Jorge Coelho diz que presidenciais não são concurso para mister simpatia
No primeiro jantar-comício em Viseu, Maria de Belém teve casa cheia. Ouviu elogios rasgados do ex-ministro que apareceu pela primeira vez na campanha.
Maria de Belém teve esta quarta-feira o seu melhor dia de campanha. Dedicou-o às mulheres e não se cansou de as elogiar. A campanha fez-se em Aveiro, distrito que conhece bem e pelo qual foi eleita deputada duas vezes onde visitou uma fábrica de malas e carteiras na qual trabalham 82 operários, dos quais 85% são mulheres.
Foi para elas que falou, pedindo-lhes directamente o voto nas eleições. ”Gostava que votassem em mim”. Praticamente falou com todas elas e mostrou-se satisfeita com o facto as de operárias ganharem o mesmo que os operários. “Trabalho igual, salário igual”, disse, satisfeita.
É das mãos destas trabalhadoras que saem as famosas carteiras da marca Cavalinho e nesta empresa todos ganham acima do salário mínimo nacional. Reagiu com alguma bonomia às trabalhadoras quando estas lhe pediram para posar para a fotografia e pediu-lhes que cantassem o seu novo lema de campanha: “Vote bem. Vote Maria de Belém”.
Numa intervenção - que obrigou a uma paragem laboral –, a candidata destacou o papel das mulheres na sociedade. “Acho que, em Portugal, nós temos uma maturidade democrática que percebe a importância das mulheres no exercício da vida política”, afirmou, sublinhando que “muitas vezes o que acontece é que, quando se introduzem na tal ajuda política determinadas matérias, elas são consideradas subalternas e é preciso fazer um esforço de investimento na demonstração de que não há matérias subalternas”.
Numas eleições em que há duas mulheres a disputar a Presidência da República, Maria de Belém revela que “muitas sentem que é chegado o momento de ter um exercício da Presidência diferente” e tratou de puxar pela auto-estima feminina, dizendo que elas “podem fazer todos os trabalhos que os homens fazem”.
Mas disse mais: “As mulheres são capazes de fazer várias tarefas ao mesmo tempo”. Apesar dos passos que se têm vindo a dar, a ex-ministra falou das desigualdades entre homens e mulheres, dizendo que a “desigualdade é cultural e demora muito tempo a desaparecer, por isso é que é tão importante continuarmos a investir na igualdade de oportunidades”.
À hora do almoço, Jorge Coelho juntou-se à comitiva, mas só falaria à noite no primeiro jantar-comício da candidatura, onde o primeiro a intervir foi o médico Fernando Girão, mandatário distrital por Viseu.
Jorge Coelho foi arrasador para Marcelo Rebelo de Sousa, acusando-o de não ser coerente, de ser o candidato da direita e de não ter passado para ocupar o lugar de Presidente da República. Ao contrário de Maria de Belém que, afirmou, “tem um pensamento estruturado, maturidade política e uma enorme experiência de 40 anos ao serviço da causa pública”.
O ex-ministro disse que as eleições e o cargo a que se destinam “são demasiadamente importantes para que se assista de vez em quando a um autêntico circo à volta da campanha eleitoral”. “E nós temos de denunciar isto, tem de ser dito por cada candidato ao que vem, para onde quer ir e não podemos aceitar que uma pessoa como o professor Marcelo Rebelo de Sousa que, nos últimos debates, esteve de acordo com todos os candidatos até chegar à hora da verdade, que dizia uma coisa no dia seguinte e no outro dizia outra”, apontou.
Falando para uma sala com mais de 250 pessoas, Jorge Coelho considerou que “cada um de nós tem de olhar para aquilo que os candidatos fizeram até hoje, não para aquilo que estão a dizer que vão fazer agora, mas a maior garantia que podemos ter do que vão fazer depois [das eleições] é aquilo que fizeram durante as suas vidas até hoje”.
“E o que é que nós temos de concreto, de real na vida do professor Marcelo Rebelo de Sousa?”, perguntou. “Eu, que sou comentador de uma televisão, se houvesse um concurso para comentador de televisão, para rei dos comentadores, eu votava no professor Marcelo, não tenho qualquer dúvida; se houvesse eleições para mister simpatia na área da política, votava nele – nunca ninguém me divertiu tanto na minha vida como o professor Marcelo Rebelo de Sousa até hoje”.
Continuando num registo de ironia, o ex-governante referiu: “Eu sou obsessivo por ouvir o professor, porque me divirto imenso e até ando até um bocado deprimido pela falta que ele me faz ao domingo relativamente àquilo que é o seu papel na televisão”. A sala soltou uma gargalhada.
Maria de Belém falou no final, insistiu na sua marca de credibilidade e de entrega à causa pública. A antiga ministra da Saúde e da Igualdade de António Guterres cavalgou a onda de Jorge Coelho e declarou que a candidatura a Presidente da República não é uma brincadeira, capricho ou aspiração tardia.
“Não é só a experiência e a maturidade, a experiência convertida em maturidade, é também a sensibilidade e aí, caras e caros amigos, podem dar muitos beijinhos a muita gente, distribuir muitos abraços, dizerem muitas gracinhas, mas uma coisa é fazerem isto numa campanha eleitoral e outra coisa é transbordar de afecto durante mais de quatro décadas”, sustentou, numa indirecta a Marcelo Rebelo de Sousa.
A candidata presidencial prometeu que consigo na Presidência da República “será defensora dos funcionários públicos e do interesse público”, ao contrário do que aconteceu na Presidência da República que está a terminar onde – frisou – “a função pública foi vilipendiada”.