O arquitecto paisagista Kenneth I. Helphand publicou em 2006 um fascinante livro sobre jardins improvisados em tempo de guerra. Estes jardins “desafiadores”, como lhes chama, mantidos em condições extraordinariamente hostis em campos de concentração, guetos, campos de refugiados, trincheiras e cidades arrasadas por bombardeamentos aéreos constituem formas de escapismo à banalização do horror e importantes metáforas de paz, desafiando, de facto, a mobilização geral das sociedades para a destruição através de um acto simples de criação.
O cenário de “A Good Gardener” é um desses jardins. Numa casa em escombros, um desertor cumpre a estranha missão de plantar um jardim que lhe foi destinada por uma figura misteriosa, aparentemente importante no curso da guerra. Esta será a sua contribuição para os esforços de guerra, fornecendo matéria-prima para a produção de armas vegetais que parecem ser particularmente eficazes. A sequência em que um cadete exibe uma dessas armas inusitadas com passos de esgrima lembrará a alguns o famoso “sketch” dos Monty Python sobre exercícios de auto-defesa contra um ataque com frutas, sob o mesmo tema do absurdo das práticas castrenses. De resto, a vida corre sem sobressaltos entre o jardim e os “aposentos”, só perturbada pela escassez ocasional de água e pelos pássaros que procuram sementes, únicos inimigos observáveis, se como tal os pudermos classificar, neste jogo de guerra.
“A Good Gardener” segue a tendência recente de jogos como “This War of Mine” e “Sunset” que deslocalizam a perspectiva para os habituais figurantes na representação da guerra. Já o anterior jogo de Ian Endsley e Carter Lodwick, “Little Party”, é protagonizado por uma figura na periferia, uma mãe que deambula por casa, quase sem ser notada, durante uma festa de adolescentes organizada pela filha. Embora se trate apenas de um exercício de autores à procura de uma linguagem própria que se completa em menos de uma hora, “A Good Gardener” é um pequeno jardim “desafiador” num meio em que predominam as batalhas campais.