A criada malcriada

Léa Seydoux é extraordinária numa adaptação inteligente mas indecisa do romance que Renoir e Buñuel também já filmaram.

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Uma criada espartilhada pela rígida sociedade da viragem do século — e pelas suas lutas surdas de estatuto e de classe

A terceira investida cinematográfica pelo romance de Octave Mirbeau tem de se haver com o peso das versões anteriores: Jean Renoir com Paulette Goddard (em 1946) e Luis Buñuel com Jeanne Moreau (em 1962). Benoît Jacquot arranca uma interpretação extraordinária de Léa Seydoux no papel de Célestine, a criada de 1900 espartilhada por uma sociedade rígida e hipócrita contra a qual passa a vida a resfolegar; desenha eficazmente um retrato tenso e atento dos pequenos jogos de poder e das lutas surdas de estatuto e de classe que definem as rotinas quotidianas na mansão dos Lanlaire.

Nesse movimento, Diário de uma Criada de Quarto transforma-se numa espécie de “prolongamento” de um anterior filme do cineasta, Adeus Minha Rainha (2012), que usava também uma história de época para debater os jogos sociais femininos de poder e sedução. É, contudo, um filme menos interessante, mais indeciso, porque no terceiro acto esboça uma aproximação ao thriller sensual mais sugerida do que trabalhada e algo desconexa com o que veio antes. É pena, há uma enorme inteligência formal e atmosférica em Jacquot e uma extraordinária atenção aos detalhes e aos actores que se perde na indefinição em que tudo termina. Léa Seydoux, contudo, vale por si só o bilhete.

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