Em meados do próximo ano, a Baixa do Porto vai ter quatro mil metros quadrados de espaços requalificados para instalação de empresas recém-criadas que precisem de ganhar dimensão. Esta será uma das primeiras consequências visíveis da estratégia ScaleUp Porto, que foi esta quarta-feira apresentada pelos parceiros fundadores. O município juntou-se à Universidade – através do Upetc, Parque de Ciência e Tecnologia e da Porto Business School – ao Politécnico e à Agência Nacional de Inovação, num consórcio que pretende criar um ambiente, e fornecer ferramentas, para ajudar as centenas de startup geradas no seio destas e de outras instituições a medrarem no mercado internacional.

São muitos os exemplos, no Porto, de empresas criadas na cidade que já escalaram vários patamares, para se tornarem (re)conhecidas internacionalmente. A Veniam, que desenvolve redes veiculares de transmissão de dados em ambiente urbano, é apenas um dos casos recentes de uma lista que inclui a Kinematix, a Blip, a Uniplaces, a AdClick, a Nonius Software, a Mog Technologies, a Gema ou a Movvo, entre várias outras.

Mas o seu sucesso esconde as dificuldades que elas próprias sentiram para chegarem onde estão, e os engulhos que impedem outros de trilhar um caminho semelhante, e que começam muitas vezes com a falta de competências em áreas como a gestão (algo que pode ajudar um empreendedor a tornar-se um empresário, como se referiu, insistentemente, na apresentação da estratégia ScaleUp Porto).

Outro dos problemas que qualquer Startup enfrenta é, obviamente, o do financiamento destes novos negócios. Apesar de a situação ter melhorado, o país não parece ter recursos, ou a atenção, suficientes. E o consócio ScaleUp Porto quer ajudar a atrair a o interesse das múltiplas fontes internacionais de investimento. Por isso, já em Maio do próximo ano organiza a conferência ScaleUp For Europe.

Ao mesmo tempo que serve de lançamento para uma iniciativa europeia de apoio à maturação de projectos empresariais inovadores, envolvendo desde este primeiro momento cidades como Manchester, Eindhoven e Helsínquia e um organismo de nível nacional, no Reino Unido, o ScaleUp Institute, a iniciativa, de três dias, vai levar ao Porto potenciais financiadores.

O ScaleUp for Europe coincidirá com a conferência anual da Rede Europeia de Businness Angels (EBAN), que se realiza também no Porto. E o vereador com o Pelouro da Inovação, Filipe Araújo, garantiu que a cidade aproveitará este palco que ela própria está a montar (e o ScaleUp Porto é também isso, uma montra), para mostrar aos investidores de vários países o potencial empreendedor, e os negócios em gestação e maturação no Porto.

Os números que vêm sendo divulgados são demonstrativos. Só o Uptec já ajudou 164 projectos empresariais a nascer e apoiou a graduação de 32 empresas que, no total, estima-se, já criaram 1800 postos de trabalho qualificados e tiveram um impacto de 70 milhões de euros no Produto Interno Bruto.

Nos novos espaços a criar na Baixa haverá espaço para 300 postos de trabalho. E são bem-vindos porque o Uptec já tem alguma dificuldade, apesar do investimento avultado feito em instalações, para acolher todos os que se candidatam a um pequeno espaço para arrancar com um novo projecto. Com a saída de empresas capazes de “escalar”, outros podem tomar o seu lugar num dos vários pólos do parque espalhados pelo Porto. Cidade que viu nascer, entretanto, a associação Founders to Founders, que reúne empresas nascidas neste ecossistema e que já passaram para outro patamar, e que tem ainda outras estruturas, públicas e privadas, amigas de quem quer começar um novo negócio.

A estratégia ScaleUp Porto é uma das apostas políticas do município, que vinha trabalhando no projecto há cerca de um ano e meio. A partir dele, a câmara liderada por Rui Moreira pretende posicionar internacionalmente a cidade como um espaço aberto à criatividade, á inovação, e ao empreendedorismo, atraindo desta forma não só potenciais futuros empresários, como também empresas já estabelecidas e, claro, possíveis financiadores. Da plateia do encontro desta tarde, assinalou-se também a necessidade de atrair talento, propondo-se inclusive a realização de um roadshow por universidades estrangeiras.    

O vereador Filipe Araújo espera que, a partir do manifesto ScaleUp Porto, apresentado esta quarta-feira, a cidade, e os agentes envolvidos, possam organizar-se para oferecer às centenas de novas empresas em formação as ferramentas – como formação, inserção em redes internacionais, etc, contacto com investidores e clientes – que lhes permitam dar o salto. Consciente de que isso representará um incremento do emprego gerado e um novo foco de reabilitação urbana. O Porto tem sido notícia pelo boom do turismo e da requalificação de edifícios para este sector, mas precisa de diversificar os usos do edificado, atraindo empresas e novos habitantes. Uma forma de a cidade, ela própria, ganhar escala.