The Hateful Eight será o antepenúltimo filme de Tarantino
Polémico as usual, o cineasta norte-americano anunciou que acabará a carreira ao décimo título e atirou-se às canelas de Spike Lee.
Falta pouco mais de um mês para The Hateful Eight, o novo filme de Quentin Tarantino, chegar às salas de cinema norte-americanas (por cá, ainda não se sabe a data de estreia, mas deverá acontecer só em 2016). Depois da polémica nas últimas semanas, com a polícia de Nova Iorque a apelar ao boicote do filme, o realizador esteve a promovê-lo em São Paulo no início da semana e, segundo noticia o diário brasileiro O Globo, declarou que vai fazer apenas mais dois filmes antes de se retirar da realização. Talvez mais escandaloso ainda: acrescentou, em linguagem bastante gráfica, que nunca irá trabalhar com o realizador Spike Lee.
"The Hateful Eight é o meu oitavo filme. O próximo será o nono e o seguinte será o último. Tenho um sentido mitológico em relação a mim e à minha carreira", disse Tarantino, que depois de abandonar o trabalho de realizador vai dedicar-se à produção. Ao ser questionado sobre se alguma vez trabalharia com Spike Lee (desde a década de 1990 que existe uma rivalidade marcada entre os dois realizadores), Tarantino começou por dizer apenas que não. Depois, acrescentou que tem "mais dois filmes para realizar" e que não vai "gastar nenhum deles com esse filho da p*". "Ele ficaria muito feliz no dia em que eu aceitar trabalhar com ele. Mas isso não vai acontecer", disse ainda.
As declarações chegam depois de uma entrevista ao jornal espanhol El País, publicada esta semana, em que Tarantino falou sobre o "momento de mudança" e a transformação que o cinema está a atravessar, garantindo que não será "o velho do grupo". Na mesma entrevista, mostrou-se consciente da controvérsia em que o novo filme está envolto: sabe que “agrada a 50%” do público e que, entre os outros 50%, estão as feministas, que rejeitam um cinema feito marcadamente de personagens masculinas, e os polícias norte-americanos que têm vindo a apelar ao boicote do filme, depois de Tarantino lhes ter chamado assassinos. “Disse o que disse e tenho o direito de o dizer. Gosto de ser tachado como alguém que odeia a polícia quando sei que muitos são fãs? Não […]. Mas gosto de dar o meu apoio às famílias que perderam entes queridos em actos absurdos e totalitários”, defendeu-se.
Rodado em formato panorâmico, The Hateful Eight tem 182 minutos e é, tal como o seu antecessor Django Libertado (2012), um western. Mas o realizador, confesso apaixonado por Cavalgada Heróica (Stagecoach, 1939) de John Ford, não acredita que os mestres do género apreciassem o seu cinema: “John Ford odiaria os meus filmes. Muito sangrentos. Muitos palavrões”, disse ao mesmo jornal. A trama de The Hateful Eight desenvolve-se depois da Guerra Civil Americana (1861-1865) e acompanha um grupo de oito estranhos que ficam retidos numa loja no estado de Wyoming durante um nevão. Protagonizado por Samuel L. Jackson, Jennifer Jason Leigh e Kurt Russell, o filme reúne temas como a traição e a mentira, recorrentes no trabalho de Tarantino.
Apesar de considerar que não deve rotular-se a si mesmo, o realizador identifica características transversais à sua filmografia que neste filme voltam a marcar presença: “Sei que os meus filmes são como minerais em que se podem encontrar diferentes veios. Colecciono temas. Bons actores. Farsas onde nada é o que parece. Temas raciais. Esses veios estão em todos eles”, disse ao El País.
Quentin Tarantino afirmou-se na indústria com Cães Danados (Reservoir Dogs, 1992). Mais de 20 anos depois, diz desfrutar “de uma grandiosidade em todos os sentidos: orçamento, tempo de filmagem...”, mas o seu cinema e a maneira como o faz pouco mudaram: “O filme é muito similar. Tenho a certeza de que sou melhor realizador. Não me refiro a ser melhor autor, mas ao acto de dirigir. Sei o que faço."