Arábia Saudita vai liderar coligação do "mundo islâmico" contra o terrorismo

Riad anuncia que aliança militar prova vontade dos países muçulmanos em combater os extremistas. Como seria de esperar, não inclui o Irão xiita, nem os seus aliados.

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Mohammed bin Salman a apresentar a coligação Saudi Press Agency/REUTERS

A Arábia Saudita anunciou que vai liderar uma “aliança militar” de 34 países muçulmanos para combater o terrorismo. A iniciativa surge em resposta à pressão dos ocidentais para que os governos do Médio Oriente se envolvam de forma coerente na luta contra os extremistas do Estado Islâmico, mas deixa de fora o Irão, o arqui-rival xiita de Riad.

Passaram várias horas até que Washington reagisse ao anúncio feito em Riad pelo ministro da Defesa, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman. “Estamos ansiosos por saber mais sobre aquilo que a Arábia Saudita tem em mente em relação a esta coligação, mas no geral parece-nos muito em linha com aquilo que temos vindo a pedir”, disse o secretário da Defesa, Ash Carter, que iniciou na Turquia uma visita para reunir mais apoios na região à ofensiva contra os radicais instalados na Síria e no Iraque.

Salman não avançou detalhes sobre como vai funcionar esta coligação, para além da informação de que será criado um centro de operações conjuntas, sediado em Riad, para “coordenar e apoiar as operações militares”. “Actualmente cada país muçulmano está a lutar individualmente contra o terrorismo, por isso é tão importante coordenar esforços”, disse Salman, numa conferência de imprensa, segunda-feira à noite, sublinhando que a iniciativa prova “a vontade do mundo islâmico em combater o terrorismo e ser um parceiro na luta mundial contra este flagelo”.

O ministro da Defesa saudita afirmou ainda que a aliança não visará apenas o Estado Islâmico, que proclamou um califado junto às fronteiras sauditas e prometeu derrubar as velhas monarquias do golfo, “mas qualquer organização terrorista que surja à sua frente”. Identificou, ainda assim, a Síria e o Iraque (ambos parceiros do Irão e que não integram a aliança), o Afeganistão (que também não foi incluído), o Egipto e a Líbia como terrenos prioritários de acção, reconhecendo, porém, que nos dois países onde o Estado Islâmico actua só poderá intervir “em coordenação com as autoridades legítimas e com a comunidade internacional”.

Já nesta terça-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros explicou que os 34 países da aliança – que junta a maioria das monarquias do golfo a outras potências sunitas, caso da Turquia, Egipto ou Paquistão, e vários países do Norte de África e Ásia – vão partilhar informações e capacidades militares. Adel al-Jubeir não exclui também o envio de forças terrestres para combater o Estado Islâmico, um cenário sugerido por americanos e europeus e que até agora só tinha sido publicamente admitido pelos Emirados Árabes Unidos.

A aliança está a ser interpretada como uma nova tentativa de Riad para reivindicar a liderança da região, num momento em que tenta por todos os meios contrariar a crescente influência do Irão xiita – seja com a ofensiva no Iémen, seja com os esforços para unir a oposição ao Presidente sírio, Bashar al-Assad, seja apresentando-se como o aliado indispensável na luta contra o terrorismo. É também uma reacção às críticas dos governos ocidentais, que não escondem que preferiam ver Riad aplicar-se na luta contra os jihadistas e não, como acontece no Iémen, a fomentar o sectarismo.

Mas a iniciativa nada faz para responder às acusações de que o Governo saudita fecha os olhos aos que no país apoiam, com dinheiro ou armas, os jihadistas, e muito menos àqueles que lembram que o reino é o principal exportador do wahhabismo, corrente ultraconservadora do islão que grupos extremistas como o Estado Islâmico perfilham. No comunicado em que anuncia a aliança, o Governo saudita sublinha apenas que o Corão “rejeita o terrorismo em todas as suas formas e manifestações, porque é um crime horrendo e uma injustiça repudiada por todas as santas religiões”.

Os países da coligação são: Arábia Saudita, Bahrain, Bangladesh, Benim, Chade, Costa do Marfim, Djibuti, Egipto, Emirados Árabes Unidos, Gabão, Guiné-Conacri, Iémen, Ilhas Comores, Jordânia, Kuwait, Líbano, Líbia, Malásia, Maldivas, Mali, Marrocos, Mauritânia, Níger, Nigéria, Paquistão, Palestina, Qatar, Senegal, Serra Leoa, Somália, Sudão, Togo, Tunísia, Turquia.

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