Cientistas desmentem descoberta de comboio nazi cheio de ouro
Um mês de investigações não mostrou indícios do alegado comboio carregado de ouro, jóias e arte que os nazis teriam enterrado perto de Walbrzych, no sudoeste da Polónia.
Uma equipa de cientistas polacos desmentiu esta terça-feira a tese avançada por dois caçadores de tesouros que asseguravam ter descoberto um antigo comboio nazi, alegadamente carregado com ouro, jóias e obras de arte, enterrado desde a Segunda Guerra nas imediações da actual cidade industrial de Walbrzych, no sudoeste da Polónia.
“Não há nenhum comboio”, garantiu Janusz Madej, professor na Universidade de Ciência e de Tecnologia de Cracóvia, numa conferência de imprensa a que assistiram esta terça-feira em Walbrzych as dezenas de jornalistas de todo o mundo que vêm acompanhando a história do chamado “comboio dourado” desde que, em Agosto passado, o polaco Piotr Koper e o alemão Andreas Richter afirmaram possuir “provas irrefutáveis” da sua existência e conhecer a sua localização.
Os cientistas usaram detectores magnéticos, radares e imagens termográficas para sondar o subsolo no local onde Koper e Richter afirmam ter descoberto a composição, um antigo ramal da linha ferroviária que em 1945 ligava a então cidade alemã de Breslau (hoje Wroclaw) a Walbrzych. Após um mês de trabalhos de campo, a conclusão é que pode existir um túnel no local, mas não um comboio composto de vários vagões, com um comprimento total de 92 metros, como pretende a dupla de caçadores de tesouros.
“As anomalias no modelo geomagnético teriam de ser muito maiores se estivesse ali um comboio”, afirmou Madej, que no entanto afirmou respeitar as pesquisas da dupla de amadores e avançou a possibilidade de que as medições dos seus instrumentos possam ter sido distorcidas pela presença no local de cabos de alta tensão ainda em funcionamento.
Koper já reagiu, reafirmando a sua convicção de que o comboio existe mesmo e argumentando que os cientistas usaram uma “abordagem metodológica diferente” da que ele e o seu sócio utilizaram, e que isso explicaria os resultados contraditórios. O caçador de tesouros amador adiantou ainda que tinham procedido a novas investigações, cujos relatórios teriam já sido entregues às autoridades municipais no dia 7 de Dezembro.
A verosimilhança da descoberta começou a ser questionada logo que Koper e Richter a anunciaram, e a dupla de caçadores de tesouros divulgou em Setembro uma imagem de radar que constituiria, segundo afirmaram, uma “prova irrefutável” da existência de uma composição blindada no subsolo. Mas também a interpretação desta imagem veio a ser contestada, designadamente pelo arqueólogo Tomasz Herbich, da Academia de Ciências de Varsóvia.
Uma persistente tradição local diz que haverá vários comboios nazis enterrados em túneis nos arredores de Walbrzych, uma cidade mineira a que os alemães chamavam Waldenburg. As composições, carregadas de ouro, jóias, arte roubada e armas, teriam deixado Breslau (Wroclaw) no início de 1945, fugindo do avanço do Exército Vermelho, e rumariam a Waldenburg (Walbrzych), a cerca de 60 km, onde Hitler mandara construir um centro de comando secreto servido por uma rede de túneis que entrava pelas montanhas próximas.
Que os nazis fizeram construir estes túneis, em cujas obras morreram milhares de prisioneiros, é um dado adquirido, embora o seu propósito continue a dividir opiniões, havendo mesmo quem defenda que albergavam os laboratórios onde os alemães trabalhavam no projecto da bomba atómica. Mas outros investigadres acreditam que acabaram por nunca ser utilizados.
Koper e Richter, que pretendem obter 10 por cento do que vier a ser descoberto em troca da localização exacta do alegado comboio enterrado, afirmam ter obtido essa informação de um habitante local que já ali vivia em 1945.
Os responsáveis municipais de Walbrzych já afirmaram que as novas informações recebidas de Koper e Richter vão agora ser estudadas por especialistas, de modo que o caso do “comboio dourado” ainda não terá chegado ao seu término, e devem esperar-se novos capítulos para breve.