Emergência médica: uma prioridade para os cidadãos

Antes de tentar melhorar o INEM, vamos ter a certeza de que não pioramos ou pomos em causa o que funciona bem.

Qualquer governo de qualquer força política na União Europeia pretende oferecer “saúde” de boa qualidade aos seus cidadãos e ao menor custo possível. Portugal não é exceção e com a situação de constrangimento económico mais necessário se torna gerir com cuidado o dinheiro público. Como dizia Margareth Thatcher, ex-primeira ministra do Reino Unido, “o Estado não tem dinheiro, o dinheiro público é retirado do bolso ou da mesa dos cidadãos”.

Há muitos anos que ouço a voz dos meus pacientes na consulta. A consulta médica é uma espécie de “oráculo”, mas diverge da descrição da mitologia grega. Aqui a componente mais importante é o que o cidadão traz de informação pessoal, da sua história, dos seus anseios, da sua vida quotidiana.

Há anos que estudo os temas da saúde e aprendo em colóquios e congressos. Combinando os conhecimentos com as aspirações dos utentes surge uma visão sobre várias pretensões. Mais uma vez esta semana um dos meus doentes, pessoa lúcida e de cultura média, me disse: “o mais importante para mim é que numa situação de urgência, de doença ou de acidente, exista um serviço de emergência rápido e eficaz. Em Portugal este serviço tem sido prestado pelo INEM. Todos conhecem o INEM e sabem de cor o número 112.  Este serviço tornou-se imprescindível na cabeça das pessoas.

O INEM, organismo do Ministério da Saúde, é responsável por coordenar em Portugal continental o Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM). Por sua vez, o SIEM tem um conjunto de entidades que cooperam com o objetivo de prestar assistência às vitimas de acidentes ou doença súbita, que incluem a PSP, GNR, bombeiros, Cruz Vermelha, hospitais e centros de saúde. O que o cidadão retém e conhece, no entanto, é o INEM.

Quanto mais rápida e competente for a assistência de emergência pré-hospitalar maiores são as possibilidades de sobrevivência a um traumatismo ou doença súbita como infarto do miocárdio ou AVC. Foi o Dr. Adams Cowly que utilizou pela primeira vez o termo “golden hour”, dizendo que há uma “hora dourada” entre a vida e a morte.

Assim essa primeira hora permite, com uma assistência eficaz, a sobrevivência ou evitar lesões para o resto da vida. Apesar de esta relação não estar devidamente demonstrada sob o ponto de vista científico, continua a ser usada e serve para alertar as pessoas para o socorro rápido.

Os meios acionados dependem da situação triada pelo INEM, que após o socorro indicará o procedimento, sendo muitas vezes a estabilização do doente e o transporte para um serviço de urgência hospitalar. Assim, o meu doente, para além do INEM exige serviços de urgência hospitalar eficazes e sem demora.

Em Portugal o INEM é público, mas há países em que é privado ou pertence a uma associação ou fundação. Há outros sistemas e há sistemas transfronteiriços como o ARIEM 112 a ser implementado no norte de Portugal, Galiza e Castela e Leão. O projeto transfronteiriço visa a partilha e gestão dos serviços de emergência com conjugação de efetivos devidamente equipados, helicópteros medicalizados, veículos contra incêndio e salvamento.

Na Galiza as Urxencias Sanitarias têm o número 061 e são uma fundação pública que além de serviços urgentes coordena o transporte interhospitalar, consulta médica telefónica e dispositivos de prevenção em eventos.

Se olharmos para o que se passa a nível europeu, verificamos que neste ponto há diversos e diferentes sistemas em diversos países, mas há uma filosofia comum quanto à prestação de serviços de emergência médica. Há diferenças no financiamento não só entre os estados, mas inclusive dentro do mesmo país.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) para a Europa está a patrocinar e a ajudar os estados membros a desenvolver iniciativas para coordenar serviços efetivos e mais codificados em toda a Europa. A recomendação do projeto da OMS é a de se focar no treino e qualificação dos profissionais e na estandardização dos equipamentos e procedimentos.

Este sistema de emergência que dá segurança e tranquilidade aos cidadãos do país tornou-se também muito importante para os turistas, portugueses e estrangeiros, e ainda residentes e expatriados sendo fundamental para um país se promover como destino turístico de qualidade

Primum non nocere. A frase em latim significa “primeiro, não prejudicar” e é atribuída a Hipócrates, o pai da medicina. Hipócrates defendia o princípio da não maleficência na medicina, ou seja, antes de tentar fazer o bem o médico deve evitar fazer o mal, isto é, assegurar-se de que não vai pôr em causa o que está bem. O mesmo princípio se aplica ao INEM, que oferece um serviço imprescindível aos cidadãos. Antes de tentar melhorá-lo, vamos ter a certeza de que não pioramos ou pomos em causa o que funciona bem.

Cirurgião Cardiovascular
 

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