Aumento de lista de utentes dificulta resposta nos centros de saúde

Alerta é feito pela Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiares, que está preocupada com o acesso dos utentes aos cuidados primários.

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Para a associação, 1700 utentes por médico é o limite máximo razoável Rui Gaudêncio

O presidente da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiares (USF-AN) considerou nesta quinta-feira que um aumento, ainda que voluntário, da lista de utentes atendidos nestes centros de saúde "não reúne condições técnicas para dar uma resposta com a acessibilidade e a qualidade devidas".

João Rodrigues, que falava a propósito do 4.º Encontro de Outono das USF que se realiza nesta sexta-feira, no Porto, defendeu que "não chega aumentar listas, tem de haver condições de trabalho, tem de haver rácios profissionais/utentes que sejam minimamente adequados à produção de uma acessibilidade diária e qualificada".

"Tudo o que passe de uma média de 1700 utentes, do nosso ponto de vista, é tecnicamente inadequado porque cria, obviamente, iniquidades, porque não cria acesso e não há resultados de qualidade, que é o que se pretende", sublinhou. As USF representam um novo modelo de centros de saúde, com um foco maior nos indicadores de saúde da população e no trabalho por objectivos.

O dirigente da associação referiu também que no encontro serão apresentadas duas novas funcionalidades do “projecto BI USF”, destinado a dotar as USF de um instrumento que as apoie e sustente no seu desenvolvimento. O objectivo é contribuir para que as USF tenham acesso a uma ferramenta para tornar mais fácil a investigação feita nas e pelas Unidades de Saúde familiares e a um outro instrumento destinado à "a melhoria contínua da qualidade organizacional e partilha de boas práticas".

O presidente da Comissão Organizadora e Científica do evento, José Luís Biscaia, explicou que o módulo de investigação vai estar disponível para todas as USF com profissionais dedicados a esta actividade. A primeira linha de investigação vai ser lançada sexta-feira e será a caracterização do risco cardiovascular na população portuguesa, que "além de ter todas as características epidemiológicas (hipertensão, diabetes ou outras), também vai caracterizar o perfil terapêutico, ou seja, o que é que as pessoas estão a fazer, o que é que os médicos prescrevem", referiu.

"É um estudo que vai ter com uma dimensão que hoje não há", sublinhou José Luís Biscaia, referindo que os resultados de 2015 deverão ser conhecidos no primeiro trimestre de 2016. "Amanhã [na sexta-feira] será feito o lançamento e depois a recolha de dados será feita com os dados de 2015. Além do estudo, a ideia essencial é ter uma ferramenta que de uma forma muito simples e acessível a todos permite desenvolver ou promover a investigação nos cuidados de saúde primários", acrescentou.

Esta ferramenta "não gera a investigação, propriamente dita, mas é um instrumento de muito fácil utilização por todas as USF", salientou. "Permite trabalhar os dados com mais facilidade, vai criar um repositório dos protocolos e resultados de investigação, que também não existe. As pessoas vão fazendo as suas coisas, boas ou más, mas nunca há partilha do que acontece. Com esta ferramenta é criada uma espécie de rede de investigação", frisou.

De acordo com José Luís Biscaia, "será, com certeza, o registo de melhor qualidade que existe em Portugal ao nível dos cuidados de saúde primários, é mais abrangente porque temos o registo de todos os problemas de saúde das pessoas e ao mesmo tempo permite-nos traçar o perfil terapêutico".

No encontro serão também debatidas as "ameaças e oportunidades" e "as medidas a tomar" referentes aos seguintes temas: Aplicação de incentivos institucionais, evolução para USF de modelo B, horários e registo biométrico de assiduidade e aumento de listas de utentes.