Há 149 mil famílias com o empréstimo da casa em incumprimento
Número de pessoas que deixaram vencer pagamento do crédito baixou pelo segundo trimestre consecutivo. Redução dos juros ajuda a “níveis de incumprimento contidos”.
O número de famílias que deixaram vencer o pagamento do empréstimo à habitação baixou pelo segundo trimestre consecutivo, depois de em Março ter atingido um pico máximo em seis anos. No final do terceiro trimestre, em Setembro, havia 149 mil famílias em incumprimento do crédito da casa, menos 2674 casos do que no final do trimestre anterior.
Das 2.292.924 famílias com empréstimos à habitação concedidos pela banca, 6,5% estão com o crédito vencido, mostram os dados actualizados nesta terça-feira pelo Banco de Portugal (BdP). Tal como o número absoluto de famílias em incumprimento, este rácio desceu pelo segundo trimestre consecutivo (no final de Junho estava nos 6,6%), mas continua no mesmo nível de há um ano atrás.
O número de famílias que deixaram de pagar a casa ao banco atingiu no final de Março os 154 mil, o valor mais alto desde o terceiro trimestre de 2009. Apesar de o valor ter baixado no final de Junho para 151,7 mil e, no trimestre terminado em Setembro, para 149 mil, há mais famílias em incumprimento do que quando se iniciou o ano.
Se o número de casos diminuiu ao longo do período compreendido entre Março e Setembro, o mesmo não aconteceu em relação à percentagem de empréstimos vencidos. Dos 104.388 milhões de euros registados no balanço dos bancos como empréstimos à habitação, 2,9% dizem respeito a situações em que os clientes não cumpriram ou não conseguiram cumprir os prazos de pagamento. Esta percentagem é igual ao valor registado no final do segundo trimestre, altura em que o rácio de crédito vencido tinha aumentado depois de um período em que se manteve nos 2,8% durante três trimestres.
Uma análise recente do gabinete de planeamento do Ministério das Finanças, assinada por Clara Synek, referia o aumento do peso dos empréstimos de cobrança duvidosa no segmento dos créditos à habitação, mas sublinhava os “níveis de incumprimento contidos”. Para isso, explica a economista, “tem contribuído o nível relativamente baixo das taxas de juro, que por sua vez tem permitido a redução da prestação mensal média nos contratos deste segmento”. No conjunto dos contratos, o valor médio da prestação vencida “fixou-se em 241 euros no conjunto dos nove primeiros meses de 2015, menos 52 euros face ao valor médio de 2009 (293 euros)”.
Quando se olha para todos os empréstimos às famílias – não apenas para os que se destinam à habitação, mas também para o crédito ao consumo e outros fins –, o rácio de crédito é mais alto, de 5,1%. O valor estabilizou face ao segundo trimestre, depois de uma trajectória ascendente. De 128.136 mil milhões de euros concedidos pelos bancos aos particulares, 6534 milhões correspondem a empréstimos vencidos.
Prioridade à casa
No caso do crédito ao consumo (23.748 milhões de euros), o rácio do crédito em incumprimento chega aos 14,8%. O valor fica uma décima abaixo da percentagem registada no final do segundo trimestre, em que este indicador, depois de sucessivos aumentos, atingiu um recorde histórico desde que há dados compilados pelo supervisor bancário (2009).
Aliás, os dados do banco central indiciam ao longo dos últimos anos que as famílias deixam, primeiro, de pagar os créditos ao consumo e outros fins, onde a percentagem de incumprimento são tradicionalmente mais altas.
A percentagem de famílias com crédito vencido no segmento ao consumo (onde se incluem, por exemplo, contratos para a compra de automóveis e electrodomésticos) é de 16,2% num universo de 3,5 milhões a quem foram concedidos empréstimos com este fim.
A análise do gabinete de estudos do Ministério das Finanças lembrava que o processo de desalavancagem do sector privado – de redução do endividamento – está em curso na maioria dos países europeus “mas o ajustamento feito está longe de estar terminado”. Em Portugal, “a desalavancagem do sector privado operada nos últimos anos deu-se sobretudo ao nível das famílias”. Começou “de forma gradual a partir de finais de 2009, situando-se no final do primeiro semestre de 2015 em 83% do PIB, o mais baixo desde finais de 2007, correspondendo a uma quebra de 13 pontos percentuais face ao máximo registado no terceiro trimestre de 2009 (96% do PIB)”.
Os números publicados pelo Banco de Portugal revelam ainda que os depósitos dos particulares estabilizaram entre Agosto e Setembro, passando de 136.759 milhões de euros para 136.884 milhões.