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Fragilidade chinesa faz regressar receio de uma crise financeira internacional

George Soros diz que situação actual lhe faz lembrar a crise de 2008. Investidores refugiam-se em activos seguros, fazendo cair valor das acções e matérias primas.

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REUTERS/Stringer

“É tempo de dar um passo atrás para reavaliar a situação”: a frase, dita pelo presidente de uma gestora de fundos europeia, expressa a apreensão e receio que se sentem nos mercados, depois de, nos últimos três dias, se terem perdido perto de dois biliões de euros de capitalização bolsista no Mundo.

Fugir do risco, reduzir posições nas acções, deixar de apostar nas matérias-primas e confiar principalmente em activos quase 100% seguros como o dólar, o ouro ou as obrigações de tesouro alemãs passou a ser a estratégia usada perante uma situação que para alguns faz lembrar o início das crises financeiras mais graves das últimas décadas. “Quando olho para os mercados financeiros encontro desafios sérios, que me recordam aqueles que enfrentámos em 2008”, afirmou esta quinta-feira George Soros, um dos investidores mais conhecidos dos mercados, citado pela Reuters.

Desta vez, contudo, ao contrário do que aconteceu em 2008, não são os Estados Unidos que estão no centro do drama. Apesar de alguma da incerteza estar também relacionada com a forma como a economia mundial irá responder ao fim de uma política monetária expansionista na Reserva Federal norte-americana, neste momento é na China que os pensamentos e as preocupações dos investidores se concentram.

Há muito que se temia que o abrandamento da China fosse maior do que o esperado, retirando ao mundo o seu principal motor de crescimento das últimas décadas. Mas agora essa suspeita atingiu níveis mais elevados, perante os sinais cada vez mais claros, de que as autoridades de Pequim não têm capacidade neste momento para lidar com a crise, tanto na economia como nos mercados.

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Esta quinta-feira, tudo começou com o anúncio diário do Governo sobre o ponto médio da cotação internacional da divisa chinesa. O iuan passou a valer menos 0,5% face ao dólar, o oitavo dia consecutivo de queda e a desvalorização diária mais acentuada desde Agosto do ano passado, durante a mais recente crise financeira na China.

Este anúncio colocou de imediato os investidores à beira de um ataque de nervos. É que nos mercados fazem-se duas possíveis leituras para estas consecutivas desvalorizações do iuan, e nenhuma delas é boa.

A primeira é a de que o Governo chinês abandonou a promessa de não interferir tanto nos mercados cambiais e voltou à estratégia de estimular a economia por via de uma forte depreciação da moeda que faça subir a competitividade da sua indústia exportadora. Neste caso, o que isso confirmaria é que o abrandamento da economia chinesa está a ser mais forte do que se suponha. “As pessoas estão a dizer ‘Meu Deus, o crescimento está bem pior do que estávamos à espera!’”, resume um analista, em declarações à agência Reuters.

A outra leitura que está a ser feita é que são os mercados, e não o Governo, que estão a forçar esta depreciação. Neste caso, o que o que isso significaria é que as autoridades estavam a sentir dificuldade, apesar da enorme quantidade de divisas externas acumuladas,  em fazer face às forças do mercado, dando um sinal de não estarem, como aconteceu quase sempre no passado, a controlar a situação.

Trinta minutos na bolsa
Neste cenário, ficaram reunidas todas as condições para que o arranque das transacções na bolsa de Xangai pudesse ser mais um desastre nesta quinta-feira, semelhante ao que já tinha acontecido na antevéspera. E, de facto, foi ainda pior.

Bastou um quarto de hora para o principal índice de mercado chinês perder 15% do seu valor, activando a regra de suspensão temporária (durante 15 minutos) da transacção de acções. Quando voltaram a ser negociadas, a queda chegou num ápice aos 7%, o limite definido pelas autoridades para que a sessão seja terminada. Foi a sessão mais curta de sempre na bolsa chinesa, deixando no ar a ideia de que, se se tivessem voltado a reatar as transacções, a queda seria ainda maior.

Também na forma como tem reagido a estas quedas abruptas do mercado, as autoridades têm dados sinais claros de fraqueza. As regras de suspensão das transacções ao fim de quedas de 5% e 7%, que entraram em vigor precisamente no início deste ano, foram acusadas de aumentar ainda mais a intranquilidade nos mercados, e as entidades reguladoras decidiram, ao fim de três dias de experiência, recuar, deixando de as aplicar.

Por outro lado, em Agosto, depois de dias de fortes vendas, as autoridades decidiram limitar temporariamente as vendas por parte dos accionistas que detivessem mais de 5% dos títulos de uma empresa. Perante o receio de que estes accionistas acabassem por voltar a fugir, esta limitação foi prolongada. O Governo de Pequim parece assim hesitar entre medidas de controlo dos mercados, que têm tido o efeito de afugentar ainda mais os investidores, e medidas de maior liberalização, que mostrem qual é verdadeiramente o sentimento nos mercados em relação à China.

2008 ou 1998?
Na Europa e nos Estados Unidos, as notícias que chegam logo de madrugada vindas da China têm tido como resultado uma queda também significativa do valor das acções, concretizando o pior arranque de ano nos mercados desde 2000. Esta quinta-feira, a bolsa de Nova Iorque registou uma queda de 2,3%. O índice das principais acções europeias caiu 2,2%, com descidas de 2% em Londres, 2,3% na Alemanha e 1,7% em Paris.

Será este um sinal de que podemos estar a caminhar, como afirma George Soros, para um cenário semelhante ao de 2008, quando a crise do mercado subprime norte-americano afundou os mercados mundiais?

A existência desta dúvida, só por si, já será motivo de inquietação para muitos investidores, mas para a maior parte dos economistas esse não é o cenário mais provável. A crise financeira que mais vezes é comparada com a situação actual é a vivida em 1998, quando vários países do continente asiático sofreram uma fuga de capitais repentina e geraram uma convulsão nos mercados internacionais com consequências em todos os continentes.

É que, com a China a depreciar tão rapidamente a sua divisa, os outros países asiáticos vão sentir-se pressionados a fazerem o mesmo com as suas moedas, para não perderem competitividade face aos chineses nos mercados de exportação. Isso pode, contudo, gerar problemas sérios nas empresas e bancos que se endividaram em dólares e incentivar a saída de investidores estrangeiros desses países.

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