China
Quando um filho único morre
A história de cinco casais, entre os milhares na China, que perderam o único filho que o governo permitiu.
A China é o país mais populoso do mundo, com cerca de 1,4 mil milhões de pessoas. A política do filho único, implementada em 1979, evitou 400 milhões de nascimentos em 35 anos. Em Outubro de 2015, foi anunciado o fim desta lei, de modo a travar o envelhecimento excessivo da população chinesa. Actualmente, um casal já pode ter dois filhos, mas há milhares de famílias que perderam o único filho que o governo lhes permitiu ter.
Fan Guohui e Zheng Qing, ambos com 56 anos, perderam o filho em 2012, num acidente de carro. Fan Lifeng tinha 28 anos. Zheng ficou devastada quando ouviu a notícia de que a China ia abolir a política do filho único. Queria ter tido mais um filho, mas agora já não vai a tempo. Na altura, sentia que seguir a lei era uma honra, mas de nada lhe serviu hoje. "As famílias com um filho único estão a andar na corda bamba", disse Fan. "Uma vez que se perde o filho, perde-se toda a esperança". Guohi fez uma petição ao governo para dar aos pais "Shidu " (aqueles que perderam o único filho) tanto apoio psicológico como financeiro. Segundo Zheng, a morte do filho deixou o casal "emocionalmente arruinado".
Jiang Weimao, com 60 anos, e a mulher Zhang Yinxiu, com 53, recordam o slogan da propaganda nos anos 80 - "Ter apenas um filho é bom, o Estado irá cuidar dos idosos". O casal trabalhava na mesma fábrica de vidro e quando Zhang Yinxiu engravidou pela segunda vez, decidiu abortar, para não perder o emprego. O único filho, Jiang Tingyi, nasceu em 1984 e morreu com problemas de saúde derivados da diabetes em 2010, com 26 anos. A luta do filho contra a doença deixou-os com uma dívida pesada. Reformados, vivem actualmente com os pais de Zhang e recebem uma pensão, que não chega para pagar as contas médicas da família.
Quando Cui Wenlan ficou ferida num acidente de carro, o primeiro hospital em que entrou negou-lhe a cirurgia por não ter um filho que assinasse a declaração da operação. O primeiro filho, Gao Zhiguo, morreu em 2014 com 30 anos e o segundo foi obrigada a abortar. Gao Zhao e Cui Wenlan, com 56 e 53 anos respectivamente, sentem-se abandonados num país onde tradicionalmente os filhos ajudam os pais na velhice. O casal recebe do governo de Zhangjiakou 680 yuans (cerca de 100 euros) por mês, um valor insuficiente para sustentar os seus gastos com a saúde.
Sun Huanping segura o "certificado de honra de filho único" de Li. No interior, lê-se o slogan: "Para a revolução, tem apenas um filho". Após o nascimento de Li, Sun não pensou mais em engravidar, para não desobedecer à lei do governo. O filho nasceu em 1987 e morreu em 2013 num acidente de carro. Desde então, Sun tem sofrido de depressão, pressão alta e diabetes. Aos 55 anos, vive às custas da sua pensão e do salário mensal do marido. Como não é suficiente para pagar as despesas médicas, recorrem muitas vezes ao dinheiro que tinham colocado de parte para o casamento do filho.
Na fábrica onde Huang Peiyao trabalhava, os inspectores vigiavam de perto a gravidez das mulheres. Ao engravidar pela segunda vez, Huang abortou. O único filho, Yu Jie, morreu com 26 anos num acidente de carro, em 2011. Huang adoptou uma menina para ajudar a ultrapassar o desgosto e encontrar um nova esperança. Com a adopção, o governo cortou-lhe o apoio financeiro. Com 54 anos e reformada, Huang tem vários trabalhos a tempo parcial para ajudar a criar a filha.