Obama enfrenta perguntas difíceis num fórum público sobre armas

“As mortes e os ferimentos provocados por armas são uma das maiores ameaças à segurança do povo americano”, escreveu o Presidente num artigo de opinião.

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AFP/NICHOLAS KAMM

Dois dias depois do discurso emocionado em que prometeu avançar com ordens administrativas para contornar a oposição no Congresso e aumentar o controlo de venda de armas, Barack Obama participou num fórum público e respondeu a perguntas de vítimas de violência que discordam da sua posição. No debate organizado e transmitido pela CNN, o Presidente norte-americano atacou a influente National Rifle Association (NRA) e outros críticos por sugerirem que “alguém vem aí tirar-vos as vossas armas”.

Os responsáveis da NRA foram convidados a participar no fórum moderado pelo jornalista Anderson Cooper, na Universidade George Mason em Faifax, Virginia, mas recusaram. “A NRA não vê motivos para participar num espectáculo de relações públicas orquestrado pela Casa Branca”, informou a associação num comunicado.

“A nossa posição é permanentemente deturpada... Se ouvirem a retórica utilizada é tão exagerada, tão explosiva”, disse Obama. Num artigo de opinião publicado no mesmo dia do debate no jornal The New York Times, o Presidente pediu ajuda “à vasta maioria de portadores de armas responsáveis que choram connosco depois de cada massacre, que apoiam medidas de senso comum e que sentem que as suas opiniões não estão a ser representadas de forma adequada, precisamos que se ergam connosco e peçam aos seus líderes para ouvir as vozes das pessoas que deveriam representar.”

A ausência de representantes do poderoso lobby das armas não tornou a noite de quinta-feira fácil para Obama. O Presidente respondeu a perguntas de uma vítima de violação, da viúva de um homem assassinado, de um xerife do Arizona e do dono de uma loja de armas. Todos lhe pediram que não tornasse mais difícil a obtenção de armas por parte de cidadãos cumpridores da lei.

Taya Kyle, viúva de Chris Kyle, o soldado morto a tiro cuja história foi contada no filme American Sniper, disse ao Presidente que leis mais restritivas só servirão para punir as vítimas. “As leis que nós criamos não impedem estas coisas horríveis. Essa é uma verdade muito difícil de engolir”, afirmou Kyle, defendendo que o aumento da verificação dos antecedentes criminais e do perfil psicológico dos compradores que Obama quer alargar a todas as transacções de armas não vai parar os criminosos.

“Como é que a sua Administração não vê que estas restrições vão tornar mais difícil que eu tenha uma arma?”, perguntou a Obama uma mulher chamada Kimberly, vítima de violação. “Eu já fui vitimizada de uma forma indescrítivel uma vez e recuso deixar que isso aconteça outra vez, a mim ou aos meus filhos.”

Nas respostas, o Presidente defendeu que a ideia de que a maioria dos criminosos conseguem as suas armas de forma ilegal não corresponde à verdade. “Todos concordamos que faz sentido fazer o que pudermos para impedir que pessoas possam fazer mal aos outros ou a si mesmos possam adquirir armas.”

“Pelo menos vamos compreender o problema. Vamos tentar algumas coisas”, disse Obama, apelando aos norte-americanos para se unirem na defesa de um conjunto de medidas que ele acredita poderem impedir milhares de mortes e os massacres em escolas, cinemas ou igrejas que regularmente têm chocado o país.

“O facto de um sistema não apanhar todas as pessoas não pode ignorar o facto desse sistema poder salvar uma série de famílias da dor que algumas pessoas nesta audiência tiveram de suportar”, disse Obama, repetindo um argumento que usou para responder a Paul Babeu, xerife do Arizona. Babeu, apresentado como republicano que vai concorrer para o Congresso, disse que medidas administrativas não vão impedir os massacres que levaram o Presidente a defender um maior controlo no acesso a armas. “Como é que vamos fazer com que eles cumpram as leis?”, perguntou Babeu, referindo-se aos criminosos.

Não escondendo o sarcasmo, Obama desejou sorte na candidatura de Babeu ao Congresso. O Presidente anunciou que não fará campanha por nenhum candidato democrata que não apoie estas reformas, dizendo que quer líderes suficientemente corajosos para se erguerem contra “as mentira dos lobbys das armas”.

No artigo publicado no New York Times, Obama repetiu que não vai “fazer campanha, votar ou apoiar” qualquer candidato que se oponha a medidas de “senso comum”. No essencial, o que a Casa Branca anunciou no início da semana passa por alterar uma lei que permite a muitos pequenos comerciantes (ou vendedores em feiras) não terem de exigir provas de antecedentes criminais e psiquiátricos, leis mais severas para o registo de armas roubadas ou perdidas.

Obama pediu ainda ao Congresso para aprovar o investimento de 500 milhões de dólares no tratamento de doenças psiquiátricas e anunciou que o FBI vai poder contratar mais 230 funcionários para a equipa que investiga os antecedentes dos comprados de armas.

“A epidemia da violência das armas no nosso país é uma crise. As mortes e os ferimentos provocados por armas são uma das maiores ameaças à saúde pública e à segurança do povo americano”, escreveu o Presidente no artigo.

“Todos temos de exigir aos nossos governadores, mayors e representantes no Congresso para fazer a sua parte”, defendeu. “A mudança não vai acontecer de um dia para o outro. Mas garantir o direito de voto às mulheres também não aconteceu de um dia para o outro. A libertação dos afro-americanos também não. Fazer avançar os direitos das lésbicas, dos gays, dos bissexuais e dos transgender americanos foi um trabalho de décadas”.

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