Nóvoa vincula-se à convergência da esquerda, Edgar Silva diz-se atestado pelo PCP
Num debate na TVI, ambos os candidatos concordaram em recompensar melhor o trabalho face ao capital.
O candidato presidencial Sampaio da Nóvoa vinculou-se nesta segunda-feira à convergência da esquerda no debate televisivo com o comunista Edgar Silva, que sublinhou ter "certificado de garantia" do PCP, concordando ambos em recompensar melhor o trabalho face ao capital.
"Ao longo dos últimos anos, participei em muitas iniciativas do PS, do PCP e do BE também. Isso não me vincula a nenhum desses partidos. Vincula-me a um objectivo de convergência, uma unidade em torno de políticas de mudança em relação aos últimos anos de austeridade", afirmou o antigo reitor da Universidade de Lisboa, nos estúdios da TVI.
O membro do Comité Central comunista tinha assumido que o apoio explícito por parte do PCP à sua candidatura era "um certificado de garantia", ao passo que o seu opositor, apesar de ter estado presente num "congresso do PS, de usar da palavra, não conseguiu, se calhar, os apoios que pretendia e acabou por estar associado a uma facção dos apoiantes do PS".
"Em relação àqueles que são carentes de direitos, objectivos de justiça social e de interesse nacional, Portugal não pode continuar a ser um dos países onde a injustiça na redistribuição de rendimento é a mais vergonhosa — a maior parte para o capital, a menor para o factor trabalho", condenou Edgar Silva, merecendo a concordância de Sampaio da Nóvoa, que previu que os dois vão "estar de acordo... em vários momentos desta campanha".
O professor universitário defendeu a independência nacional, a unidade do Estado e o regular funcionamento das instituições democráticas como prioridades para o mandato como Chefe de Estado, assente na soberania, no Estado Social e de direito e na defesa da Constituição da República.
"Não há nenhum problema que se resolva no século XXI que não passe pelo conhecimento em todas as áreas. O país real é tão real dentro de uma escola, como dentro de um hospital, freguesia do interior ou fábrica. Da capacidade de unir estes diversos conhecimentos é que se pode fazer o Portugal futuro", respondeu, confrontado com o facto de protagonizar uma candidatura de elite.
O ex-padre madeirense e deputado regional comunista contrapôs que "não basta apostar nestas componentes [educação, ciência e tecnologia], se outros eixos forem descurados", como a "capacidade produtiva", além de prestar atenção ao "grito dos pobres, o clamor dos trabalhadores em Portugal e da Terra", referindo-se às questões ambientais.
Ambos os candidatos prometeram executar as funções na Presidência da República em "proximidade", com Sampaio da Nóvoa a citar as "presidências abertas" de Mário Soares, garantindo estar em campanha "com muita alegria, enorme empenho, sem dependências" e apresentando-se ao povo português "com toda a liberdade".
Edgar Silva apressou-se a dizer que protagonizaria presidências abertas, "de quem não fica à espera de pedidos de audiência", mas "sem ostentação, de forma simplificada".
Questionado ainda sobre a Coreia do Norte como possível destino de uma visita de Estado, o militante comunista afirmou que "seria o último lugar do Mundo em que pensaria", frisando que Portugal deve ter "relações de cooperação com todos os Estados" e "respeito pelas decisões das Nações Unidas".