Marcelo avança com campanha minimalista e a palavra "consensos"
Candidato do centro-direita admite que alinhamento com Governo é um “risco”
Sem cartazes, sem autocarros mas com a sua notoriedade mediática, Marcelo Rebelo de Sousa promete amplificar a mensagem dos consensos numa campanha minimalista que dispensou as estruturas do PSD. Uma campanha de um homem só que contratou um taxista para o levar a quase todos os distritos nas próximas semanas. A abstenção e o alinhamento com o Governo PS são um “risco”, admite o candidato.
O antigo líder do PSD optou por não montar uma estrutura de campanha. “Não tinha dinheiro e não tinha tempo”, justifica o candidato em declarações ao PÚBLICO. Dispensou também qualquer suporte logístico partidário, como os carros de apoio, afastando-se do modelo tradicional de campanhas. O contacto será de proximidade, mas não estão previstas iniciativas como arruadas com apoiantes ou comícios. Escolheu antes fazer sessões com 200 ou 300 pessoas ao final do dia, sem entrar pela noite dentro. “Para ser uma campanha com o meu rosto”.
A sua figura deverá ser mesmo o protagonista já que só preencheu os cargos exigidos por lei – mandatário financeiro (Manuel Brito, contabilista) e mandatários distritais. Abdicou de ter director de campanha e tem duas pessoas a trabalhar com essa função mas num registo informal. Para além de Marcelo só deverão intervir os mandatários distritais. De fora devem ficar os dirigentes do PSD e do CDS ou até os seus líderes, Passos Coelho e Paulo Portas.
Marcelo Rebelo de Sousa assegura que a opção de uma campanha distante das estruturas partidárias também foi fruto das circunstâncias políticas. Após as legislativas de 4 de Outubro, PSD e CDS tinham o governo como prioridade e andavam com a cabeça longe das presidenciais. O apoio ao candidato, com muitas dúvidas da direcção social-democrata, acabou por chegar sob a forma de “recomendação de voto”. É no PSD e no CDS que estará a base do eleitorado da candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, mas as posições mais alinhadas com o Governo socialista nas últimas semanas têm feito franzir o sobrolho nos apoiantes do centro-direita.
O candidato admite que pode estar a afugentar eleitores da sua área política. “É um risco. É evidente que os mais emocionais reagirão”, diz, sustentando que o momento político exige consensos e não divisões. “Nesta fase próxima [o Presidente da República] vai ter que entrar muito com o Governo e não contra”, afirma, rejeitando qualquer intenção de querela institucional no momento que vivem Portugal e a restante Europa. “O país não comporta que isto corra mal”, sustenta.
Esta posição tem levado a que o Marcelo deixe o personagem do comentador televisivo e encarne a prudência nas opiniões que assume. “Achei que devia ser sensato. Tudo o que eu disser pode cair em cima de mim daqui a semanas”, diz, lembrando os exemplos das negociações da TAP ou das subconcessões dos transportes. O candidato garante que será o seu lado mais consensual a prevalecer, mesmo que os opositores lhe venham a atirar pedras.
Com a abstenção como um dos seus maiores inimigos, Marcelo Rebelo de Sousa vai apostar numa mensagem de campanha: “Governabilidade e consensos de regime”. Sem prejuízo de virem a surgir as questões sociais. O candidato tem feito apelos ao voto, mesmo em opositores seus. O receio é que a abstenção venha a reflectir um “esvaziamento do papel presidencial”, ainda para mais numa altura em que se assistiu a uma “parlamentarização”.
A campanha arranca em distritos mais desertificados de Trás-os-Montes – Vila Real e Bragança – e segue por Castelo Branco e Portalegre até terça-feira, dia em que parte para a ilha da Madeira (em que a autonomia regional não será esquecida). No programa até agora divulgado, o candidato tem previstos contactos directos com a população na rua, visitas a instituições e a uma feira gastronómica.
A volta fica a meio gás a 14 e a 18 para Marcelo Rebelo de Sousa presidir a júris de teses de doutoramento, em Lisboa. Dia 19 também volta a parar para estar no debate na RTP com todos os candidatos.
Quase todos os distritos serão percorridos pelo candidato que, no entanto, não deverá passar pelo Alentejo e Algarve (onde esteve na pré-campanha) e pelos Açores (que já visitou em Novembro). Com um orçamento que prevê apenas 157 mil euros (e a que se chegou em parte com empréstimos familiares), a caravana corre o risco de passar despercebida, levando só o carro do candidato e outro com o fotógrafo. Já não será o próprio Marcelo Rebelo de Sousa a conduzir (como aconteceu em alguns momentos na pré-campanha) mas sim um motorista que é taxista de profissão e com quem o candidato costuma trabalhar.
Discreta é também a sede de campanha de Marcelo Rebelo de Sousa não fosse a sua localização: mesmo ao lado do Palácio de Belém, na esquina da Rua Junqueira com a da Calçada da Ajuda. De um antigo café, de que sobraram paredes divididas entre espelho e azulejo, improvisaram-se salas de trabalho que serviram sobretudo para a recolha de assinaturas. Agora parecem à espera do arranque oficial da campanha.