Há mais duas barragens em risco de ceder no estado brasileiro de Minas Gerais
Governo local declara estado de emergência em 202 municípios. Lama contaminada vai chegar ao mar nos próximos dias.
O governo federal de Minas Gerais, no Brasil, decretou o estado de emergência em 202 municípios da região do Rio Doce afectados pelo recente colapso da barragem de Fundão, em Mariana. A empresa de exploração mineira Samarco, responsável pelas estruturas, admitiu que outras duas barragens na zona estão em risco de ceder.
O estado de emergência estará em vigor 180 dias e vem facilitar o acesso da população a recursos essenciais, acelerar os trabalhos de reconstrução nas cidades e as operações de emergência da Samarco no reforço de infra-estruturas em risco.
De acordo com a empresa, a barragem de Santarém, nas proximidades, não se rompeu no dia 5 de Novembro, como havia sido divulgado inicialmente, mas sofreu um “galgamento”, transbordando com os resíduos acumulados do Fundão. A estrutura sofreu uma erosão intensa e não oferece agora condições de segurança. O mesmo acontece com a barragem de Germano, onde, segundo o director de operações da Samarco, Kéber Terra, uma dos diques tem o índice de segurança mais baixo em todo o complexo.
O estado de emergência tinha sido solicitado pelo município de Mariana no passado dia 11 de Novembro, devido às consequências que o deslizamento de terras provocou em Bento Rodrigues. A região, a 2,5 quilómetros de distância da barragem, ficou praticamente soterrada - entre oito e dez pessoas morreram e 15 continuam desaparecidas.
Num comunicado emitido na terça-feira, a empresa de mineração liderada pela Vale e o grupo BHP assume os riscos e menciona os trabalhos que estão a ser feitos para evitar mais desastres. “Existe o risco de outros rompimentos, e para aumentar o factor de segurança e reduzir esse risco estamos a executar as acções emergenciais necessárias”, disse o director-geral de projectos da Samarco, Germano Lopes.
A mineradora enfrenta uma multa equivalente a 61 milhões de euros, imposta pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Os impactos ambientais da lama e dos resíduos que transporta constituem um perigo para a contaminação da foz do rio e do próprio mar, onde segundo o IBAMA a lama irá chegar nos próximos dias. Em causa está a sobrevivência de espécies de peixe na zona costeira, falta de água na região de Colatina, e danos nos reservatórios de fábricas hidroeléctricas, o que segundo a presidente do Instituto, Marilene Ramos, pode levar a novas multas, com valor máximo de cerca de um milhão de euros.
O fotógrafo Sebastião Salgado, fundador da ONG Instituto Terra, apresentou uma proposta ao Governo brasileiro para a revitalização do Vale do Rio Doce, destruído no desastre de 5 de Novembro. Natural de Minas Gerais, Salgado pretende levar a cabo um projecto que visa recuperar cerca de 300 nascentes do rio, o tratamento do esgoto e a captação do lixo acumulado em toda a bacia.
Texto editado por Ana Gomes Ferreira