Trinta investigadores vão definir perfil de nova liderança da FCT
Até 22 de Janeiro, um grupo de investigadores vai elaborar um documento com indicações quanto "aos pressupostos e princípios que devem orientar a estratégia da FCT e a nomeação da sua futura direcção"
Trinta investigadores fazem parte de um grupo de trabalho, recentemente criado, que irá definir o perfil de intervenção e de nova liderança da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), entidade pública que financia a investigação em Portugal. A iniciativa partiu do ministro da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior, Manuel Heitor, recém-empossado no cargo, com a primeira reunião do "grupo de reflexão sobre o futuro da FCT" a realizar-se esta terça-feira, no Teatro Thalia, em frente à sede do ministério, em Lisboa.
O mandato da actual direção da FCT, presidida pela investigadora Maria Arménia Carrondo, que substituiu, em Abril, o investigador e médico Miguel Seabra, que invocou razões pessoais para cessar funções, termina no fim deste ano. Em declarações à Lusa, o ministro disse esperar que a nova direcção da FCT, por si nomeada, seja conhecida no primeiro trimestre de 2016, depois de analisadas as recomendações do grupo de reflexão, criado na quinta-feira.
Até 22 de Janeiro, o grupo de 30 investigadores, de várias áreas científicas e de diversas regiões do país, terá de elaborar um documento com indicações quanto "aos pressupostos e princípios que devem orientar a estratégia da FCT e a nomeação da sua futura direcção", segundo os termos de referência da constituição da estrutura. Com o envolvimento da comunidade científica na definição da liderança e da intervenção da FCT, Manuel Heitor tem por objectivo recuperar a confiança dos cientistas na principal entidade financiadora da investigação em Portugal, que, em seu entender, foi abalada nos últimos quatro anos, durante a governação da coligação PSD-CDS/PP.
"O que pretendo é envolver a comunidade científica a identificar o perfil da própria fundação, face ao processo que se criou de total descrédito da FCT, durante os últimos anos, no meio da comunidade científica", assinalou à Lusa o ministro da Ciência, do governo socialista, liderado por António Costa.
De acordo com os termos de referência de constituição do grupo de reflexão, "as práticas e a actuação prosseguidas pela FCT, desde 2011, contribuíram para o enfraquecimento do ritmo de crescimento e da afirmação da actividade científica nacional, perturbaram profundamente o seu funcionamento, introduziram instabilidade e comprometeram o reconhecimento e a posição que a própria FCT detinha no sistema" científico e tecnológico.
O "aumento da selectividade no acesso à ciência", o "processo de adulteração da avaliação científica", o corte "de forma brutal" do número de bolsas de doutoramento e pós-doutoramento e a "adopção, também abrupta, de novos esquemas de financiamento a programas doutorais" são algumas das críticas feitas à FCT neste documento, subscrito pelo ministro e pela secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior, Maria Fernanda Rollo.
A contestação dos cientistas à atuação da FCT, sob tutela do Ministério da Ciência, subiu de tom em 2014 e 2015, com a redução do número de bolsas de doutoramento e pós-doutoramento e com diversas irregularidades apontadas à avaliação dos centros de investigação, da qual depende o seu financiamento. A tutela, então liderada por Nuno Crato, alegou rigor e transparência nos processos de avaliação e a necessidade de direccionar o financiamento para cientistas, projectos de investigação e instituições de excelência e competitivas.