O que a natureza ensinou a um rapaz de Lisboa
Alfredo Cunhal Sendim falou sobre o futuro da agricultura e da alimentação, a relação do homem com a natureza, o milagre que é o montado. E contou a história da Herdade do Freixo do Meio, que é a história da sua vida. A vida de um homem que vive aquilo em que acredita. Profundamente.
Sonhava com o mar e era “um menino da Avenida de Roma”. Mas acabou por se dedicar à terra e mudou-se para o campo. Alfredo Cunhal Sendim, 49 anos, herdou a Herdade do Freixo do Meio, no Alentejo, e, passadas as ingenuidades iniciais, percebeu que o caminho era a recuperação do montado, um agro-ecossistema que “é uma coisa extraordinária”. Enfrentou mil e uma dificuldades. Aprendeu muitas lições. Hoje tem uma loja no Mercado da Ribeira onde vende o que produz no Freixo do Meio — “toda a dieta mediterrânica menos o peixe”. E é uma figura de referência para quem se dedica à agricultura biológica.
Recorda-se da primeira vez que olhou para a Herdade do Freixo do Meio? Foi logo claro para si qual era o caminho, a recuperação do montado, a opção pelo biológico?
De maneira nenhuma. Tinha uma relação com o Freixo desde miúdo, antes do 25 de Abril. Tinha oito anos quando se deu a revolução, mas até lá os meus pais passavam o mês de Setembro no Freixo. Depois, com oito anos, fui completamente afastado desta realidade porque os meus pais emigraram para Pamplona, Espanha. Por isso, tinha uma imagem muito construída no meu imaginário, mas muito bonita, do Freixo, e um bocadinho a ideia do que era a realidade do meu avô, que era latifundiário.
Entre 1975, quando se dão as expropriações para o Estado português, e 1990, que foi o momento em que [nos] foi entregue uma parte do Freixo, voltei lá apenas duas vezes, quando estava já a estudar em Évora Engenharia Zootécnica, sem nunca imaginar que o Freixo voltaria a ser nosso. Os processos da reforma agrária numa primeira fase atribuíam apenas um número limitado de hectares a cada antigo proprietário para que estes não pudessem refazer os latifúndios. Mas depois as cooperativas começaram a enfrentar problemas, muitas acabavam por se fundir, algumas terras ficavam abandonadas, e nessas alturas os antigos proprietários tinham prioridade para as pedirem de volta.
Lembro-me de ir duas vezes com alguns colegas, meio escondido, visitar o Freixo. Estava lá uma cooperativa muito boa, ao contrário da maioria. Nunca me passou pela cabeça voltar. Mas dá-se uma reviravolta e aparece a oportunidade. É a própria cooperativa que nos vem pedir para colaborarmos. Foi uma coisa inesperada.
Voltamos em 1990, e a minha primeira reacção foi de deslumbramento. Não tinha noção nenhuma de questões relacionadas com a natureza. Por isso, no início não tive a sensação, que tive alguns anos mais tarde, de estar a trabalhar quase num deserto. Num deserto pode-se produzir, mas tem de se trazer todos os factores de produção de fora. Se eu levar água, plantas e energia para um deserto, faço facilmente um oásis. Mas com o que lá está muito pouco se faz. Era o que acontecia ali. Tudo o que era necessário à produção tinha de vir de fora.
Fui viver para o Freixo, acabadinho [de sair] da universidade, com todo o pacote tecnológico-mecânico-químico muito fresquinho na cabeça. Era a única coisa que me tinham explicado. Nesse início recebemos apenas três culturas: a cortiça, que sempre teve rentabilidade; mil ovelhas, que decidi aumentar para cinco mil; e o trigo, nessa fase já em completo declínio. E estava com a minha mãe, para quem o fundamental era criarmos postos de trabalho. Estávamos em 1990, com muito desemprego em Portugal.
Quando escolheu estudar Engenharia Zootécnica, foi já pensando que iria trabalhar no campo?
Não, não. Quando voltei de Espanha, fui para Lisboa. Tinha um colega que foi das primeiras pessoas a fazer surf em Portugal. Comecei a fazer desportos no mar. No Verão ia para o Algarve e tinha um amigo cujo pai era pescador, começámos a pescar, a comprar redes. O meu sonho era o mar. Queria estudar Oceanografia, que só havia no Abel Salazar, no Porto.
Eu era um menino da Avenida de Roma. Era tudo menos ruralidade, tudo nos puxava para os Estados Unidos, era o tempo dos yuppies, do [escritor norte-americano] Bret Easton Ellis, de Menos Que Zero [a primeira obra de Easton Ellis, um romance sobre jovens ricos de Los Angeles e o consumo de drogas nos anos 1980]. Nunca me passou pela cabeça ir para o campo. Isso era, para mim, um desterro. Mas pronto [na colocação na universidade] calhou-me Évora.
No primeiro ano, queria era ir para Lisboa o mais depressa possível. Mas depois comecei a gostar imenso do aspecto social de Évora. Era uma universidade muito nova, nós éramos miúdos de todos os sítios do país e formámos um grupo muito interessante. Évora tinha sido muito abalada com o 25 de Abril, de uma situação completamente feudal e hierarquizada passou a uma liberdade total. Nós conseguimos beber do bom que Évora tinha, mas formámos uma cultura diferente.
Mais tarde, a maior parte dos meus amigos perdeu-se na droga, uns morreram... A ajuda que comecei a dar à minha mãe [na herdade], provavelmente, salvou-me de eu não ter ido pelo mesmo caminho. Encontrei ali uma âncora.
O seu avô ainda era vivo quando se iniciou o processo de devolução das terras?
O meu avô recebeu o primeiro pedaço de terra em 81, eu entrei na universidade em 84.
Ele tinha vivido a perda das terras com muito dramatismo?
O meu avô era um homem extraordinário e nunca julgou ninguém. Teve uma aceitação enorme perante todas as barbaridades que lhe aconteceram. Sempre conseguiu ter um posicionamento de distância, sem julgar e sem odiar. Acompanhei-o muito quando ele esteve quase exilado em Lisboa, e nunca me transmitiu essa revolta, pelo contrário, sempre a atenuou.
Foi muito martirizado porque era um “latifundiário bonzinho”, que não interessava ao Partido Comunista que existisse sequer. Ainda por cima, tinha o nome do dr. Álvaro Cunhal.
Álvaro Cunhal era primo distante...
Sim, há uma única família Cunhal, que vem de Seia. O meu avô era parente do dr. Álvaro Cunhal em décimo grau. Eles conheciam-se, sabiam perfeitamente quem eram, eram ambos formados em Direito, mas tinham tido percursos completamente diferentes. Mas não interessava naquele momento, na revolução, que existisse esse vínculo.
A sua passagem por Évora ajudou a afastá-lo da cidade e do mar?
Sim, foi gradual. Fui aprendendo a gostar do campo. Liguei-me claramente à esquerda nessa altura. Tinha muita vergonha da atitude latifundiária e até da maior parte dos membros da minha família, da minha idade. Mais tarde tive de vestir a pele do lobo, de ser eu o latifundiário. Pensei: como é que vou fazer isto? Tinha vergonha, muitas vezes, de dizer aos meus amigos que era o menino da Amoreira da Torre, ou da Eira [propriedades da família]. Em Évora, a minha família era muito conhecida, com um palácio enorme no meio da cidade. E os meus amigos eram muito mais ligados a outra lógica.
Havia ainda um olhar muito politizado sobre essas questões, os latifúndios, a terra, a propriedade.
Havia. Nessa altura [início dos anos 90] lutava-se ainda pela terra a quem a trabalha.
E não sentia que essa realidade para os seus amigos de Lisboa era uma coisa que não fazia já grande sentido? Que era uma coisa muito localizada ali no Alentejo?
Os meus amigos tinham passado a ser os amigos da universidade e estavam completamente inseridos nessa lógica. Os de Lisboa estavam a leste. Os meus amigos eram pró-cooperativas, não eram pró-reversões, nem eram pró-estabelecimento de propriedade privada. Havia esse peso, e isso custou-me.
A concentração da produção no trigo, ovelhas e cortiça vinha do tempo do seu avô?
A seguir à II Guerra Mundial há uma mudança radical na agricultura de todo o mundo, que chega a Portugal mais pelos anos 50. Houve uma simplificação dos processos com a revolução industrial e ao mesmo tempo uma intensificação da produção, que tem que ver com a fome que nós criámos, a destruição do aparelho produtivo e com a necessidade de produzir mais. E estas duas tendências começaram a ser aplicadas pelo meu avô.
Desmonta-se o sistema agrícola que tivemos durante pelo menos 800 anos, a que chamamos “montado”. É um sistema definido por uma complexidade enorme de culturas e de actividades em que existiam não apenas vacas, mas cabras, porcos, galinhas, frangos, perus. E todo o tipo de cereais, em pequena escala, leguminosas, hortícolas. Havia sempre uma horta em cada monte, havia cultura da oliveira, a vinha, o forno de lenha.
O montado é uma história maravilhosa do nosso país. Temos na Península Ibérica um clima muito especial, o mediterrânico, que só ocupa 2% do planeta e tem características muito importantes para a agricultura, com quatro estações muito marcadas.
Normalmente, na natureza, 1 cm de solo leva pelo menos 100 anos a formar-se, na Península Ibérica leva pelo menos 1000 anos. Nestes solos muito lentos e com um clima muito adverso, há um ecossistema que se estabelece aqui, milhares de anos antes de nós, e a natureza faz sempre a mesma coisa nestas circunstâncias: criar complexidade.
O que o Homo sapiens encontrou na Península Ibérica foi um bosque cerrado, com uma complexidade de espécies que nós não fazemos ideia. Um esquilo podia ir de copa em copa de árvore desde Sagres até Barcelona. E o homem começa a criar uma coisa extraordinária, um agro-ecossistema, que é o montado.
Portanto o montado é uma criação do homem?
Que demonstra que o homem é capaz de fazer melhor do que a própria natureza. É um sistema agrícola, com pelo menos três níveis: árvores, arbustos e pastagens. É um mosaico muito complexo de culturas e actividades (pecuárias, agrícolas, florestais), muitas domesticadas, mas interactuando com actividades silvestres como a caça, as plantas silvestres.
Há no montado processos de simbiose, de entreajuda, um porco que ajuda uma árvore e ajuda todo um sistema — com o nariz faz buraquinhos no solo e quando chove a água em vez de escorrer fica ali em microlaguinhos, cuja água se vai infiltrando para o lençol freático e a árvore vai ter a possibilidade de ir lá abaixo ao freático nos meses de Verão, bombear água cá para cima, criar uma zona húmida por baixo da copa da árvore, que faz com que os microrganismos não morram e com que o processo seja todo diferente.
Depois há a ecofuncionalidade: cada ser deste planeta tem muitas funções. E, ao contrário do que as pessoas pensam, há [no montado] muito mais biodiversidade do que numa floresta amazónica. É nos sítios difíceis do mundo que a natureza cria os maiores índices de biodiversidade, por causa da cooperação.
Quanto mais seres, mais conexões. Se eu só tenho vacas, elas só são capazes de comer uma parte da pastagem alta; se eu tiver ovelhas, elas comem mais um bocadinho abaixo; se eu tiver um peru, ele come a folhinha minúscula e o insecto que está ao lado; se eu tiver um porco, ele ainda come por baixo. Quanto mais dimensões, quanto mais ferramentas, melhor posso aproveitar os recursos.
Esse modelo permitiu-nos durante 800 anos construir um metro de solo fértil no Alentejo. Se fosse só a natureza, teria feito 1cm, nós fizemos 100 vezes mais.
Eram coisas que não lhe tinham ensinado na faculdade.
Não, descobri isto por casualidade porque a Ana Fonseca, que tinha acabado de se licenciar em Ciências do Ambiente, começou a trabalhar comigo no Freixo e pediu-me para fazer uma tese de mestrado sobre o montado.
O montado começou a ser destruído para se começar a usar o solo para produzir cereais, com uma crescente mecanização. Salazar manda fazer as campanhas do trigo, cortar as árvores e transformar em cereal aquele solo vivo, completamente autónomo, que não necessitava de adubos. É nesse período que o Alentejo se transforma no “celeiro de Portugal”. O Alentejo é a paisagem portuguesa que mais mudou nos últimos anos.
O resto dos recursos, o pouco solo que ainda havia, é gasto com uma mistura dos químicos quando Portugal entra para a Comunidade Económica Europeia (CEE). Portanto, nós hoje não temos montado. Dizemos que temos um milhão e cem mil hectares de montado... Não é verdade. Temos restos de uma estrutura abandonada.
Voltando ao Freixo, como é que as coisas corriam a nível económico?
Estávamos dependentes da cortiça, que ainda ia pagando os prejuízos do trigo e das ovelhas. Antes do 25 de Abril, nunca tinha entrado um camião no Freixo. E, naquela altura, para a gente produzir tinham de entrar camiões de adubo, de farinha, de proteína para os animais. Lembro-me de um senhor de idade me ter dito: “Há cem anos nesta herdade fazia-se comida para mais de 200 pessoas e só entravam aqui duas coisas: sal, para conservar os alimentos, e ferro.”
Eu comprava toneladas de comida para alimentar as ovelhas. Tinha [comprado mais animais] na lógica de aumentar a produtividade, mas não conseguíamos, tínhamos um risco brutal.
E houve a entrada na CEE, a Política Agrícola Comum.
Sim. Entramos na CEE em 1986, eu comecei a trabalhar no Freixo em 90, os ovinos não funcionaram, o trigo vinha por aí abaixo, a cortiça mantinha-se oscilante, mas não era nada de especial, pagava os buracos do resto. A nossa única visão estratégica foi voltar ao montado e foi consciente. Isso faz-se contrariando os erros anteriores que levaram à perda da diversidade de culturas, reconstruindo o solo através de uma série de técnicas, permitindo a regeneração de árvores e arbustos e reintroduzindo uma série de culturas, da azeitona à uva, passando pelas leguminosas e, nas áreas mais férteis, os hortícolas, além dos diferentes tipos de animais que vão fertilizar este ecossistema.
Hoje tem uma loja de produtos biológicos do montado. Há dez anos uma loja como esta poderia sobreviver?
Não. Eu tentei fazê-la. E ainda hoje entra aqui 0,01% das pessoas que entram no Pingo Doce ali ao lado, é uma batalha.
Quando decidimos voltar para o montado, percebemos que em vez de ter borregos duas vezes por ano em grandes quantidades, cortiça de nove em nove anos e duas toneladas de trigo uma vez por ano, passamos a ter produtos todas as semanas, em muita diversidade, mas em quantidades muito pequeninas. Meia dúzia de ovos, cinquenta litros de leite... Como vamos fazer? Descubro então que é possível diferenciar em agricultura. Convenço os meus irmãos a fazer uma marca de produtos do montado.
Mas a diferenciação tem um problema que não medimos e que nos ia matando: a necessidade de transformar matérias-primas em alimentos finais. Porque se eu tenho uma diferença construída na primeira parte da produção mas se não consigo que essa diferença seja transportada até ao momento do consumo, ela não tem valor. E se quem compra os borregos não tem essa estratégia de diferenciação e mistura tudo, biológico e não biológico, não faz sentido. Como não havia prestadores de serviços nessas áreas da transformação de carnes, tivemos de aprender. Primeiro foi o porco. Juntei duas mulheres da aldeia e disse-lhes “Façam como fazem em casa, vamos fazer linguiças...”
Depois comecei a perceber como é que era a legalização, criei uma unidade de transformação de carne. Mas ainda não havia valorização destes produtos em Portugal. Comecei a vender para a Holanda e andei dois anos a ir lá de 15 em 15 dias com um camiãozito carregado de carne. Ficava dois, três dias a aprender a transformar, a cortar num talho.
Era uma loucura, essa viagem com tanta frequência.
Sim, mas era a única forma de escoar. Eu tinha a cabeça no cepo, tinha vendido [à família] esta estratégia toda, tinha de conseguir ser consequente com ela.
E compensa? São muitos custos que têm de ser traduzidos no preço.
Certo. Não sabíamos. Hoje fazemos a dieta mediterrânica toda excepto o peixe. Terceira surpresa: temos imensos produtos, mas ninguém vem cá comprá-los! Então incorporámos uma terceira função, que foi a distribuição.
Depois da Holanda, comecei a distribuir para todo o país. Não havia lojas biológicas, havia a Biocoop, que foi o meu primeiro cliente, mas depois ia por mercearias e mais tarde entrámos na distribuição alimentar por grosso. Comecei a trabalhar com o Pingo Doce quando tinham umas 12 lojas. E trabalhei com eles até terem 150 lojas, portanto veja a evolução que isto teve.
Mas acabou por criar a sua própria loja.
A distribuição por grosso não era suficiente. Andámos sempre a sobreviver, abaixo do limiar do positivo económico. Abrimos uma loja no Freixo. Não funcionou. Fomos para Montemor. Abri um talho e uma loja de produtos biológicos no mercado. Não tínhamos clientes suficientes, fechámos. Abrimos em Évora, dois anos, não tínhamos clientes suficientes, fechámos. E finalmente, viemos para Lisboa. Foi a nossa salvação.
Entretanto, criámos os serviços turístico-didácticos, começámos a abrir o Freixo, a fazer eventos. Percebi que não havia clientes, que não havia consciência, porque não havia informação. Se nós não informamos o cidadão, as pessoas não compram.
Em 2008 há uma crise enorme, os factores de produção aumentam muito e a minha família diz-me que andamos há anos a investir nisto, nunca tivemos rentabilidade, não conseguimos pagar as contas, e que tenho de adoptar uma estratégia agrícola mais convencional. Eu disse que não era capaz. Com aquilo em que acredito, ou não faço nada ou faço desta forma. E continuo o meu caminho [separado da família].
No Freixo, fomos criando a evidência de que este projecto é para todos. A única coisa que quero é o meu posto de trabalho. A terra, tenho muitas dúvidas de que a passe directamente para os meus filhos. Neste país, a maior parte das pessoas não sente responsabilidade quando herda. Na Dinamarca, o filho de um agricultor tem prioridade mas tem de demonstrar que tem capacidade.
E, porque precisamos de homens no ecossistema, criei um projecto de microempresas que neste momento tem oito microprojectos estabelecidos no Freixo, com famílias a viver e a produzir.
Estou cada vez mais convencido de que um dos papéis mais dignos do homem é a capacidade de entendermos o funcionamento do que está à nossa volta. Temos essa capacidade por termos a ligação com o material e o espiritual. Quando percebemos o funcionamento da natureza, somos capazes de verdadeiramente criar édenes.
Sente-se a pregar no deserto? Quantas pessoas estariam dispostas a passar pelo que passou, a fazer esse percurso?
Não sou um caso isolado. O que fizemos no Freixo pode aplicar-se a outras realidades. Hoje há imenso interesse em dizer que este tipo de agricultura nunca vai alimentar os nove mil milhões que vamos ser dentro de pouco tempo. É preciso ir investigar, temos imensas coisas para descobrir na ecologia, temos meio bilião de espécies de fungos das quais nem o nome sabemos, quanto mais as suas funções. Demos saltos tecnológicos brutais e não sabemos o bê-á-bá do funcionamento da nossa terra.
Não ando a pregar, falo quando me pedem. Acho que tenho obrigação de falar gratuitamente, numa lógica de partilha. Porque fui inspirado por outros e estou absolutamente convencido de que as coisas funcionam bem numa lógica de cooperação competitiva, como existe na natureza. Só acredito em responsabilidade colectiva com base em responsabilidades individuais. Tenho a noção de que a única coisa que levo é a satisfação com o trabalho que faço. Mas ganho muito mais a fazer a minha realidade cooperando com os outros.