NATO apoia Turquia no abate de caça russo, mas insiste no apaziguamento
Vladimir Putin disse esperar um pedido de desculpas de Ancara, mas primeiro-ministro turco recusa-se a fazê-lo. O corpo do piloto morto por rebeldes sírios chegou a Moscovo.
A NATO alinhou nesta segunda-feira com a justificação dada pela Turquia para ter abatido um caça russo na fronteira com a Síria e sublinhou que o país-membro “tem o direito de se defender e ao seu espaço aéreo”. Disse-o em Bruxelas Jens Stoltenberg, o secretário-geral da Aliança Atlântica, ao lado do primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu. É, até ao momento, a maior manifestação de apoio a Ancara desde o incidente.
Turquia e Rússia têm versões diferentes sobre o que aconteceu antes do caça SU-24 ter sido abatido, há uma semana. Ancara diz que o avião russo invadiu o seu espaço aéreo – ainda que por apenas 17 segundos –, que não obedeceu aos avisos para mudar de rota e que por isso foi abatido. Moscovo afirma que os seus homens nunca saíram da Síria e que não houve qualquer alerta à aeronave.
Os dois tripulantes ejectaram-se, mas só um foi resgatado com vida pelo exército sírio. O piloto, Oleg Peshkov, morreu às mãos de um grupo rebelde sírio de origem turca, abatido ainda no ar, enquanto descia de pára-quedas. O seu corpo viajou nesta segunda-feira de Ancara para Moscovo, onde foi recebido com honras militares pelo ministro russo da Defesa. Também a Turquia fez uma cerimónia militar fúnebre antes da viagem, na presença do embaixador russo em Ancara.
Vladimir Putin, o Presidente russo, afirmou pouco depois do incidente que a acção da Turquia foi “uma facada nas costas” e disse estar à espera de um pedido de desculpas formal. A julgar pelas declarações desta segunda-feira de Davutoglu, isso não acontecerá. “O nosso exército fez o seu trabalho e protegeu a fronteira”, disse o primeiro-ministro turco. “É mais do que uma questão de dignidade”, prosseguiu. “Nenhum país pode pedir que nos desculpemos porque estávamos a fazer o nosso trabalho.”
Jens Stoltenberg foi mais prudente. Sublinhou que a prioridade é o caminho de apaziguamento entre Turquia e Rússia e sugeriu retomar o documento de Viena, um acordo da época da Guerra Fria que impõe regras sobre exercícios e actividades militares entre exércitos da aliança e a Rússia. Implica também a existência de linhas de contacto de emergência entre as duas forças. “Tem de ser modernizado”, reconhece o secretário-geral da NATO.
Queixas gregas
Turquia e Rússia continuam de costas voltadas. Putin recusou encontrar-se nesta segunda-feira com o Presidente turco à margem da Cimeira do Clima de Paris, apesar da insistência de Recep Tayyip Erdogan. Em Bruxelas, Davutoglu pediu que o Kremlin repense a decisão de impor sanções à Turquia. Até porque, afirmou, o seu país foi sempre contra as punições a Moscovo depois da ter anexado a Crimeia e de se ter envolvido militarmente no Leste da Ucrânia.
O abate do caça russo não é um tema pacífico no interior da NATO. O primeiro-ministro grego acusou no domingo o seu homólogo turco de ser o responsável pela situação “escandalosa e inacreditável” que se vive no mar Egeu, dadas as sucessivas violações do espaço aéreo grego por caças da Turquia – 2244 vezes em 2014, segundo os últimos dados do Exército grego. “Felizmente os nossos pilotos não são tão temperamentais como os vossos contra os russos”, disse Alexis Tsipras numa de quatro publicações no Twitter dirigidas a Ahmet Davutoglu.
Tsipras attacks Turkey on Twitter over airspace violations, deletes English version of the tweets, Davutoglu replies pic.twitter.com/OMZQjb53Vn
— Yannis Koutsomitis (@YanniKouts) November 29, 2015
Tsipras apagou mais tarde as publicações da sua conta em língua inglesa, mas não fez o mesmo na sua conta em grego. “Gastamos milhares de milhões em armas. Vocês, para violar o nosso espaço aéreo; nós, para vos interceptar”, prosseguiu o primeiro-ministro grego. “Temos os modelos mais modernos de armas aéreas e, ainda assim, no solo, não conseguimos apanhar traficantes que afogam pessoas inocentes”, concluiu Tsipras, apenas horas depois de se ter encontrado, sorridente, com Davutoglu em Bruxelas. Os dois e outros líderes da União Europeia acertaram um programa de ajudas à Turquia a troco de esta se comprometer a controlar melhor a saída de refugiados para a Europa.
Davutoglu respondeu-lhe com isso mesmo. “Os comentário sobre pilotos de Alexis Tsipras dificilmente estão no espírito do dia. Alexis: vamos concentrar-nos na nossa agenda positiva”, escreveu o primeiro-ministro turco, também no Twitter. “Estamos no mesmo barco e temos que falar honestamente de maneira a chegar a soluções”, declarou por fim Tsipras, naquela que foi a sua última mensagem sobre o assunto.