Portugueses descobrem que proteína pode ser fundamental na doença de Parkinson
Grupo liderado por Sandra Tenreiro e Tiago Outeiro, da Universidade Nova de Lisboa, estudou mais em pormenor a proteína beta-sinucleína
Uma equipa de investigadores portugueses descobriu que uma proteína, até agora subvalorizada na doença de Parkinson, pode, afinal, desempenhar um papel importante. O grupo liderado pela dupla Sandra Tenreiro e Tiago Outeiro, do Centro de Estudos de Doenças Crónicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, estudou mais em pormenor a proteína beta-sinucleína, semelhante a uma outra, da mesma família, a alfa-sinucleína, que é tida como crucial no desenvolvimento da doença degenerativa.
A equipa detectou que a beta-sinucleína poder ser igualmente tóxica para as células e interage com a alfa-sinucleína. Para Tiago Outeiro, a descoberta pode ser promissora. "Talvez possamos utilizar esta proteína [a beta-sinucleína] como alvo terapêutico [para a doença de Parkinson], testar estratégias capazes de interferir com a toxicidade desta proteína", afirmou à Lusa, acrescentando que se trata de uma das metas para futuros estudos.
A sua equipa estudou a toxicidade da proteína beta-sinucleína na levedura, célula simples, mais fácil de manipular geneticamente, mas cujo funcionamento não difere muito do da célula humana, explicou o investigador. Posteriormente, o grupo validou os resultados em linhas celulares humanas, linhas derivadas de células do cérebro, mas cultivadas em laboratório. Em ambos os casos, as células entraram em "stress" e morreram quando produziam "níveis mais elevados" da beta-sinucleína. "Mais do que demonstrar a toxicidade da proteína beta-sinucleína, o nosso estudo abre portas a novas perguntas e relembra-nos que há ainda muito a fazer para se compreender a base molecular destas doenças a que chamamos sinucleinopatias", como a doença de Parkinson, assinalou Tiago Outeiro, citado num comunicado divulgado esta quarta-feira pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.
O investigador sustenta que "o desenvolvimento de terapias eficazes passa por primeiro entender os mecanismos moleculares que estão na origem da doença", salientando que, "até agora, era sabido que a formação de aglomerados da proteína alfa-sinucleína no cérebro é um aspecto central na doença" de Parkinson. Os neurónios (células do sistema nervoso) afectados "acabam por morrer, o que dificulta a transmissão de mensagens no cérebro e o controlo do movimento, levando ao aparecimento da doença", precisou, na mesma nota.
Os resultados da investigação foram publicados na revista científica Human Molecular Genetics. A doença de Parkinson, que não tem cura, afecta os movimentos corporais, conduzindo a tremores, rigidez, instabilidade na postura e a alterações na marcha, descreve a Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson, na sua página na internet. A patologia aparece quando os neurónios de uma determinada região do cérebro, chamada substância negra, morrem, sendo que, "quando surgem os primeiros sintomas, já há perda de 70 a 80 por cento destas células", adianta a associação. Segundo o comunicado da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, a doença de Parkinson atinge cerca de 20 mil pessoas em Portugal.