Cortado acesso automóvel à praia do Telheiro depois da destruição da arriba quaternária

Romper uma arriba fóssil, afinal, não é um acto que se possa ignorar, conclui o ICNF. Primeiro, o Ambiente considerou que os trabalhos não tinham “qualquer relevância”, agora mandou corrigir e minimiza os danos.

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Barreiras colocadas para impedir o acesso ao topo da arriba

Depois de mandar rasgar uma arriba quaternária na praia do Telheiro, a câmara de Vila do Bispo procura agora travar outros danos ambientais obrigada pelo Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF). No caminho, construído para facilitar o acesso à praia, foram colocados penedos de modo a impedir a circulação automóvel numa zona vulnerável e de elevado valor geológico, florístico e paisagístico. O acesso passa a ser apenas pedonal, num troço de 150 metros no final do percurso.

No final do Verão, sem a prévia autorização do ministério do Ambiente, o município abriu um acesso à praia do Telheiro até mesmo ao topo da arriba alegadamente para facilitar operações de socorro. A obra criou, assim, uma via aberta em zona protegida, num Geossítio conhecido internacionalmente pelas suas características únicas. As associações ambientalistas protestaram e a seguir a Inspecção-geral dos ministérios do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia e da Agricultura e do Mar (IGAMAOT) ordenou à câmara, como “medida preventiva”, a suspensão dos trabalhos. Na mesma ocasião, esta entidade informou o ICNF que tais acções poderiam “consubstanciar a violação dos planos especiais incidentes sobre a área”.

O geólogo Galopim de Carvalho, reagindo à intervenção, apelou à preservação do Geossítio: “Urge defendê-lo do camartelo do progresso, que o desinteresse, quase sempre, fruto da ignorância de quem decide, põe em risco”. Numa primeira reacção, o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) considerou que não tinham “qualquer relevância” os trabalhos realizados. Mais tarde mudaria de opinião. O cientista, publicamente referenciado como o “pai dos Dinossauros”, escreveu na sua página do Facebook que este património é “muito mais importante do que internacionalmente conhecido Siccar Poit, na Escócia” e que figura em tudo o que é manual de geologia por esse mundo fora.

As recentes chuvas, diz a guia da Natureza Carla Cabrita, “causaram já escorrência de terras e pedras da duna consolidada”. Entretanto o ICNF reavaliou o assunto e comunicou à câmara que as obras colocam em risco os valores naturais. Por conseguinte, sugeriu soluções técnicas minimizadoras dos estragos, que passam pela renaturalização com “acções de engenharia natural que permitam a redução da erosão e o restabelecimento do coberto vegetal”. Por outro lado, a câmara foi intimada para que proceda com urgência à delimitação do parque de estacionamento. Carla Cabrita, que desenvolve a sua actividade profissional promovendo os valores do património de Sagres, pede responsabilidades “Continua pendente a investigação da IGAMAOT à câmara pela falta de pedido de pareceres às entidades competentes”. Não basta, sublinha, colocar umas pedras no caminho: “É urgente avançar-se com a medida de renaturalização prevenindo danos futuros”

 

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