PSD e CDS recomendam voto em Marcelo por ter “equilíbrio político”
Os dois partidos vão emprestar estrutura para a campanha mas querem manter a distância para não prejudicar a “abrangência” da candidatura.
A “larga experiência política”, a garantia de oferecer “equilíbrio político” e a “correcta interpretação” que faz dos poderes constitucionais do chefe de Estado são alguns dos argumentos apresentados pelo PSD e pelo CDS para declarar apoio a Marcelo Rebelo de Sousa. Os dois partidos, sobretudo o PSD, vai emprestar a sua máquina partidária – a que for suficiente – para a campanha, mas os dois líderes deverão manter-se mais à distância para não prejudicar a “abrangência” da candidatura. É que além dos votos do eleitorado do PSD e do CDS, Marcelo Rebelo de Sousa vai precisar de conquistar outra fatia de eleitores se quiser ganhar na primeira volta.
O texto dos dois partidos proposto aos conselheiros nacionais para apoiar o ex-líder do PSD na corrida a Belém – que deverá ser aprovado esta quinta-feira à noite pelos respectivos conselhos nacionais – era muito semelhante e decide “recomendar aos eleitores” do PSD e do CDS “o voto na candidatura do professor Marcelo Rebelo de Sousa”. O líder do CDS-PP, Paulo Portas, deu o primeiro passo e anunciou o apoio, antes de começar a reunião do Conselho Nacional do partido. E acrescentou um argumento que está omisso no texto.
Consciente de que no centro-direita há alguns críticos ao discurso do ex-líder do PSD, o presidente do CDS dirigiu-se a esses que “não se sintam inteiramente esclarecidos” para lembrar que os mais altos cargos do Estado estão por conta do PS. “Portugal tem neste momento em circunstâncias muito particulares, um presidente da Assembleia da República socialista, um primeiro-ministro socialista, um Governo socialista e um presidente da Câmara de Lisboa socialista. Parece-me que não há vantagem em acrescentar um Presidente da República socialista ainda para mais quando o professor tem tido o cuidado de ser caloroso e abrangente com os portugueses como um todo”, alertou.
O documento preparado para os conselheiros nacionais lembra a “natureza específica das eleições presidenciais não procurando transformá-las em correias de transmissão da vida partidária, antes respeitando a abrangência das candidaturas”. Considerando como “preocupante” que na nova maioria parlamentar que suporta o Governo se encontrem partidos que se distanciam das opções europeias e atlânticas, PSD e CDS sustentam ser ainda mais relevante eleger um Presidente que reflicta a “expressão do equilíbrio entre as várias correntes políticas do país”. Esse ponto viria a ser reforçado quando o texto refere a perspectiva do ex-líder do PSD oferecer no desempenho das funções presidenciais “equilíbrio político”, “de fidelidade aos compromissos europeu e atlântico de Portugal e a correcta interpretação que faz dos poderes constitucionais do Chefe de Estado”. Os dois partidos destacam ainda “a sua larga experiência política tão necessária” no momento actual, o seu “conhecimento, académico e profissional” da Constituição, “a sua conhecida defesa da economia social de mercado e o empenhamento numa visão personalista da sociedade”.
O documento cita ainda as referências feitas às presidenciais nas moções de estratégia de cada líder nos respectivos congressos de 2014. A do líder do CDS era mais omissa e remetia para uma decisão do Conselho Nacional enquanto a do PSD defendia que o comportamento do Presidente devia ser “como um árbitro ou moderador, movendo-se no respeito pelo papel dos partidos mas acima do plano dos partidos”. Para trás ficou a referência à recusa em aceitar um candidato que fosse um “catavento” mediático e que era claramente dirigida ao ex-comentador político.
No PSD, o texto foi aprovado por unanimidade já de madrugada. Já o CDS aprovou-o por esmagadora maioria, mas entre os conselheiros presentes, 116 votaram favoravelmente, três abstiveram-se e um votou contra o nome do antigo presidente do PSD, comentador político e docente universitário de Direito.