Série de atentados em Jacarta atribuída ao Estado Islâmico
Vários tiroteios e explosões na capital da Indonésia. Chefe da polícia de Jacarta diz que Estado Islâmico "está definitivamente por trás deste ataque".
Um grupo de militantes com ligações ao Estado Islâmico lançou uma série de ataques na manhã desta quinta-feira no centro da capital da Indonésia, tendo como alvo as forças de segurança locais e estabelecimentos de marcas ocidentais. Os atacantes, todos indonésios, pretendiam limitar a capacidade de resposta da polícia enquanto matavam o maior número de pessoas possível, tal como aconteceu em Paris, em Novembro do ano passado.
O ataque começou por volta das 10h30 locais (3h30 da madrugada em Portugal continental), com seis explosões quase em simultâneo — a mais grave atingiu um pequeno posto de controlo da polícia e um café da cadeia norte-americana Starbucks, na rua Thamrin, uma das mais movimentadas da cidade. Outro alvo foi o centro comercial Sarinah, a poucos metros de distância.
A polícia conseguiu controlar a situação ao fim de três horas, depois de uma troca de tiros com pelo menos três atacantes, que tinham entretanto entrado no cinema Djakarta, localizado no mesmo complexo do café Starbucks.
Depois de várias informações contraditórias, o porta-voz da polícia da Indonésia, Anton Charliyan, acabou por estabelecer o balanço final dos ataques: cinco atacantes mortos, todos indonésios; e duas vítimas civis, uma delas natural do Canadá. Havia a indicação de que a outra vítima mortal era um cidadão holandês, mas o ministro dos Negócios Estrangeiros do país, Bert Koenders, disse que tinha conhecimento de que um seu compatriota estava "gravemente ferido". Nos ataques ficaram ainda feridas com gravidade pelo menos 19 pessoas.
Marca do Estado Islâmico
A autoria do ataque foi reivindicada pelo grupo Estado Islâmico através dos canais que habitualmente usa para comunicar com o exterior, como o site Amaq, que funciona como uma espécie de agência de notícias dos terroristas fundamentalistas religiosos.
"Combatentes do Estado Islâmico levaram a cabo o ataque que teve como alvos cidadãos estrangeiros e forças de segurança responsáveis por protegê-los na capital indonésia", lê-se numa mensagem publicada numa conta do Twitter criada nas últimas horas em nome do site Amaq — devido a denúncias, muitas contas naquela rede social associadas ao Estado Islâmico são encerradas, mas rapidamente são criadas outras.
O chefe da polícia de Jacarta, Tito Karnavian, afirmou que o grupo Estado Islâmico está "definitivamente por trás deste ataque". O responsável adiantou que o militante islamista indonésio Bahrun Naim "estava a planear [o ataque desta quinta-feira] há algum tempo". "É ele quem está por trás disto", afirmou Karnavian.
Antes desta declaração do chefe da polícia de Jacarta, o porta-voz da polícia da Indonésia, Anton Charliyan, disse que o grupo islamista enviou uma mensagem indirecta antes dos ataques. "O aviso dizia que ia haver um concerto na Indonésia, e que seria notícia em todo o mundo", disse Charliyan. O porta-voz não deu mais pormenores, nem disse se essa mensagem foi recebida imediatamente antes dos ataques ou há mais tempo.
"Há suspeitas de que isto seja obra de um grupo indonésio ligado ao Estado Islâmico. Pelo que nos é dado a ver, este grupo seguiu o exemplo dos atentados em Paris", disse o mesmo responsável, referindo-se aos atentados de Novembro do ano passado na capital francesa, executados de forma semelhante — vários grupos de atacantes dispararam e fizeram-se explodir em zonas de grande concentração de pessoas.
O analista político Yohanes Sulaiman disse ao jornal britânico The Guardian que as autoridades podem ter sido apanhadas de surpresa porque "será uma célula nova, provavelmente jovens radicalizados e depois expostos à propaganda do Estado Islâmico".
De qualquer forma, o especialista considera que o ataque foi executado de forma "amadora", porque "o alvo não é claro e, se as indicações disponíveis estiverem certas, seria suposto que eles tivessem entrado no centro comercial, mas depois pararam, dirigiram-se ao posto de controlo da polícia e abriram fogo". Sulaiman, professor na Universitas Jenderal Achmad Yani, partilhou no Twitter as suas ideias sobre a forma como os ataques foram executados: "Sim, o Sarinah era um alvo fácil, mas atacar o posto da polícia foi simplesmente estúpido. Isso impediu-os de terem provocado danos maiores."
Zona com referências ocidentais
Os ataques desta quinta-feira em Jacarta concentraram-se no centro da cidade, na rua Thamrin, numa zona com várias cadeias de restaurantes ocidentais, como a Starbucks, a Pizza Hut ou a Burger King, e vários edifícios de escritórios e representações diplomáticas também ocidentais.
Uma testemunha que trabalha num escritório situado no mesmo edifício do café Starbucks disse que ele e os seus colegas receberam ordens para não saírem dos seus postos quando se registou a primeira explosão. "Foi então que ouvi uma segunda explosão, muito forte", cita a Reuters.
Jeremy Douglas, um representante das Nações Unidas em Jacarta, ouviu e sentiu a primeira explosão quando estava a sair do seu automóvel. Nos minutos seguintes, Douglas contou o que estava a acontecer através da sua conta na rede social Twitter, dando conta de pelo menos seis explosões: "Parece ter sido um bombista suicida, literalmente a 100 metros do escritório e do meu hotel. Agora há tiroteio."
Serious exchange of fire in downtown #Jakarta. Didn't experience this in 3.5 years in #Pakistan
— Jeremy Douglas (@jdouglasSEA) January 14, 2016
Dois bombistas suicidas accionaram os explosivos que transportavam, e outros atacantes refugiaram-se em seguida no cinema Djakarta, no complexo que alberga o café da marca norte-americana. Seguiu-se uma troca de tiros com a polícia e, várias horas depois, registou-se mais uma explosão.
"As janelas do café ficaram estilhaçadas. Vejo três pessoas mortas no meio da rua. Houve um interregno no tiroteio, mas está alguém no telhado do edifício, e a polícia está a apontar as armas na direcção dele", disse um fotógrafo da agência Reuters durante a troca de tiros.
O Presidente indonésio, Joko Widodo, não estava em Jacarta no momento em que os ataques foram lançados, mas regressou imediatamente de helicóptero. Numa declaração feita através das televisões, Widodo pediu aos indonésios que não se deixem amedrontar.
"Não devemos ter medo, não devemos ser derrotados por um acto de terror como este. Estamos todos de luto pelas vítimas e condenamos este acto que perturbou a segurança e a paz e espalhou o terror entre o nosso povo", disse Joko Widodo.
Uma das várias explosões terá sido provocada por um objecto lançado na direcção de um grupo de pessoas, por atacantes que circulavam numa motorizada. "Segundo o relato de testemunhas, eles atiraram alguma coisa, mas não sabemos se foi uma granada ou uma bomba", disse o porta-voz da polícia indonésia.
Para além das vítimas, os ataques coordenados desta quinta-feira deixaram o centro da cidade de dez milhões de habitantes em estado de sítio: um edifício das Nações Unidas foi encerrado e protegido pela polícia, sem que ninguém pudesse sair ou entrar, e os edifícios mais altos foram evacuados.
A Indonésia já foi atacada por vários grupos islamistas no passado, e estava em alerta elevado. É o país muçulmano mais populoso do mundo, com mais de 255 milhões de pessoas, 87% das quais são muçulmanas.