“Refugiado” é a Palavra do Ano 2015
“Terrorismo” ficou em segundo lugar e “acolhimento” em terceiro na lista de palavras que a Porto Editora pôs a votação no início de Dezembro. Mais de 20 mil portugueses participaram na escolha online.
A palavra “refugiado” foi eleita por cerca de seis mil pessoas (31% dos participantes) para definir o ano que passou em 2015. A Porto Editora anunciou o resultado da sétima edição da Palavra do Ano nesta segunda-feira de manhã, na Biblioteca Municipal José Saramago, em Loures, com a presença de Rui Marques, mentor da Plataforma de Apoio aos Refugiados.
Assim se define o nome e adjectivo masculino “refugiado”: “Que ou pessoa que se refugiou ou abrigou” e também “que ou pessoa que abandonou o seu país para escapar a guerra, fome, condenação, perseguição, etc. e que encontrou refúgio noutro país”. É ainda o “particípio passado de refugiar”.
As duas palavras que se lhe seguiram em volume de votos, mas a alguma distância, foram “terrorismo” (17%) e “acolhimento” (16%), conceitos de certa forma relacionados com o vencedor.
Para Paulo Gonçalves, do gabinete de comunicação e imagem da Porto Editora, “quando olhamos para a listagem final, facilmente percebemos ‘o filme’ do que se passou durante o ano”, são palavras que “espelham o passado” e servem de “memória futura”.
A chegada à lista das dez palavras sujeitas a votação pelos portugueses em Dezembro resulta do levantamento ao longo do ano do “comportamento da língua na comunicação social, nas redes sociais e nas pesquisas nos dicionários online da Porto Editora”, descreve ao PÚBLICO Paulo Gonçalves, que acredita que estas revelam “a força da nossa língua” e “traduzem os acontecimentos fortes no mundo”. Nesta recolha, há também a preocupação de abranger “as várias áreas do quotidiano e do saber”. Segundo o profissional de comunicação, a iniciativa comprova que “é a língua que faz os dicionários e não o contrário”.
Estiveram também em votação os vocábulos “esquerda” (8% das escolhas), “drone” (7%), “plafonamento” (6%), “bastão de selfie” (5%), “festivaleiro” (4%), “superalimento” e “privatização” (ambos com 3%).
A iniciativa de encontrar uma palavra que sintetizasse o ano começou em 2009 e foi de imediato bem acolhida pelos leitores, o que faz com que a editora garanta a sua continuidade. “É tão certa como o Natal”, diz, divertido, o porta-voz da Porto Editora, que acredita que este exercício de “resumir o ano é uma prática que marca e que fica”. Agrada-lhe também a discussão que habitualmente se desencadeia após o anúncio da palavra vencedora.
Na primeira edição, ganhou a palavra “esmiuçar” (consequência do programa com o título Gato Fedorento Esmiuça os Sufrágios); em 2010, a escolha foi para “vuvuzela” (“a revelar o peso da indústria do futebol”); em 2011, “austeridade”; em 2012, “entroikado”; em 2013, “bombeiro” e, em 2014, “corrupção”.
E quais são as palavras do ano do PÚBLICO?
As palavras vencedoras dão-nos conta, segundo Paulo Gonçalves, de “que a realidade não tem sido fácil, há poucos factos positivos e ficamos sempre tentados a escolher algo mais optimista, mas temos de ser rigorosos sobre o que aconteceu”. Daí o esforço para que a lista seja criada de “forma objectiva, rigorosa e com o máximo de bom senso”.
Fala na “responsabilidade desta hiper-sondagem aos leitores” e lembra que “a última palavra sobre a Palavra do Ano é dos portugueses, que a escolhem livremente, sem qualquer constrangimento ou ganho”.
O que o porta-voz da editora e a sua equipa desejavam era que no próximo ano a lista de palavras a votação integrasse conceitos mais positivos, como “crescimento”, “desenvolvimento” e “paz”.
Justificações da Porto Editora para a escolha das dez palavras a votação
Acolhimento
A protecção dada aos sobreviventes, na sequência de guerras, atentados ou catástrofes naturais, e a forma como os diferentes países interpretaram o dever humanitário de concretizar essa protecção deram destaque a esta palavra.
Bastão de selfie
Este instrumento para dispositivos móveis, facilitador da captação de auto-retratos a maior distância e com melhor ângulo, foi recebido com alguma estranheza, mas o seu uso acabou por se impor e se banalizar.
Drone
Cada vez mais utilizado pelos militares para efectuar reconhecimentos e ataques à distância, este aparelho voador, reinventado sob a forma de pequenos dispositivos telecomandados acessíveis ao público em geral, ganhou uma enorme popularidade.
Esquerda
Esta palavra ressurge no quotidiano dos portugueses a partir do muito discutido e inédito entendimento entre os diferentes partidos de esquerda, com vista à formação de Governo, ante a impossibilidade de outra maioria absoluta em resultado das últimas eleições legislativas.
Festivaleiro
Na cidade ou no campo e para todos os gostos musicais, são cada vez em maior número e mais importantes os festivais que, ao longo do ano, apelam a este tipo especial de público.
Plafonamento
Embora a possibilidade de plafonamento, no âmbito da reforma do Estado, esteja prevista na lei desde 1984, o termo ganhou renovada visibilidade durante a última campanha eleitoral, à luz das propostas políticas apresentadas para a reforma da Segurança Social.
Privatização
Depois de grandes empresas públicas como a EDP, CTT e REN passarem para o controlo de privados, as vendas da CP carga e especialmente da TAP em 2015 voltam a lançar o termo privatização para o centro de acesas discussões.
Refugiado
O incremento de conflitos armados e a rápida desestruturação social nos países do Médio Oriente, particularmente na Síria, originou um êxodo massivo de pessoas que, deixando tudo para trás, na esperança de encontrarem um futuro melhor na Europa, arriscam a vida em processos migratórios altamente perigosos, e que muitas vezes têm um final trágico.
Superalimento
Fruto de uma crescente consciencialização relativamente ao que ingerimos, esta palavra surge para descrever os alimentos, geralmente de origem natural, cuja concentração ou combinação de nutrientes essenciais trazem especiais benefícios para a saúde.
Terrorismo
O ano ficou tristemente marcado pelo elevado número e indescritível violência dos ataques terroristas que ensombraram o mundo, perpetrados em inúmeros países, nomeadamente em França, na Dinamarca, no Quénia, no Líbano, na Tunísia, na Turquia e no Mali.