Da Chick conquista Eurosonic. Em 2017 Portugal será o país em destaque
Em Groningen, na Holanda, todos os anos os profissionais da música se reúnem no Eurosonic, montra europeia de novos talentos e também de oportunidades de negócios. Em 2017 Portugal será o país em destaque. Esta quinta-feira a cantora portuguesa Da Chick começou a justificar porquê.
É a maior conferência profissional da Europa em termos de música ao vivo, de talentos emergentes e de negócios do sector. Durante três dias os profissionais da música da Europa encontram-se na cidade universitária de Groningen, na Holanda, para uma maratona de conferências, workshops, reuniões de trabalho, oportunidades de negócio e concertos.
O centro da cidade enche-se de gente das mais diversas proveniências. Durante o dia cerca de 4000 profissionais, entre promotores de festivais ou de salas, managers, editores, agentes, académicos ou jornalistas, discutem, interagem ou negoceiam no âmbito das mais diversas plataformas. Depois, à noite, cerca de 40 mil pessoas invadem a cidade para assistir a 345 concertos, de artistas de 42 nacionalidades, divididos por 39 espaços, entre clubes, teatros e bares.
Muitos dos nomes que hoje celebramos passaram pelo Eurosonic antes da notoriedade obtida, como Lykke Li, James Blake, The xx, Anna Calvi, Benjamin Clementine ou Stromae. Para os músicos é uma oportunidade de serem vistos por quem os pode impulsionar. Para os restantes agentes da música é uma ocasião para tomarem o pulso à indústria, projectando o seu presente e futuro próximo. Portugal tem estado representado, mas quase sempre de forma casuística, sem grande estruturação.
Toda a gente o diz. O panorama musical em Portugal, do ponto de vista criativo, é dos mais estimulantes de há muitos anos a esta parte. Falta organizar, estruturar, partilhar conhecimento, apostar na exportação de forma integrada e participar em redes europeias. O Eurosonic é isso.
Todos os anos existe um território que é destacado. Este ano é um conjunto de seis países da Europa do Leste. Em 2017 será Portugal. O anúncio oficial é este sábado, mas a plataforma Why Portugal, resultante de várias associações profissionais da música e da rádio pública Antena 3, já está a trabalhar há meses nessa operação. No próximo ano, Portugal terá oportunidade de apresentar de modo organizado os seus talentos e o corpo da indústria, entre bandas, artistas e restantes profissionais que operam no sector, para dar a conhecer o que se passa no país.
Um dos principais impulsionadores da iniciativa, o vice-presidente da Associação de Músicos Artistas e Editoras Independentes (AMEI), Nuno Saraiva, diz ao PÚBLICO que será uma ocasião para um número alargado de artistas portugueses virem a Groningen – em princípio serão duas dezenas, a serem escolhidos pela organização – para concertos e contactos com promotores, agentes e produtores europeus, numa lógica de afirmação internacional.
“As entidades portuguesas que fizeram a proposta, reunidas na Why Portugal, acabam por funcionar como facilitadores, estruturando a representação portuguesa”, esclarece Nuno Saraiva, no sentido de procurar internacionalizar ou consolidar a divulgação de música noutros países.
“Até agora o que era normal acontecer era virem aqui alguns artistas portugueses e davam um concerto, mas não percebiam muito bem o que se passava e iam para casa de seguida, a não ser que tivessem um manager experiente disponível para ter 30 reuniões por dia com as pessoas certas. O Why Portugal é um veículo para as pessoas virem aqui de forma planeada e profissionalizada e apresentarem os seus projectos, sejam artistas, managers, agentes, editoras, festivais e por aí fora.”
Mas essa participação integrada só acontecerá em 2017. Este ano há várias presenças portuguesas, divididas por algumas redes de trabalho europeias, como o festival Primavera Sound do Porto, o Westway Lab Festival de Guimarães, a sala MusicBox de Lisboa ou a rádio pública Antena 3. Artistas há dois: Da Chick e Branko dos Buraka Som Sistema. A primeira a convite da Antena 3. O segundo do próprio festival.
O segundo já tem cartel, não surpreendendo a fila à porta, às 2 da manhã, na noite de quinta-feira, para o ver actuar no clube Simplon. A primeira é ainda uma novata nestas andanças internacionais, mas nem parecia, tal a desenvoltura com que se apresentou na magnífica sala Huize Maas.
Acompanhada por dois bailarinos e pelo DJ e mestre-de-cerimónias Mike El Nite, Teresa de Sousa, ou seja, Da Chick, deu um espectáculo irresistível, glosando a passagem dos anos 1970 para os 1980, quando Nova Iorque congregava nas suas ruas e clubes a música disco, electro e hip-hop.
Claro que existe no gesto de Da Chick um toque assumido de regresso ao passado, mas é tudo feito com tal distanciamento, ironia, diversão e irresistível entusiasmo que a sala, repleta, se lhes rendeu por inteiro, participando numa celebração que, afinal, ganha novas asas no presente.
Dos muitos concertos que espreitámos na primeira noite do acontecimento europeu, foi o que conseguiu criar um ambiente de maior adesão, sinal mais do que evidente que talento existe em Portugal. Falta potenciá-lo, organizá-lo e saber comunicá-lo ao resto do mundo.
O PÚBLICO viajou a convite da Why Portugal