BCE agradece ajuda da Fed para criar inflação

Os dois principais bancos centrais do Planeta estão a seguir rumos divergentes afectando a taxa de câmbio das suas divisas.

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O BCE, liderado por Mario Draghi, volta a pedir aos governos uma "resposta de fundo" para resolver a crise Fredrik Von Erichsen/AFP

Enquanto nos Estados Unidos as taxas de juro voltam a subir, na zona euro não há qualquer previsão de um movimento desse tipo no horizonte e, pelo contrário, do que se fala é da possibilidade do Banco Central Europeu ir ainda mais longe nas suas políticas expansionistas.

Esta divergência no rumo da tendência da política monetária nas duas maiores economias do Planeta não é habitual e já está a ter consequências importantes nas duas economias.

São claros os motivos porque Janet Yellen e Mario Draghi estão nesta fase a seguir estratégias completamente diferentes para os seus bancos centrais. Nos Estados Unidos, a economia já saiu da recessão em 2009. É verdade que a taxa de inflação continua a um nível baixo, mas há sinais no mercado de trabalho que podem levar a pensar na possibilidade de ocorrência de pressões de subida de salários, que podem depois transmitir-se para a inflação.

A taxa de desemprego nos EUA já está neste momento na casa do 5%, um valor que, apesar de ter parte da sua explicação no aumento da população inactiva, constitui um reforço do poder de reivindicação por salários mais altos.

Na Europa, o cenário é completamente diferente. Depois da crise financeira de 2008, a zona euro voltou a entrar em problemas sérios com a crise da dívida soberana, com alguns países em recessão profunda. Desde aí, a zona euro como um todo tem tido muitas dificuldades em arrancar, com um regresso a uma recessão técnica no ano passado.

A taxa de inflação permanece, com o contributo dos preços do petróleo, muito próximo de zero e eventuais pressões vindas do mercado de trabalho estão muito distantes no horizonte. A taxa de desemprego, embora tenha vindo a descer nos últimos dois anos, está ainda acima de 10%.

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Perante isto, Mario Draghi anunciou no início deste mês que o programa de compra de dívida pública (que a Fed já interrompeu há mais de um ano) irá durar por mais tempo do que inicialmente previsto. E há quem defenda (apesar da oposição dos representantes alemães no BCE) que a autoridade monetária ainda pode ser forçada a ir mais longe.

A consequência mais óbvia desta divergência de políticas entre Fed e BCE é a evolução da taxa de câmbio. O euro tem vindo nos últimos meses a perder terreno face ao dólar, caminhando de forma progressiva para próximo da paridade.

Exactamente por causa do contributo que as decisões da Fed dão para a depreciação do euro face ao dólar, esta divergência constitui uma ajuda para a tarefa do BCE. É que um euro mais fraco significa que a economia pode ficar fortalecida por via das exportações e os produtos provenientes do estrangeiro ficam mais caros (ou menos baratos no caso do petróleo), ajudando Mario Draghi a atingir os seus objectivos para a inflação.

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