Principais desafios e potenciais soluções

O que é preciso fazer em Portugal para descarbonizar a economia.

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Nos últimos três anos, as renováveis representaram em média 55% da produção de electricidade no país Paulo Pimenta

PRODUÇÃO ELÉCTRICA
Renováveis, renováveis e interligações

Nos últimos três anos, as renováveis representaram em média 55% da produção de electricidade no país. Até 2020 pretende-se chegar aos 60%. António Sá da Costa, presidente da Apren-Associação de Energias Renováveis, diz que é possível ir até aos 82% em 2030 e a 100% na década seguinte.

Com novas barragens limitadas por questões ambientais, é na energia solar e eólica que haverá mais espaço para crescimento.

Há também muito potencial na poupança de energia. “Continuamos com um stock de eficiência energética que não estamos a aproveitar”, diz Júlia Seixas, especialista da Universidade Nova de Lisboa em cenários energéticos. “É o quilowatt-hora poupado mais barato que existe”, acrescenta Sá da Costa.

O país poderá ficar sem carvão já em 2025 e, no futuro, as centrais a gás natural passarão a servir apenas de reserva. A instabilidade própria das renováveis pode ser amenizada com o desenvolvimento de grandes baterias no futuro. Antes disso, será preciso boas interligações com o resto da Europa, para garantir trocas de energia. “Em vez de estarmos todos a fazer a mesma tecnologia, se estiver tudo bem ligado, cada um pode especializar-se naquilo em que é mais competitivo”, diz Pedro Neves Ferreira, director de planeamento da EDP.

TRANSPORTES
O futuro é eléctrico

Em 1974, quando Portugal tinha 844 mil automóveis, o sector dos transportes absorvia 31% do consumo primário de petróleo no país. Hoje, com uma frota de quase seis milhões, são 64%. Se a electricidade for 100% renovável,  o automóvel eléctrico é visto como uma solução plausível e definitiva. “As próprias petrolíferas estão convencidas de que isto vai acontecer”, afirma Júlia Seixas.

Por ora, o preço é um dissuasor. Mas António Sá da Costa diz que se trata de um mito: “É uma questão de se fazer as contas. Andar 300 quilómetros custa apenas dois euros”.

A tecnologia ainda vai evoluir, mas o crescimento do mercado de veículo eléctrico poderá acelerar esta evolução, como aconteceu com os telemóveis.

A EDP fez contas e chegou à conclusão de que, se toda a frota automóvel nacional fosse eléctrica, haveria uma subida de menos de 20% na procura de electricidade. “É facilmente absorvível pela infraestrutura existente”, avalia Pedro Neves Ferreira.

Se todos os carros novos fossem eléctricos, seriam necessários 30 a 40 para substituir toda a frota em Portugal. Mas no ano passado, dos 142 mil automóveis comercializados no país, só 298 eram eléctricos ou híbridos.

INDÚSTRIA                                          
O drama do cimento

Para a indústria, descarbonizar a economia não significa apenas livrar-se dos combustíveis fósseis. O sector cimenteiro, por exemplo, consome perto de 400 mil toneladas de derivados de petróleo por ano em Portugal. Mas 60% das suas emissões vêm das reacções químicas nos fornos, necessárias para a produção do clínquer, a base do cimento. “Aí é que está o problema”, afirma Paulo Rocha, director de sustentabilidade ambiental corporativa da Cimpor.

A empresa está a desenvolver com o Instituto Superior Técnico um tipo de clínquer que necessita de menos carbono. Mas mesmo isso não será suficiente. A salvação estará em capturar o CO2 antes que saia pela chaminé e armazená-lo debaixo do solo ou reutilizá-lo de alguma forma. “O CCS [sigla inglesa de captura e armazenamento de carbono] é fundamental para nós, só isso nos permite reduzir 80-85% das emissões”, diz Paulo Rocha.

Há já um projecto para uma unidade piloto na Europa. Mas a tecnologia é cara. Aumenta os custos de operação e implica modificações onerosas nos fornos. Não será viável antes de 2030 e depende de um mercado de carbono mundial, com um custo do CO2 acima dos 30 euros a tonelada.

Descarbonizar a indústria será talvez o mais difícil na luta contra o CO2. “O calcanhar de Aquiles são os processos industrias”, resume Júlia Seixas.

HABITAÇÃO E SERVIÇOS
Soluções antigas, novos problemas

O aquecimento da água é o maior consumidor de combustíveis fósseis – sobretudo gás – nas habitações e serviços. Mas a solução ideal para o país, os painéis solares, teima em não avançar como podia. “É das coisas mais básicas que devíamos fazer”, afirma António Sá da Costa.

Em 2014, havia 1,1 milhões de metros quadrados de painéis instalados, segundo dados da Associação Portuguesa da Indústria Solar. O ritmo de instalação de novos painéis tem vindo a cair desde 2010. Para cumprir uma meta definida pelo Governo até 2020, teria de ser o triplo do actual.

O futuro traz novos desafios, porque Portugal é o segundo país europeu onde as pessoas sentem mais calor dentro de casa, e o terceiro onde sentem mais frio, segundo dados do Eurostat. O uso de aquecimento central e ar condicionado vai subir.

Soluções também já conhecidas hoje, como usar biomassa ou bombas de calor, terão de se tornar mais difundidas.

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