado "foi uma demonstração clara de que todos organizados, de forma articulada, conseguimos superar as situações", acrescentou. "Valeu a pena fazer todos os avisos."

O capitão José Dias reafirmou que o alerta não iria ser levantado antes das 18h. "Vamos manter todos os meios e todos os agentes de prevenção até essa hora."

Ainda antes de revelar que o furacão tinha passado a tempestade tropical, o IPMA informou que o furacão, na sua trajectória, tinha passado a leste da Terceira, a ilha dos Açores que tinha “uma elevada probabilidade de sofrer o impacto directo” da situação, mas que acabou por ser afectada pela parte menos activa do fenómeno.

“O furacão passou a cerca de 20 quilómetros a leste da Terceira, que foi afectada, mas pela parte menos activa do furacão”, afirmou à Lusa o meteorologista Carlos Ramalho, da delegação regional dos Açores do IPMA.

Sobre a passagem do furacão pelo grupo Central, o meteorologista esclareceu que a situação tinha começado por acalmar primeiro no grupo "nas ilhas de São Jorge, Faial e Pico”. Quanto ao grupo Oriental, nas ilhas de Santa Maria e São Miguel, "uma melhoria significativa do estado tempo” começaria a verificar-se depois das 15h.

Durante a madrugada e manhã, quedas de árvores no Grupo Oriental e algumas derrocadas neste grupo e no Grupo Central, bem como inundações em habitações "sem necessidade de realojamento" e "sem qualquer tipo de danos de estruturas críticos", foram as ocorrências mais registadas. "Não há perdas de vidas humanas nem feridos a registar", informou o capitão José Dias. As ilhas Terceira e de São Jorge mantêm-se como "as mais críticas".

"É certo que [a situação] merece cautela mas impõe-se também uma nota de serenidade", afirmou na sede da Protecção Civil e Bombeiros dos Açores, na ilha Terceira, num ponto de situação anterior, feito às 9h. Vasco Cordeiro descreveu uma situação de "algum transbordo de ribeiras em ilhas, como o Pico e São Miguel", e explicou que a fase da preia-mar estava ultrapassada, o que permitia "alguma tranquilidade relativamente aos riscos associados" à agitação marítima.

"Estamos todos expectantes. As pessoas estão de prevenção", sabendo que o pico de intensidade será ao fim da manhã, início da tarde, disse ao PÚBLICO Paulo Castelo, presidente da Junta de Freguesia de Ribeirinha, no concelho da Horta, ilha do Faial, uma zona mais rural, onde as pessoas permaneciam esta manhã em casa. Como nos restantes concelhos das ilhas do Grupo Central e Oriental, os serviços públicos, administrativos e regionais e os tribunais estão encerrados. Também as escolas estão fechadas, como determinou a Secretaria Regional da Educação e Cultura.

Alex é o quarto furacão que chega aos Açores no século XXI

Na Horta e noutras cidades como Praia da Vitória, na ilha Terceira, o movimento de pessoas e de carros era quase inexistente a meio da manhã. "Muito poucos carros estão a circular ou estão estacionados. As valetas estão cheias de água, vêem-se poucas pessoas na rua e os estores das casas estão fechados", diz também Célia Pereira, secretária-geral da Santa Casa da Misericórdia da Horta. A instituição mantém abertas apenas as valências de internamento, decidindo fechar as Actividades de Tempos Livres (ATL) e Centro de Actividades Ocupacionais, como recomendado pela Protecção Civil.

Alice Rosa, presidente da Junta de Freguesia da Matriz, uma das freguesias citadinas da Horta, indica que "as pessoas estão a tentar ter alguma precaução" – para não andarem na rua e não se aproximarem das zonas ribeirinhas, de acordo com o que foi recomendado pela Protecção Civil  mas que, de forma geral, "estão habituadas ao mau tempo". A preocupação é maior nas zonas rurais, confirma, e especialmente nas zonas mais viradas a sul e a oeste, que previsivelmente estarão mais expostas aos fortes ventos e precipitação, de acordo com a trajectória prevista do furacão Alex.

Chuva forte e rajadas
O IPMA anunciou que o furacão Alex mantinha as características previstas para a sua passagem nos Açores, apesar de apresentar indícios “de algum enfraquecimento na sua estrutura”.

Um comunicado disponível na página do Facebook da delegação regional dos Açores do IPMA informa também que, de acordo com o centro de Furacões de Miami (EUA), o centro do furacão Alex encontrava-se às 2h "a cerca de 445 quilómetros a sueste do Faial". Dirigia-se "para norte com uma velocidade de cerca de 35 quilómetros/hora [km/h], o que implica a sua passagem sobre as ilhas do grupo central dos Açores durante a manhã”.

“Muito embora haja indícios de algum enfraquecimento na sua estrutura, o Alex deverá manter no essencial as características inicialmente previstas durante a sua passagem nos Açores”, esclarece o IPMA, observando que se mantém a previsão de precipitação forte, ventos com rajadas que podem atingir os 160 km/h e ondas com altura máxima de 18 metros” neste grupo, constituído pelas ilhas da Graciosa, Faial, Pico, São Jorge e Terceira.

O Grupo Oriental (São Miguel e Santa Maria) “será afectado com menos intensidade, com ventos com rajadas na ordem dos 130 km/h, ondas que podem ultrapassar os nove metros e precipitação forte”, adianta o mesmo comunicado, acrescentando que “ao longo da tarde deverá verificar-se uma melhoria do estado do tempo nas ilhas dos referidos grupos”.

Num comunicado divulgado logo de manhã, o Serviço Regional de Protecção Civil e Bombeiros dos Açores anunciou que “durante a madrugada não se registaram quaisquer ocorrências em nenhuma das ilhas dos Açores” e pediu à população que se mantenha atenta às informações divulgadas por esta entidade ou por membros do Governo Regional.

A Protecção Civil adiantava ainda que as 14 corporações de bombeiros dos Açores se mantêm em “estado de alerta”, assim como outros serviços, aconselhando para as próximas horas a desobstrução dos sistemas de escoamento das águas e a retirada de inertes e outros objectos que possam ser arrastados ou criem obstáculos ao livre escoamento das águas.

À população é solicitada ainda “a adequada fixação de estruturas soltas, como andaimes ou placards e outras estruturas montadas ou suspensas”, e a consolidação de telhas, portas e janelas. A Protecção Civil recomenda igualmente um “especial cuidado na circulação junto da orla costeira e zonas ribeirinhas”, alertando que não devem “ser realizadas actividades relacionadas com o mar, nem ao ar livre”.

De tempestade tropical a furacão
O furacão Alex é o primeiro fenómeno meteorológico desta natureza a acontecer no mês de Janeiro em quase 80 anos, de acordo com meteorologistas norte-americanos, motivando a emissão de avisos vermelhos para vento, agitação marítima e chuva para os dois grupos, que vigoram até ao início da tarde.

O aviso vermelho é o mais grave numa escala de quatro e representa uma situação meteorológica de risco extremo.

Alex começou como uma tempestade subtropical, mas devido às velocidades que o vento atingiu esta quinta-feira à tarde acabou por ser classificado pelo Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos como um furacão de classe 1 — a mais baixa de cinco classes, com velocidade de vento entre 119 a 153 quilómetros por hora.

Depois da sua passagem pelos Açores, o furacão vai perder intensidade e transformar-se numa depressão extratropical, explicou ao PÚBLICO na quinta-feira o meteorologista Pedro Viterbo, do IPMA: “O furacão morre ao encontrar águas mais frias, porque perde a fonte de energia.” O seu desaparecimento dar-se-á no meio do Atlântico, à latitude das Ilhas Britânicas.

Pedro Viterbo nomeou ainda os três furacões que anteriormente ao Alex passaram pelos Açores: o Gordon (em 2006), outro Gordon (em 2012) e o Nadine (também em 2012). Quanto às tempestades tropicais e subtropicais que atingiram o arquipélago açoriano, houve até agora três desde o início do século XXI (em 2003, 2005 e 2009), ainda segundo Pedro Viterbo.