PSP identifica dois graffiters espanhóis envolvidos em acidente ferroviário na Maia
Autópsias aos corpos das três vítimas mortais deste acidente já se realizaram. Funeral do jovem português realiza-se esta quinta-feira em Matosinhos.
A colaboração das autoridades espanholas permitiu à PSP identificar dois jovens espanhóis que fariam parte do grupo de graffiters que “atacou” um comboio na noite de segunda-feira no apeadeiro de Águas Santas, na Maia, e abandonaram o local após três colegas terem sido colhidos mortalmente por um comboio.
A informação foi confirmada ao PÚBLICO por António Veiga, das relações públicas do Comando da PSP do Porto, que adiantou que as autoridades não localizaram os jovens nem contactaram com eles. “Apenas conseguimos identificar os jovens através da colaboração com as autoridades espanholas”, explica António Veiga, que acrescenta que os próximos passos da investigação serão determinados pelo Ministério Público. Na sequência da morte dos três jovens, dois espanhóis e um português de 18 anos residente na Senhora da Hora, conhecido na comunidade hip hop de Matosinhos como Nord, foi aberto um inquérito. As autópsias aos corpos já se realizaram e o funeral do jovem português está marcado para as 15h30 desta quinta-feira, no Tanatório Municipal de Matosinhos.
A comunidade de graffiters continua em choque. Rafi, arquitecta, writer, proprietária de uma loja do Porto de material para graffiters e artistas urbanos, confirma que naquele meio o sentimento “é de uma enorme revolta”. Em parte, devido aos comentários lidos nos sites de notícias e nas redes sociais em que, critica, “os miúdos são tratados como terroristas”. “Há gente a dizer que foi bem feito que tivessem morrido – isto admite-se?” Não acredita na versão dos acontecimentos segundo a qual os rapazes foram apanhados pelo comboio quando estavam a pintar, mas sim na de que fugiam de alguém que teria tentado atingi-los com a espuma de um extintor de incêndios.
“O que estes miúdos estavam a fazer é ilegal, mas não estavam a colocar em risco a vida de qualquer pessoa, só tinham latas de tinta e a irreverência própria da idade. Os funcionários da CP, os adultos, deviam receber formação para lidar com estas situações e nesta, em concreto, não tenho dúvidas: deviam ter chamado as autoridades”, afirma Rafi.
A arquitecta conhecia João, cliente da loja, que descreve como “sossegado e educado”, mas não os espanhóis. Não a espanta a presença destes. Afirma que são muitos os que viajam para Portugal e que muitos portugueses se deslocam, igualmente, ao estrangeiro, para pintar. Que é assim que muitos se conhecem e “ficam unidos pela arte, que é uma linguagem universal”. Indigna-a que a “sociedade não seja capaz de entender isto, que estas pessoas só se querem expressar”.
Diz que ela própria se tem batido pela criação de espaços na cidade para esse efeito. Acredita que, “ainda assim, alguns pintassem fora deles” – “Paciência, teriam de enfrentar as consequências, mas adequadas à situação e à idade. Pintar chapa é só pintar chapa, não é matar; e até o Presidente da República já teve 15, 16 anos – acho que ninguém escapa, por essa idade, a uma sensação de desadequação ao mundo e à vontade de intervir e de mudar as coisas, às vezes de formas menos correctas”, argumenta Rafi.