Centro Hospitalar do Algarve abre inquérito a incidente com um utente nas urgências
O pai de um doente que estava nas urgências de Faro protestou contra o tempo excessivo de espera. Os profissionais de serviço chamaram a polícia.
O Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Algarve (CHA) anunciou a abertura de um inquérito para averiguar se houve responsabilidade de algum profissional num desentendimento com um utente, na urgência de Faro, na madrugada de sexta-feira, disse o presidente.
De acordo com o jornal Correio da Manhã, o utente Mário Castro decidiu ir às Urgências do Hospital de Faro, na madrugada de sexta-feira, por ter o filho "a vomitar sangue". Mas, perante a demora no atendimento, decidiu confrontar um médico, acabando por ameaçá-lo. Segundo a mesma fonte, terá havido pelo menos mais três utentes que apresentaram queixa devido à demora no atendimento nas Urgências do hospital de Faro, durante a madrugada.
"Quando chegámos, pouco depois da meia-noite, colocaram no meu filho uma pulseira laranja, o que indica a gravidade do problema", referiu ao Correio da Manhã Mário Castro. O tempo foi passando e, já depois da 1h00, com o filho a contorcer-se com dores no chão, Mário não aguentou e decidiu confrontar um médico. "Ele disse-me na cara que se não estava satisfeito podia esperar até de manhã antes de ser atendido. Alterei o meu comportamento, passei para a ignorância e ofendi-o", reconhece.
A segurança do hospital teve de intervir e, depois, foi mesmo chamada a PSP. "De repente, vi-me com quatro seguranças e dois polícias à minha volta, quase a prenderem-me. Decidi pegar no carro e ir para o Hospital Particular, onde trataram o meu filho, como ele devia ter sido tratado aqui", continua Mário Castro. "Pago impostos mas tive de ir para o privado para tratarem o meu filho", desabafa.
Segundo o Correio da Manhã apurou, nas primeiras horas da madrugada de ontem, cerca de 20 pessoas recorreram às Urgências do Hospital de Faro. E, durante duas horas, até depois das 2h00, os utentes garantem que ninguém foi chamado para ser observado por um médico, o que motivou as três outras queixas.
O presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Algarve, Pedro Nunes, explicou este sábado à agência Lusa que, na sexta-feira, às 3h00, houve um "utente que protestou com mais agressividade" pelo tempo de espera na urgência e isso obrigou a que fosse chamada a polícia para acalmar os ânimos.
O mesmo responsável considerou que esse tempo de espera é "normal" para pessoas que na triagem de Manchester são classificadas com a pulseira verde, a que é colocada a utentes que sofrem problemas de menor gravidade e que, segundo Pedro Nunes, "devem ser tratados em centros de saúde".
"Mas as urgências recebem pessoas diferentes, umas com mais calma, outras com menos paciência, uns com mais álcool no sangue, outros com menos, e estas situações acabam por acontecer. Tudo ficou resolvido, as informações de que dispomos apontam para um 'quid pro quo' [expressão latina que significa "tomar uma coisa por outra"], mas mesmo assim vamos ordenar na segunda-feira a abertura de um inquérito para apurar se houve ou não responsabilidade de algum profissional", afirmou Pedro Nunes.
O responsável da administração do centro hospitalar reconheceu que "o segurança que estava de serviço também pode não ter tido a maior calma" e a escalada de agressividade levou à chamada da polícia, que "acalmou os ânimos" e "resolveu a situação", que se deu quando "dois dos médicos que estavam de serviço nas urgências se encontravam a realizar um período de descanso e um tinha ficado atender".
Na sexta-feira, fonte do CHA dissera à Lusa que "não tinha havido desacatos" nas urgências durante a madrugada e "apenas tinha havido um utente que protestou agressivamente pelo tempo de espera", obrigando os profissionais de serviço a chamar as autoridades.
Já hoje, a Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve anunciou que "as equipas em serviço nas urgências do Hospital de Faro foram reforçadas para fazer face à procura e eventual acréscimo de afluência de utentes àquela unidade". Em comunicado, a ARS especificou que esta medida foi tomada de imediato na sequência de uma notícia veiculada na comunicação social, na sexta-feira, dando conta de um alegado "caos nas urgências do Hospital de Faro".
A ARS disse ainda que o CHA – que integra as unidades hospitalares de Faro, de Portimão, de Lagos e os Serviços de Urgência Básicos de Albufeira, Loulé e Vila Real de Santo António – está a monitorizar a afluência, para assegurar que todas as unidades de saúde estão preparadas para, em caso de necessidade, "responder de forma articulada" a um aumento de procura nos próximos dias.