Moção de rejeição é um acto de “desistência” e “lamentação”, diz Bloco

Pedro Filipe Soares avisa PS de que o acordo “deve ser materializado rapidamente” e que é preciso “aprofundar a dimensão programática” e que “há ainda muito por onde o fazer”.

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Enric Vives-Rubio

Agora que o Governo do PS está em plenitude de funções tendo em conta o chumbo da moção de rejeição de PSD e CDS, o Bloco de Esquerda avisa o PS de que o acordo que os dois partidos assinaram “deve ser materializado rapidamente” e que é preciso “aprofundar a dimensão programática” e que “há ainda muito por onde o fazer”.

O líder parlamentar bloquista defendeu que nesta nova fase da vida política que tem no compromisso o seu “principal alicerce”, o acordo com o PS é a “garantia que se vira a página ao ciclo do empobrecimento e deve ser materializado rapidamente”. “Esse é o compromisso e a vontade do Bloco de Esquerda”, reiterou Pedro Filipe Soares, acrescentando que “o arco da Constituição tem rapidamente de se sentir na vida concreta das pessoas”.

O dirigente bloquista lembrou que o “caminho já está iniciado”, dando como exemplo propostas que o programa de Governo já prevê como a reposição dos rendimentos e salários, descongelamento de pensões, defesa das famílias, mais justiça social. “Temos de aprofundar a dimensão programática do acordo. Há ainda muito por onde o fazer”, afiançou, enumerando a elaboração de um plano nacional contra a precariedade, o debate sobre a estrutura da protecção social e o combate à pobreza, ou o grupo de trabalho sobre os custos energéticos.

Garantindo que o Bloco não varrerá para “debaixo do tapete as matérias difíceis” por saber que elas “não desaparecem dessa forma”. Entre elas estão a sustentabilidade da dívida externa, sobre a qual BE e PS vão “trocar pontos de vista” e “chegar a compromissos para resolver” o problema. “É essa a regra deste novo ciclo político”, em que o Parlamento “deixará de ser uma caixa de ressonância do Governo, como aconteceu durante quatro anos”, prometeu o deputado.

Pedro Filipe Soares considera que PSD e CDS apresentaram a moção de rejeição do programa socialista não por convicção mas por “conveniência” por quererem “clarificar a posição do PS, Bloco, PCP e PEV”. E acrescenta que se tratou de uma “moção de lamentação”, cheia de “amargura”, que acabou por ser um “acto de desistência” da direita e não um acto de afirmação, como o foi a moção da esquerda que no dia 10 de Novembro deitou abaixo o Governo de Pedro Passos Coelho.

“Não precisam de se irritar com os resultados eleitorais, eles fazem parte da democracia”, disse Pedro Filipe Soares no seu discurso de encerramento do debate do programa, durante o qual usou de uma boa dose de ironia. “E não adianta torturarem os números: 122 será sempre maior do que 107! Se se transformarem numa minoria ressentida, ninguém vos compreenderá.”

Pegando numa piada que Paulo Portas fez de manhã sobre os best friends forever (os melhores amigos para sempre) em que se tornaram Costa, Jerónimo, Catarina e Heloísa, o líder da bancada bloquista citou o “ex-vice-irrevogável” para dizer que depois de quatro anos em que a relação entre PSD e CDS foi “complicada”, os dois partidos foram “desamigados pela larga maioria dos eleitores e ainda não se conformaram”.

Pedro Filipe Soares ainda citou Francisco Sá Carneiro – “a maioria mudou pacífica, legal e honestamente pelo voto. E as maiorias de ontem, que são as minorias de hoje, aceitaram sem violência o juízo do país” - e Adelino Amaro da Costa – “os moderados servem-se da mudança para evitar a ruptura” – para dizer como estão diferentes hoje PSD e CDS. “O desespero e o queixume da direita serão o seu próprio purgatório ao longo da legislatura. Quem não aprende com a história, acaba por passar à história!” 

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