The Gift: o coroar de duas décadas no Meo Arena
Banda portuguesa celebra 20 anos de carreira com um concerto especial na maior sala de espectáculos. John Gonçalves promete um momento único, irrepetível. Todos os discos vão ser tocados.
Já lá vão 20 anos desde que começámos a ouvir os The Gift. Duas décadas repletas de concertos, sucessos e transformações. OK! Do You Want Something Simple? foi o primeiro single de uma série de canções que se multiplicaram no tempo. Sónia Tavares, Nuno Gonçalves, John Gonçalves e Miguel Ribeiro já pisaram praticamente todos os palcos do país e neste sábado chegam ao maior deles todos, o Meo Arena, em Lisboa. É o coroar de uma carreira que a banda prevê ainda longa e por isso o concerto desta noite será tanto um regresso ao passado como um salto para o futuro. “Vai ser o espectáculo da vida dos Gift porque não vamos repeti-lo mais”, assegura-nos o baixista John Gonçalves.
20 anos nunca são apenas 20 anos. Não o são na vida de ninguém, muito menos de uma banda. Em 20 anos cabem várias vidas, vários discos, várias canções, vários concertos, várias histórias. Os The Gift não são excepção e a prova disso é a caixa especial que acabam de editar, onde cabe toda a história da banda. Um livro, assinado por Nuno Galopim, dá-nos a passagem do tempo nas palavras e recordações dos próprios músicos e os quatro DVD ao mesmo tempo que nos transportam para o que passou, para o início dos inícios, também nos traçam a história dos The Gift. Somam-se ainda quatro CD com as raridades e as versões guardadas na gaveta até ao novo disco duplo, 20. Porque 20 anos são 20 anos.
“O que se celebra nos 20 anos é muita coisa junta para eu poder dizer que alguma vez esperei chegar aqui. Se há 20 anos, no primeiro ensaio, alguém nos dissesse que íamos fazer isto, caíamos para o lado”, diz ao PÚBLICO John Gonçalves. “Agora, obviamente que neste processo, eu não me espanto porque também sabíamos bem o que íamos conquistando”, continua o músico, explicando que a celebração da carreira dos The Gift culmina neste sábado com um concerto especial no Meo Arena, em Lisboa, já depois de se terem apresentado há uma semana no Pavilhão Multiusos de Guimarães.
Palcos grandes não lhes são estranhos, afinal já encheram os Coliseus de Lisboa e do Porto e já chegaram aos maiores festivais de Verão, mas para John Gonçalves o Meo Arena não é comparável. “A grande diferença aqui para todos os outros concertos da nossa vida é que agora tivemos uma arena para criar. A dimensão é gigante e nós quisemos montar um espectáculo íntimo, teatral, com vários momentos, usando uma cenografia evoluída, usando muito bem as potencialidades do Meo Arena”, explica o baixista, contando que nada foi deixado ao acaso. É para ser o espectáculo da vida da banda, garante. “Estamos a falar de um espectáculo musical que passa por todos os momentos da vida dos Gift. Todos os discos vão ser tocados no Meo Arena. Partindo deste princípio fomos à procura do conceito”, continua, com a certeza de que um concerto destes não se repete: “Se posso fazer uma Aula Magna e replicá-la para o Theatro Circo, em Braga, eu não posso passar o Meo Arena para mais nenhum outro sítio em Portugal”.
“Vai ser especial. Estamos a trabalhar com entusiasmo, como se fosse o nosso primeiro concerto”, diz John Gonçalves, cujas expectativas cresceram depois do espectáculo de celebração em Guimarães. “Foi uma agradabilíssima surpresa. Foi muito emocionante ver pessoas na plateia que eu já não via há imenso tempo. De repente vi ali, 50, 60, 100 pessoas que via nos concertos antigos, voltaram com os filhos, os sobrinhos e isso foi emocionante”, conta, revelando que ao fim de 20 anos a banda já não se preocupa em encher salas mas se isso acontece então ganha uma motivação extra para actuar.
Avaliando toda a produção pensada para o Meo Arena, que terá uma forte componente cénica e audiovisual, poder-se-ia pensar que o concerto desta noite também poderá vir a dar um DVD mas John Gonçalves garante que esse não é objectivo, nem foi essa a preocupação dos The Gift. “Em Guimarães percebemos que isto tinha potencial para ser gravado e vamos gravá-lo mas planeámos mais o espectáculo para as dez mil pessoas que vão estar. Logo veremos o que vamos fazer com a gravação.”
Quando olha para trás, é o ano de 1999 que o músico tem claramente marcado. Foi neste ano, com apenas Vinyl editado, que aconteceu o concerto na Aula Magna, em Lisboa, onde o palco acabou invadido pelos fãs e foi nessa noite que os concertos para Paredes de Coura e para o Sudoeste foram marcados. “Tecnicamente não é o melhor espectáculo do mundo mas é altamente emocional e marca para nós o início de uma carreira”, recorda, contando que só em Agosto deste ano é que a banda voltou a ver a gravação desse concerto, que foi também incluída no DVD. “Aquilo foi gravado e na altura pensávamos que as cassetes se tinham perdido porque a equipa que gravou deu-as a alguém e apagou o backup que tinha e depois ninguém tinha as cassetes”, lembra o músico, explicando que foi quando mergulharam no passado para esta edição especial de aniversário que encontraram os registos desse concerto.
Mas o ano de 1999 não se faz apenas de boas recordações e por isso é que é tão marcante. Depois da euforia da Aula Magna, depois da euforia de Paredes de Coura, depois da euforia do Sudoeste, os The Gift avançam para uma produção própria na praça do Mosteiro de Alcobaça. “Conseguimos amealhar algum dinheiro no Verão e investimos neste concerto. Chegámos ao dia e choveu torrencialmente e não tínhamos plano B. Tivemos de cancelar tudo e devolver o dinheiro às pessoas e pagar todos os custos inerentes (promoção, marketing)”, conta John Gonçalves, com a certeza de que este foi o pior momento da banda até agora.
E o futuro? Há já um disco novo a ser trabalhado e que conta com a produção de britânico Brian Eno. John Gonçalves conta que o ex-líder dos Roxy Music viu os The Gift num concerto em Vigo, Espanha, e gostou. Já havia um contacto mas foi quando a banda o convidou para produzir o próximo álbum que a colaboração ganhou forma. “Começámos a encontrar-nos em Espanha sem compromisso. Encontrávamo-nos para fazer música, para criar, para experimentar e obviamente as coisas foram surgindo para um disco. Podiam ter sido só umas experiências mas sentimos que tínhamos ali um disco.”
Esse disco chega em 2016. Ainda não tem data de lançamento nem mesmo nome e é isso que vai ocupar a banda por uns meses numa rotina que tão bem conhecem. “Vêm aí coisas excitantes.”