Sócrates quer PS a apoiar um candidato a Belém
Ex-primeiro-ministro diz que a indefinição actual só favorece Marcelo e garante que vai continuar a intervir no espaço público.
O ex-primeiro-ministro José Sócrates apelou ao Partido Socialista para que apoie um candidato de esquerda nas próximas eleições presidenciais, já que se não o fizer “estará a favorecer Marcelo Rebelo de Sousa”. Na primeira entrevista após a sua libertação, em Outubro passado, Sócrates disse ainda não saber em quem vai votar, manifestando que apenas tem a certeza que não será no candidato do centro-direita Marcelo Rebelo de Sousa.
“Não gosto dos kitsch da política, que gostam de agradar a todas as audiências”, afirmou Sócrates, na segunda parte da entrevista transmitida esta terça-feira pela TVI. Questionado sobre as críticas da direita à legitimidade democrática do Governo liderado por António Costa, o ex-primeiro ministro defendeu que essa questão não faz qualquer sentido. “Este não é um primeiro-ministro vírgula, é um primeiro-ministro ponto final”, sustentou.
O antigo governante explicou o que quis dizer quando, na primeira palestra que deu após a libertação, realçou que mantém os direitos políticos intactos. “Só queria dizer que vou continuar a intervir no espaço público”, disse Sócrates, negando ter alguma intenção de ocupar um cargo político ou ter equacionado a candidatura à Presidência da República.
Vida faustosa, eu?
Sócrates falou ainda da sua relação com Carlos Santos Silva, um amigo de longa data que o Ministério Público acredita ser o seu testa-de-ferro, insistindo ter uma relação “fraternal” com o empresário que disse ser detentor de uma “grande fortuna”. O ex-primeiro-ministro assumiu ter recebido dinheiro do amigo, mas garantiu que se trata de um empréstimo e que já devolveu 250 mil euros. “Planeio pagar tudo que devo”, referiu, descrevendo o amigo com quem passa férias há mais de 20 anos como uma pessoa “honesta, decente e bondosa”.
O ex-governante reconheceu que não falava pelo telefone sobre os empréstimos ao amigo, reagindo ao facto de nas conversas com Santos Silva, escutadas no âmbito da investigação, nunca ter usado a palavra “dinheiro” para lhe solicitar ajuda.
O antigo primeiro-ministro recusou ter uma “vida faustosa” e defendeu que o mestrado em Paris foi um “investimento” em si. “Vida faustosa é ir tirar um mestrado para Paris? Ou querer que os filhos acabem o liceu numa escola internacional, em Paris?”, lançou.
Na entrevista, conduzida pelo jornalista José Alberto Carvalho, Sócrates voltou a negar ser o real dono dos 23 milhões de euros que foram repatriados para Portugal e ser o efectivo proprietário de uma casa em Paris, adquirida pelo amigo e na qual viveu. “No primeiro ano em que estive em Paris vivi num apartamento alugado e, no segundo ano, só estive nove meses em casa de Santos Silva, antes de começarem obras de remodelação”, referiu Sócrates. O antigo governante admite que contava voltar a habitar nessa casa, mas diz que como as obras demoraram muito alugou outra habitação. “Se a casa fosse minha ia alugar outra?”, interrogou.
Esta terça-feira, o presidente do sindicato dos magistrados reagiu à acusação de Sócrates que, na primeira parte da entrevista divulgada esta segunda-feira, defendeu que procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, foi a "principal responsável pelo comportamento do Ministério Público" no processo Operação Marquês.
Em declarações à agência Lusa, António Ventinhas salientou a necessidade de os portugueses decidirem se querem "perseguir políticos corruptos, se querem acreditar nos polícias ou nos ladrões". "No que diz respeito à criminalidade económico-financeira, sabemos que a corrupção é um dos principais flagelos do nosso país, e é isso que o MP pretende fazer: exercer a acção penal contra aqueles que obtiveram elevadas verbas sem que os seus rendimentos o comportem, sendo certo que exerceram funções públicas e, portanto, obtiveram elevadas verbas pela prática de actos ilícitos", explicou.
Já Joana Marques Vidal escusou-se esta terça-feira a comentar as declarações de José Sócrates, quando questionada pelos jornalistas no lançamento do livro 25 Anos APAV 1990/2015.